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PELADEIROS

Os peladeiros vão chegando. Ainda são poucos.
– Pouca gente pra caramba! Assim não vai ter pelada!
– É a chuva… só parou de chover agora! Eu quase que não venho também…
– Pô jogar com cinco de cada lado é um saco! O campo fica muito grande… tem que ter seis de cada lado!
– Ai, vamos chamar a Martinha. – Aponta para a moça que toma conta do barzinho que fica ali no campo de pelada. O outro peladeiro faz cara feia.
– Qual é o problema? Eu já vi ela jogar, ela joga bem.
– Eu não vou jogar com mulher não! É esquisito!
– Deixa de ser preconceituoso, cara!
Outro peladeiro faz uma proposta:
– Calma, galera, eu vou ali chamar o pipoqueiro!
O jogador se aproxima do pipoqueiro da esquina.
– Ai, tá a fim de jogar uma bolinha ali? É pra completar o time…
– Ih, rapaz, não vai dar não…
– Bora, vamos nessa… faz esse favor, senão talvez nem role a pelada
– Não é nem por causa do serviço, que hoje o movimento tá fraco… é que… eu não jogo muito bem…
– Não tem nada não… tem um monte de pereba ali… é só pra completar a pelada… é só uma brincadeira…
– Bom, se é só pra brincar… tudo bem…
O pipoqueiro fecha a sua máquina de pipoca e tira o avental.
O jogo começa. E rapidamente se percebe que o pipoqueiro realmente não joga nada. O jogador que o chamou para a pelada vai se irritando.
– Pô! Não consegue passar uma bola direito!
O pipoqueiro entrega uma bola para o adversário que faz o gol.
– Caraca! Tu entregou o gol! Tá de sacanagem?
– Mas eu avisei que não jogava nada!
O jogador não quer sabe, parte para cima do pipoqueiro.
– Eu não vou mais jogar! Estava fazendo um favor, pô!
Os outros peladeiros intercedem:
– Calma, não vai embora não, fica aí, vai desfalcar a pelada!
– É o cara não tem culpa de ser ruim!
– Tu fala isso porque ele não tá no seu time!
– Tá bom! O pipoqueiro grosso troca de time!
– Pô, pipoqueiro grosso é sacanagem! – Reclama o pipoqueiro grosso.
– Deixa de frescura, meu irmão, joga aí, fura as suas bolas aqui no meu time!
A pelada recomeça. Mas um dos jogadores está nervoso. Ele caça um adversário, entrando cada vez mais duro. Em um lance perto da área, leva um drible desconcertante e não titubeia, senta o sarrafo no adversário, que cai sentindo a perna.
– Pra que isso? Não é final de campeonato não!
– Pelada é pra macho!
– Tu tá maluco? Quase quebrou o cara!
– Entrei normal, o cara é que é frouxo!
– Pô, tu tá batendo no cara desde que a pelada começou!
– É, tá misturando a pelada com política!
– Não tem nada a ver! Não tô misturando nada!
– Todo mundo tá sabendo que você é Bolsonaro e ele é petista. Que vocês vivem discutindo.
– É isso mesmo! E você também é petista que eu sei! – O cara parte pra cima do outro e começa uma confusão que só acaba com o grito do contundido que continua estatelado no chão.
– Para com essa briga que eu quebrei a perna , pô!
Confusão geral, ninguém quer levar o cara para o hospital, até que alguém diz que chamou uma ambulância.
A ambulância chega. Os jogadores se aproximam do médico e ficam trocando umas ideias. O coitado com a perna quebrada continua lá, deitado no chão. Até que um dos peladeiros se aproxima dele.
– E aí, como é que tá isso aí?
– Pô, tá doendo pra cacete!
– Aí, você consegue aguentar essa dor aí?
– Até o hospital eu aguento, né?
– Não, eu estou dizendo, aguentar uma horinha aí… sabe o que é, é que o médico e o motorista da ambulância toparam completar a pelada no seu lugar e no lugar do pipoqueiro grosso! Guenta aí, só um pouquinho…

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CRÍTICOS DE CRÍTICOS

O Crítico em geral é um cara que adora dizer que bom mesmo não é o livro, filme, série, quadro, peça que todo mundo gostou, bom mesmo é outro que só ele conhece. Mas o cara que escreve críticas de cinema, teatro, programas de TV, séries, livros, manuais de instrução e bulas de remédios é um dos poucos caras que pode escrever o que quer porque não tem medo da crítica, ele só tem medo de ser odiado pelo autor criticado, ou talvez tenha medo de não ser odiado. Está faltando um crítico de críticos. A crítica do filme sai no jornal e no dia seguinte viria a crítica da crítica. Mas essa nova profissão tem que ser criada rápido, antes que os jornais e o cinema acabem.
Outro profissional que está faltando no mercado é o comentarista de comentaristas de futebol. A gente assiste ao jogo do nosso time, tendo que aguentar não só os erros do lateral esquerdo e as falhas do goleiro, mas também as bobagens absurdas que os comentaristas, que invariavelmente torcem para o time adversário, falam sobre o nosso time. Se assim que os comentaristas falassem as suas besteiras, o narrador chamasse o comentarista de comentaristas, talvez as transmissões melhorassem.
No futebol, também há necessidade urgente de um comentarista de comentaristas de arbitragens e, principalmente, de um VAR de VAR.

