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MEMÓRIAS : FAMOSOS NO CASSETA & PLANETA

Foram muitos os convidados que foram ao nosso programa. Mas é claro que alguns convidados chamaram mais atenção, ou porque eram muito famosos, ou porque era inusitado aparecerem em um programa de humor, ou porque fizeram algum quadro muito diferente. Toda vez que se sabia que algum convidado iria ao Projac gravar com agente, já havia uma mobilização de gente para ver a gravação. Apareciam pessoas de outras produções para assistir a gravação, o próprio pessoal da produção levava gente para ver e muitas vezes, nós mesmos levávamos algum conhecido que queria muito ver o famoso.
Dos convidados muito famosos, acho que o Pelé foi o que angariou mais expectadores extras. A gravação, mesmo dentro do Projac, foi complicada tal a quantidade de gente que queria ver o Rei. E o Pelé gravou super bem os quadros que escrevemos para ele, como se estivesse em casa. O Edson também se mostrou bem a vontade.
A Xuxa também causou alvoroço, estava no auge do sucesso quando foi ao programa. Uma criançada apareceu do nada para ver as gravações.
Sandy e Junior gravaram várias vezes com a gente. Sempre com muita gente presente para ver a dupla.
Os pais deles, Chitãozinho e Xororó também gravaram com a gente.
Alguns convidados foram mais de uma vez ao programa, como Romário, Ronaldo Fenômeno, Ivete Sangalo, Zezé de Camargo e Luciano, Bruno e Marrone, Regina Casé, Zeca Pagodinho, Xuxa, Luciano Huck, Angelica… A lista é grande.
Fernanda Montenegro nos deu a honra de ir ao programa e foi hilário.


Da música, recebemos do rock ao sertanejo, da MPB e do pop à música brega: Caetano, Rita Lee, Skank, Raimundos, Charlie Brown Jr, J.Quest, Lulu Santos, Reginaldo Rossi, É o Tchan, Bruno e Marrone, Zezé diCamargo e Luciano, Leonardo, Daniel…
Quando a gente entrou na TV, no TV Pirata, arrumamos uma treta com o Chico Anysio. Anos depois, Chico Anysio foi ao programa e desfizemos quaisquer rusgas que tínhamos, foi muito bom.
Outro cara que teve problemas com a gente, o Rubinho Barrichello também acabou indo ao programa e a gravação se deu num clima super tranquilo. Ele foi super simpático. Acho que depois ele esqueceu disso, porque voltou a falar mal da gente.
Praticamente todo mundo que fazia sucesso acabava batendo o ponto no programa. Alguns que apareceram por lá eu nem sei onde foram parar. Lembram de Mauricio Manieri, Karametade, Rodrigo Dourado do BBB, Pepe e Neném?
Alguns convidados foram completamente inusitados, como o economista Armínio Fraga que topou fazer um motorista de táxi.
Alguns famosos nós gostaríamos muito de ter levado ao programa, mas não conseguimos. Um deles foi o Guga, o tenista, que nunca topou ir. E o outro que sempre quisemos que fosse, mas não conseguimos levar foi o rei Roberto Carlos. Fizemos várias investidas, mas ele sempre foi arisco. Me lembro de ter ido a um show do rei com o Helio para convidar ele para o programa. Depois do show fomos ao camarim falar com o rei, que nos recebeu super bem, gostou do convite e garantiu que ia no programa. Mas não rolou. Teve um momento que achamos que ele ia, chegamos a escrever o texto para a participação dele no programa, mas ele acabou desmarcando.
As vezes a gente escrevia quadros especiais para os convidados, mas outras a gente fazia algum episódio de algum personagem com a participação do famoso. Foi assim com Acarajette Lovve, que recebeu Ivete, Claudia Leitte, Daniela Mercury e até a Joelma da Banda Calipso.
O Tabajara Futebol Clube também recebeu vários convidados, desde Romário e Ronaldinho, até Vanderley Luxemburo e Joel Santana.
Mas a maior participação por metro quadrado de famosos no programa, se deu na campanha do Pum, mais de vinte celebridades foram ao Projac para cantar com a gente o jingle da campanha, cujo refrão dizia:
Não solte pum no elevador
O ar eu eu respiro
Não pode ter nenhum fedor.
Sem falar dos convidados internacionais, mas isso é assunto para outro post.

MEMÓRIAS: FUCKER & SUCKER, UMA DUPLA DE DOIS TIRAS

A polícia brasileira e seus métodos heterodoxos sempre foi tema para o Casseta & Planeta. Fizemos dezenas de quadros sobre esse assunto, principalmente por sermos cariocas e o Rio de Janeiro ser uma das cidades mais violentas do país, ou pelo menos, a cidade onde as tragédias policiais mais repercutem país a fora.
A ideia do quadro era confrontar dois policiais americanos, supostamente honestos e cumpridores de seus deveres, com um policial brasileiro totalmente corrupto. Os dois “tiras” vêm fazer um intercâmbio no Brasil e caem justamente numa delegacia ultra-corrupta comandada pelo personagem do delegado.
O nome completo da série era “Fucker & Sucker – uma dupla de dois tiras (A pair of two double cops)”, uma brincadeira com as antigas séries de policiais americanos. Os nomes dos atores que faziam Fucker e Sucker também eram fictícios – Johny de Bruce e Chuck Smegman. A piada começava no nome dos policiais gringos: Fucker e Sucker. A segunda piada era que eles eram dublados. Coube ao Hubert e ao Reinaldo essa moleza, um papel em que não precisavam decorar nenhuma fala. Já o papel que tinha falas para decorar era meu, o delegado corrupto, que falava bastante. Aliás, esse personagem nem nome tinha, ele era conhecido apenas como “delegado”, e eu sempre gostei muito de interpretá-lo. Na época eu inclusive sabia que o Fucker era o Hubert e o Sucker era o Reinaldo. Ou seria ao contrário?
Um dos destaques desse quadro eram as dublagens de Fucker e Sucker que eram feitas por dois craques das dublagens: o Marcio Simões, que fez o Gênio de Aladim, dublava o Fucker; e o Mauro Ramos, que fez o Pumba de Rei Leão, fazia o Sucker. Ou seria ao contrário?
As dublagens muitas vezes eram feitas na própria gravação do quadro, quando os dois geniais dubladores, ficavam do lado de fora da cena, dando as falas , enquanto o Reinaldo e o Hubert apenas mexiam a boca. Já eu tinha que decorar mesmo as falas. “Oh, fezes!” – como diria Fucker. Ou seria Sucker?
A série fez muito sucesso , foram dezenas de quadros onde quase sempre o carro de Fucker e Sucker era roubado e eles acabavam atrapalhando os “negócios” do Delegado, um precursor das milícias, muito antes do Tropa de elite 2.
Vários convidados participaram da série. Me lembro bem da Tiazinha, que enlouquecia a galera na época e enlouqueceu todo mundo na gravação. Mas os convidados mais famosos, foram os integrantes do Deep Purple. Quando Ian Gillan, o vocalista do Deep Purple ouviu o nome dos personagens da série, ele se mijou de rir. Eu, como um fã incondicional do grupo, fiquei bobo, meio estupefato vendo os meus ídolos , na minha frente, tocando “Smoke on the water”. Fiquei tão embasbacado, que quando a gravação da música acabou, o diretor me chamou para a próxima cena, mas eu permaneci ali de boca aberta. Ele então gritou:
– Beto, mexa esse traseiro gordo! – Como diria Fucker. Ou seria Sucker?