MAL SÚBITO

A cena do Eriksen, jogador dinamarquês, caindo em campo e recebendo massagem cardíaca com todo mundo assistindo foi muito chocante. Graças a Deus ele saiu vivo dali e perece que está bem.
Mas o que aconteceu com o Eriksen para ele desabar daquele jeito? Até agora a explicação foi que ele teve um mal súbito.
Mal súbito é uma explicação que sempre me intrigou. Não parece ser uma doença, soa mais como se o médico tivesse desistido de descobrir o que aconteceu e pra dizer alguma coisa mandasse o tal do “mal súbito”. Seria a mesma coisa de dizer que o sujeito caiu duro de… “Não sei o que”. O que ele teve? Não temos a menor ideia. Aconteceu uma parada estranha pra caramba e ele babau! Quer dizer: Mal súbito.
Mas será que, assim como existe o mal súbito, existe também o bem súbito? O cara está com o coração todo entupido e, de repente, acontece um bem súbito que limpa suas artérias! O cara não tem talento para nada, de repente sofre um bem súbito e ele sai tocando violão e compondo sucessos incríveis! O cara é um presidente negacionista, que gosta de cloroquina e de botar fogo em floresta, de repente, do nada, ele tem um bem súbito e … Não, é melhor não contar com isso.

ENFIA ESSA BANDEIRA…

Se já é difícil entender o que leva uma pessoa a ser juiz de futebol, imagina o cara que está lá só para auxiliá-lo? O bandeirinha é aquele sujeito que entra em campo com uma bandeirinha na mão para fazer cumprir a lei mais difícil de se fiscalizar do mundo: a lei do impedimento.
Para conseguir acertar todas as marcações de impedimento , o bandeirinha precisaria ter , além da bandeira, um olho biônico, que conseguisse ver dois pontos ao mesmo tempo, o que os humanos ainda não conseguem. Nunca na história um bandeirinha acertou 100% de suas marcações. Quando ele acerta metade das marcações de impedimento em um jogo, já dá para se considerar que ele fez um bom trabalho. Já pensou, o engenheiro acertando só metade das obras? O médico acertando metade das operações?
E agora, com o surgimento do VAR, a situação do bandeirinha piorou. Até os 50% que ele achava que tinha acertado ficaram sub-judice, esperando a opinião do VAR.
O bandeirinha tem que decidir em uma fração de segundo se, ao traçar uma linha imaginária paralela a linha de fundo, o corpo do atacante, ou apenas um pedaço da perna ou um fio de cabelo ou o pênis ereto estava dois centímetros na frente do corpo de um defensor ou não. Já o VAR tem vídeo tape, cinco ângulos diferentes, computador congelando a imagem e traçando um monte de linhas, linha azul, linha vermelha, linha amarela e o escambau. E só então, depois de mais de cinco minutos, o VAR dá o seu veredito: O bandeirinha errou!
E então a galera grita:
– Tá vendo? Bandeirinha burro! Ladrão! Comprado! Mercenário! Enfia essa bandeira no rabo!
E aqui reside outra questão complicada para o coitado do bandeira: quando a torcida irritada com o árbitro, manda ele enfiar algo numa área recôndita de sua anatomia, é o apito que ela quer que ele use. Já o bandeirinha não, ele tem que encarar a bandeira, que convenhamos, deve doer bem mais que um pequeno apito.

AUTOAJUDA NO FUTEBOL

Os jogadores de futebol andam estressados.
A situação do time era tão ruim que quando um jogador fazia um gol, no replay ele chutava pra fora. Com a queda iminente para a segunda divisão , o time quase surtou. Depois de tentar todas as mandingas, apelar pra macumba, apelar pro papa e pros espíritos, a diretoria achou que o time precisava de uma terapia. Foi chamado um psicólogo, Depois de examinar o time, o psicólogo deu o seu veredito:
– Eu não consigo curar esse time sozinho. Tem que chamar mais psicólogos.
– Nossa, o caso é mesmo grave. Quantos psicólogos precisa?
– Dez psicólogos pra linha e um psicanalista pro gol. Com esse time que tá aí não dá!