MEMÓRIAS : AS NOVELAS DE CASSETA & PLANETA

Desde o início brincamos com a programação da Tv e era natural parodiar as novelas. Começamos a fazê-lo ainda na época do programa mensal, mas as nossas brincadeiras ainda eram curtas, quase sempre apenas chamadas de novela. Quando o programa passou a ser semanal, passamos a escrever capítulos da novela, com três ou quatro cenas parodiando cenas que haviam ido ao ar na novela original. No início não exibíamos o quadro da novela em todos os episódios do programa, apenas de vez em quando. Mas as nossas novelas foram fazendo muito sucesso, começamos a exibir a paródia de duas em duas semanas, até que o capítulo da nossa novela passou a acontecer semanalmente.
A novela era sempre o primeiro quadro do programa, para “colar” com a novela original, quase como se fosse uma continuação. E isso dava uma força muito grande a esse quadro.
Para poder conhecer os personagens e a trama da novela, a gente assistia aos capítulos. E contávamos com a ajuda de uma equipe de pesquisa que toda semana nos mandava um resumo da novela das 9, igual ao que saia nos jornais. A partir dessas informações nós escrevíamos o capítulo. Um dia, depois de já termos parodiado várias novelas, nós estávamos na redação quando chegou o email com a pesquisa da semana, mas dessa vez o resumo da novela não veio. Ao invés do resumo, nós recebemos o roteiro do capítulo que ia ao ar no dia do programa. Inteiro, com todas as cenas. A autora que autorizou mandar o roteiro pra gente foi a Gloria Peres, que era fã da nossa paródia, ela entendeu que a nossa parodia não sacaneava a novela, pelo contrário, era positiva para a novela original. A partir desse momento passamos a receber os roteiros de todas as novelas.
Além de Gloria Perez, quase todos os autores de novelas curtiam o que a gente fazia. Manoel Carlos, Aguinaldo Silva, Gilberto Braga…
A escalação dos papéis nas novelas era feita pelo José Lavigne, o diretor do programa. Nenhum de nós pedia papel e não me lembro de reclamações quanto aos personagens que cada um recebia. Cada um de nós fazia dois a três personagens por novela, masculinos e femininos, uns mais e outros menos importantes. A ideia não era imitar o personagem original, mas fazer uma caricatura, pegar apenas alguns traços e jeitos do personagem e ampliar. E a caracterização ajudava a tornar os nossos personagens parecidos com os originais.
Muitos personagens da nossa novela fizeram muito sucesso. Algumas vezes, quando encontrávamos alguns atores no Projac eles nos cobravam:
– Eu não apareci na novela ontem!
Ou pior:
– Vocês não vão parodiar o meu personagem?

Pois é, as paródias que fazíamos das novelas da 9 foram um dos maiores sucessos do Casseta & Planeta Urgente.
Uma lista das novelas que fizemos:
Porco dourado (Corpo Dourado)
Torre de Papel (Torre de Babel)
Suado moreno (Suave veneno)
Falha Nostra (Terra Nostra)
Esculachos de família (Laços de família)
Porco com vinagres (Porto dos milagres)
Siliclone ( O clone)
Mulheres recauchutadas (Mulheres apaixonadas)
Famosidade (Celebridade)
Sem hora pro intestino (Senhora do destino)
Amerréca (América)
Baleíssima (Belíssima)
Plásticas da vida (Páginas da vida)
Paraíso do bilau (Paraíso tropical)
Suas taras (Duas caras)
A periquita (A favorita)
Com a minha nas índias (No caminho das Índias)
Vim ver artista (Vida de artista)
Viver ardida (Viver a vida)

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MEMÓRIAS: MEUS PERSONAGENS NO CASSETA & PLANETA

Durante os quase vinte anos do programa Casseta & Plaenta Urgente, eu fiz centenas de personagens, de todos os tipos e gêneros.
Certamente o meu personagem, ou minha personagem, que mais fez sucesso foi a Acarajette Lovve, cantora de axé baiana retada, que se achava a melhor cantora de axé do mundo. Do mundo só não! Da Bahia! (Já falei sobre Acarajette aqui, neste post EU JÁ FUI UMA DIVA DO AXÉ…)
Outro personagem que fiz e que, particularmente gosto bastante, foi o Delegado do Fucker e Sucker. O personagem era chamado assim, só de Delegado. Ele era um policial altamente corrupto e cruel, que fazia contraponto aos ingênuos policiais americanos, que eram feitos pelo Hubert e Reinaldo e dublados pelos incríveis… Foi caracterizado como Delegado que eu gravei com o Deep Purple, ídolos demais e quase não consegui segurar a onda para fazer o Delegado, sempre escroto e cruel, eu parecia uma criança diante de seus ídolos.
Um personagem que muita gente lembra até hoje é o Peludão da Sauna Gay. Ele nem era para ser um personagem. Nós escrevemos um quadro sobre um sujeito , o Wanderney, que frequentava uma sauna gay, mas não assumia a sua condição homossexual. O escalado para o papel foi o Hubert. Na hora da gravação, o diretor não achou legal que o Hubert fosse o único dos Casseta a participar do quadro ao lado de vários figurantes e pediu para um outro Casseta participasse também. Eu fui escalado. O personagem não tinha falas, nem nome. Na hora da gravação eu fiquei lá atrás do Hubert, fazendo massagem nos seus ombros, enquanto ele falava:
– Eu só tenho amigos gays, frequento a sauna gay, mas eu não sou gay!
O quadro fez muito sucesso e resolvemos escrever mais. O meu personagem virou fixo e ganhou um nome por conta do meu corpo um tanto cabeludo. Era o Peludão. Aos poucos o Peludão acabou ganhando falas também. O quadro durou muito tempo, e até convidados famosos frequentaram a Sauna Gay.
Na época que fizemos quadros para o Fantástico, cada um de nós personificou um jornalista famoso da Globo. Foi aí que surgiu a Chicória Maria, a Ótima Bernardes, e no meu caso , o Alexandre Gracinha (Alexandre Garcia) , por conta da minha barba, que na época tinha que ser pintada de branco e também a Leilane Beckenbauer (Leilane Neubarth), em que, ao contrário, a minha barba tinha que ser “escondida”.
No Tabajara Futebol Clube ( ver aqui O TABAJARA FUTEBOL CLUBE…), eu era o Wanthuirson, um veterano jogador, ao lado do maravilhoso personagem do Bussunda, o Marrentinho, e do Penico , do Reinaldo, além do Ruizinho, Ruinzinho Gaucho, Samambaia, Múmia, Pirata, do goleiro Águia e da craque do time, a Vaca.
Wanthuirson, um jogador em final de carreira há vários anos, tentava sempre dar o seu ponto de vista e dizia:
– Ouça a voz da experiência…
Mas Marrentinho fazia exatamente o contrário do que ele sugeria.
No inicio do programa, ainda no programa mensal eu fui, junto com o Helio, um dos Bananas de Cueca , uma paródia aos Bananas de Pijamas, cuja música tema era:
Bananas de Cuecas
Sujas, mal lavadas
Bananas de Cuecas
Não arrumam namoradas…
Outra paródia de programa infanti foram os Cassetubbies, uma sátira ao programa Teletubbies, que fazia sucesso com as crianças. Eu o fazia o Cassetubbie Baba.
E nas novelas que parodiamos fiz muitos personagens. Muitas vezes o personagem do Toni Ramos caia na minha mão, pelo mesmo motivo que fui o Peludão. Foram dezenas de personagens de novelas. Uma das que mais arrancou risadas certamente foi a Gema, de Passione, que na novela original era a Araci Balabarian. A nossa novela se chamou Pegassione. Toda vez que alguém falava com a personagem, terminava a frase com o nome dela: Gema.
E então eu atendia o pedido e gemia:
– Ahaaaann!
Devo estar esquecendo de alguns personagens, foram muitos. Fora os personagens fixos, foram centenas, talvez milhares de personagem que participavam de um programa e nunca mais apareciam.
Fui desde um pacato cidadão a prefeitos ou outras autoridades, desde gerentes de banco a assaltantes, desde donas de casa a executivos. Devem ter sido uns 50 policiais diferentes, uns 40 meliantes, uns 150 deputados corruptos e até um deputado honesto. Na verdade agora , pensando aqui, eu não tenho muita certeza se esse último personagem realmente existiu.