Os jogadores de futebol estão intranquilos.
Um time que estava quase caindo para a terceira divisão, contratou um coach para ajudar o seu centroavante, que não fazia um gol há dois anos. No primeiro encontro, o coach falou:
“Você não é um pereba se você não se achar um pereba. Todo o problema está na sua cabeça, por isso você não consegue acertar nenhuma cabeçada. Você precisa ter mais confiança em você mesmo para fazer gols. Chute a bola numa rede várias vezes ao dia, assim você vai se acostumar com o ato de fazer gols. Se você não consegue chutar a bola na rede do adversário, comece a chutar a bola pra dentro do seu próprio gol, assim você ganha autoconfiança. Se os seus companheiros de time vierem lhe encher de porrada porque você fez gol contra, não se preocupe: a cor roxa é uma cor que traz muita sorte.”

Os jogadores de futebol andam encucados.
O goleiro Wellerson de Oliveira, foi auto ajudado pela autoajuda. Vejam seu depoimento impressionante:
“Eu era um goleiro que não agarrava nenhuma bola rasteira. Em compensação as bolas pelo alto eu deixava passar todas e cheguei a botar pra dentro do gol bolas que iam pra fora. Um dia eu comprei o livro de auto-ajuda Força para frangar, de Paulo Joelho e minha vida mudou. Hoje sou um homem feliz. Continuo frangando por cima, por baixo, pelo lado, por trás e pela frente , mas hoje eu posso dizer que nada disso é em vão. Hoje eu sou um homem que tem uma meta! Inclusive, atualmente ela é a mais vazada do campeonato.”

Os jogadores estão mesmo precisando de ajuda.
Percebendo um novo filão, diversos psicólogos lançaram livros de auto-ajuda para jogadores de futebol. Não perca mais tempo, se você é boleiro e está passando por uma crise , preencha um cheque de r$1.000 e deposite em sua própria conta para já começar a se auto-ajudar. Depois compre um desses novos lançamentos de livros auto-ajudantes:
– A cura através da terapia das bolas passadas
– Eu estou rebaixado, você está rebaixado? – do mesmo autor de Eu estou OK, você está OK?.
– Como ser feliz mesmo entregando o ouro aos 44 minutos do segundo-tempo.
– Como ter o pensamento positivo mesmo com o saldo de gols negativo.
– O poder milagroso do passe certo.
– Só é rebaixado quem quer.
– Como fazer amigos , influenciar pessoas , emagrecer, ficar rico, ser feliz, ser bom pai, ser bom filho , comer todas as mulheres do mundo e ainda conseguir acertar um passe, sem fazer força.
– O terceiro olho, a terceira visão e a segunda di-visão.
E o lançamento especial para cartolas:
Como ser mau-caráter, escroto e safado sem deixar de ser gente boa.

VAR tomar no…

O VAR deu certo? Mais ou menos. Se a ideia era acabar com a discussão, não rolou. A discussão só mudou, quem é que concorda com o VAR quando ele dedura que o atacante do seu time estava impedido quando fez o gol? Quem gosta quando o VAR descobre que o seu zagueiro tocou com a mão dentro da área? O VAR, assim como o juiz, está sempre errado nas marcações contra o time da gente.
Uma das principais mudanças que o VAR trouxe foi aumentar o tempo das partidas. Agora é normal o jogo ir até 51 ou 52 minutos , e quando o acréscimo é só de 2 minutos, todo mundo reclama.
Uma vantagem do advento do VAR é o tempo que a gente tem agora para fazer outras coisas durante a partida. Quando o lance vai para o VAR, é a hora de ir ao banheiro, ou dar aquele telefonema que a gente estava precisando. Outro dia a decisão do juiz demorou tanto, ele viu tantas vezes aquele replay, que eu consegui cancelar um telefone da OI, e ainda voltei a tempo de ver o restante da partida sem perder nada. Aliás, os juízes estão gostando de fazer aquele gesto indicando que viram o lance na tela, reparem na maneira teatral que eles usam para anunciar o veredicto, como são dramáticos ao apontar para a marca do pênalti depois de assistir trocentas vezes o lance. Parece que já tem até cursos de teatro anunciando turmas especiais para juízes.
E o VAR consagrou o impedimento por milímetros. Hoje em dia é fundamental que o jogador corte as unhas antes de cada partida para evitar o impedimento por uma unha! E já tem jogador usando chuteira verde para tentar confundir com a cor da grama e enganar o VAR. Atacante de pau grande corre o risco de estar sempre impedido.
E todo mundo fica intrigado com a quantidade de gente que fica lá na cabine do VAR. Dizem que a conversa ali é muito boa, tanto que volta e meia o juiz para o jogo para falar com a galera da cabine. Muitas vezes ele só quer escutar a piada que os caras contaram e ele não ouviu. E vocês já repararam que aquelas linhas vermelhas e azuis que a galera do VAR traça para definir o impedimento as vezes estão completamente tortas? Deve rolar um goró ali na cabine. E uns petiscos, que ninguém é de ferro.
Mas a boa notícia é que parece que o VAR veio para ficar. Ou talvez seja uma má notícia. Não sei, vamos esperar a decisão do VAR.