MEMÓRIAS : EU JÁ FUI UMA DIVA DO AXÉ

Quando gravava o Casseta & Planeta Urgente, ficar duas horas sentado numa cadeira de maquiagem era algo normal. E quando a personagem era feminina, as horas se multiplicavam. Imagina o trabalho que dá para transformar um cara peludo como eu em algo que se pareça minimamente a uma fêmea? E a personagem feminina que mais fiz no programa e que, portanto, me deixou mais horas sentado numa cadeira de maquiagem foi a Acarajette Lovve, com dois tê e dois vê, a maior cantora de axé do mundo. Do mundo só não. Da Bahia!
Acarajette Lovve foi uma personagem que fez sucesso assim que foi ao ar pela primeira vez. Como a resposta do público era muito boa, achamos que dava para convidar as cantoras baianas para gravar com Acarajette, e, incrível, todas elas toparam. Acarajette gravou com Claudia Leitte, Ivete Sangalo e Daniela Mercury, além de outras cantoras não baianas como Joelma ou roqueiras como Pitty. Acarajette ficava lá xingando as cantoras, dizendo que era mais bonita, mais gostosa e que cantava melhor e elas entravam na brincadeira e respondiam na mesma moeda. Era divertido. Eu curtia bastante.
Quando chamamos Ivete Sangalo para gravar com Acarajette, ela disse que topava, que queria muito gravar com Acarajette, mas a sua agenda estava complicada. Como ficou difícil conciliar uma data para a gravação no Projac, a produtora de Ivete nos fez uma proposta:
– Acarajette topa participar do show da Ivete no Rio de Janeiro?
– No Rio? Claro! – a produção do programa respondeu sem pestanejar. – E em que teatro vai ser o show?
– Não vai ser em teatro não. Vai ser em cima de um trio elétrico.
– Como assim num trio elétrico? Nós não estamos no carnaval.
– A Ivete vai dar um show num trio elétrico no estacionamento do Riocentro. Acarajette topa subir no trio elétrico com ela?
Eu sou um cara tímido, nunca toparia subir num trio elétrico diante milhares de pessoas, mas Acarajette não era tímida e topou na hora.
O dia da gravação chegou. Como não dava para maquiar no Riocentro, a produção marcou comigo no Projac. Fiquei pronto, travestido de Acarajette com umas quatro horas de antecedência. Então, um carro da produção me levou ao Riocentro, e lá no estacionamento encontramos o trio elétrico da Ivete, parado diante de uma multidão.
O palco do trio elétrico normalmente fica em cima da caçamba do caminhão. Chegamos por trás e entramos dentro da caçamba, onde existia um camarim. Ivete já estava lá, preparando-se para o show. Ela me recebeu super bem, muito simpática, senti uma solidariedade de cantoras baianas. Ivete explicou como seria a minha entrada, que horas eu entraria no palco, ou melhor, quando eu subiria no trio. Passei o texto com Ivete.
O show começou e eu fiquei esperando ali embaixo escutando Ivete cantar os seus hits. Até que, com uns quarenta minutos de show, ela me chamou ao palco:
– E agora com vocês, uma convidada muito especial: Acarajette Lovve!
Subi as escadas que davam acesso ao palco na parte de cima do caminhão. Quando cheguei lá e vi a plateia, gelei. Eram mais de vinte mil pessoas. Gente a perder de vista, uma multidão sem fim. Respirei fundo e mandei:
– Boa noite. É uma honra para mim, Acarajette Lovve, estar aqui para ajudar essa cantora iniciante, Claudia leite…
Ivete se fingiu de irritada e me corrigiu:
– Não, Cacarajette! Eu sou Ivete , minha linda.
– Ah, é Ivete seu nome? Desculpa, não conhecia…
Ficamos assim nos provocando por uns cinco minutos, o povo delirando. Até que Ivete resolveu incitar as 20 mil pessoas a gritar o meu nome:
– Acarajette! Acarajette! Acarajette!
E foi aí que aconteceu. Vinte mil pessoas gritando o meu nome. Naquele momento, depois de mais de quatro horas vestido daquele jeito, eu nem me lembrava mais que era o Beto Silva, eu era Acarajette. E estava fazendo o maior sucesso! E sucesso, como todos sabem, sobe à cabeça. Eu sou um cara tranquilo, que sabe onde tem a cabeça, mas Acarajette não. Ela estava completamente deslumbrada, por sua cabeça mil pensamentos rolavam: Será que aquele era o momento de largar o Casseta & Planeta e virar uma cantora baiana de vez? Que tal realizar o sonho do trio elétrico próprio e desfilar pelas ruas de Salvador no carnaval? Já pensou gravar um CD e viajar pelo Brasil fazendo shows em cima do meu personal trio elétrico? Tudo isso passou pela cabeça de Acarajette Lovve em milésimos de segundos. Mas então aconteceu outra coisa: Eu esqueci o texto. Viajando na carreira-solo de cantora de axé, eu não lembrava mais as minhas falas. Fiquei calado, deu uma bobeira geral. Ivete já havia falado à beça, agora cabia a mim responder e nada! O sonho de seguir na carreira de cantora baiana se esvaneceu na velocidade da luz e agora eu só tentava encontrar um texto perdido em algum lugar de meu cérebro. Precisava falar alguma coisa, mas nada vinha! Fiquei nervoso. Comecei a suar frio. Achei até que desmaiaria ali em cima do trio elétrico diante de vinte mil pessoas. Mas Graças a Deus não cheguei a pagar mico naquela noite. Depois de alguns poucos segundo, que para mim pareceram uma eternidade, finalmente achei a fala num neurônio perdido qualquer e gritei:
– Eu sou Acarajette Lovve! A melhor cantora do mundo! Do mundo só não! Da Bahia! Uma cantora que além de cantar muito melhor, tem as pernas mais grossas do que Ivete, que tem só esses cambitinhos ridículos!
Ivete respondeu a altura. Sacaneou Acarajette e dessa vez, pediu uma vaia à plateia, que a atendeu. Sob uma vaia de vinte mil pessoas, eu me despedi do público. A multidão voltou a aplaudir Acarajette e eu sai de cena. Desci as escadas rapidinho e voltei para o camarim na parte de baixo do caminhão. Chegando lá, a primeira coisa que fiz foi arrancar a peruca que já estava apertando a minha cabeça há mais de quatro horas. Peguei um lenço umedecido e tirei a maquiagem. Tirei a roupa da Acarajette, deixei de ser a musa de pernas grossas da Bahia, a sensação loura do carnaval baiano e voltei a ser só aquele cara do Casseta & Planeta. Mas posso dizer que, pelo menos por alguns minutos, em cima de um trio elétrico, ao lado de Ivete Sangalo, eu me senti uma verdadeira diva da axé music!

MEMÓRIAS – AS MELHORES PIADAS DO PLANETA… E DA CASSETA TAMBÉM

O nosso primeiro livro na Objetiva, nossa nova editora, foi a Volta ao mundo de Casseta & Planeta, onde falávamos de países, dicas de viagens, outros povos, por aí. O livro foi muito bem produzido, com várias ilustrações, uma foto de capa muito maneira, mas não vendeu muito bem. Ou pelos menos não vendeu o que se esperava que vendesse. Então um editor da Objetiva chegou para a gente e perguntou: “Por que vocês não fazem um livro de piadas?”
Livro de piadas não era nenhuma novidade, até O Pasquim já havia feito uma antologia de anedotas que fez muito sucesso nos anos 80, mas resolvemos topar o desafio. Saímos recolhendo as piadas que gostávamos. Eu, como editor dos livros do grupo, fui o caçador de piadas mais ferrenho. Comprei até livros americanos de anedotas para garimpar piadas desconhecidas por aqui. Todo dia a galera aparecia com um monte de piadas e contava antes das nossas reuniões de redação. Eu era o principal contador de piadas, já que estava ligado na edição do livro. Só não era chamado de Tiozão da piada, porque acho que a expressão ainda não existia. Mas era uma tarefa profissional, afinal estávamos editando um livro de piadas, era preciso contá-las para poder selecionar as melhores.
As melhores Piadas do planeta… e da casseta também saiu em 1997 e foi um estouro. Rapidamente virou best-seller, ficou em primeiro na lista dos mais vendidos por um ano. Foi de longe o nosso livro que mais vendeu, não sei exatamente qual o número, mas com certeza foram mais de 100 mil exemplares. Em 1998 lançamos o As melhores Piadas do planeta… e da casseta também 2, e nos anos seguintes o 3, o 4 e o 5. Todos venderam bem. O primeiro, supercampeão de vendas, foi relançado em vários formatos: com outra capa, livro de bolso, e-book, áudio-livro, sempre um sucesso.
É claro que muitas piadas que foram publicadas nesses livros lançados no final do século XX, não poderiam ser publicadas no século XXI. Muita coisa mudou, algumas piadas não podem e não devem mais ser contadas. O tempo passa, as coisas avançam, os conceitos mudam, os contextos são outros. Em 2019 , fomos convidados pela UBOOK para relançar o livro em áudio-book, um formato que cresce bastante hoje em dia. Nessa ocasião eu reli os dois primeiros livros de piadas e várias piadas me incomodaram. Não só os tempos mudaram, eu mudei também. Então eu chamei o Helio para me ajudar a editar esse áudio-book. Pegamos o texto original e tiramos todas as piadas que consideramos de mau gosto, anedotas que, para falar a verdade, nem achávamos mais engraçadas. Pois o livro resistiu a essa “limpeza” e continuou muito divertido, fazendo bastante sucesso nessa plataforma de áudio-livros.

Ainda na onda de livros de piadas, em 2002, lançamos As piadinhas do cassetinha, livro de piadas para crianças, que é um dos nossos livros que mais gosto.
E além dos livros de piadas, continuei no meu trabalho de Ministro dos Livros e capitaneei mais algumas obras da literatura “cassetiana e planetiana”, que lançamos também pela Editora Objetiva:
– O avantajado livro dos pensamentos de Casseta & Planeta, que juntava os dois livros de frases num só.
– Relançamos o Manual do sexo manual.
– Seu Creysson, vidia e óbria.
– Seus problemas acabaram – Os melhores produtos das Organizações Tabajara.
– O livro de auto-ajuda Como se dar bem na vida, mesmo sendo um bosta.
– O legítimo livro pirata de Casseta & Planeta. Esse o último que lançamos, em 2007.
Muitos anos depois, em 2018 fomos convidados pelo Eduardo Bueno, o Peninha, para escrevermos um livro de humor que falasse da História do Brasil. Escrevemos o Brasil do Casseta – Nossa História como você nunca riu, lançado pelo selo Estação Brasil da Editora Sextante. Sorteamos os 30 capítulos da História do Brasil e dividimos entre nós para cada um escrever a sua parte. Quer dizer, menos o Reinaldo, que ilustrou o livro com um de seus geniais desenhos para cada capítulo. O livro ficou bem engraçado. Não dá para aprender História do Brasil com ele, mas acho que ele serve para dar vontade de estudar um pouco mais da nossa História e tentar entender como conseguimos chegar até aqui.

MEMÓRIAS – CASSETA & PLANETA TAMBÉM É LITERATURA

Em um determinado momento, lá no início de nossa carreira de grupo de humor, nós resolvemos dar uma organizada interna para conseguir produzir tudo que queríamos. Criamos o que denominados de ministérios. Cada um de nós era responsável por um “ministério”, ou seja, por uma área, DVDS, músicas, livros, etc… O Claudio e o Reinaldo, não entraram nessa divisão, pois já integravam um ministério importante: a redação final do programa, que exigia muito tempo de trabalho. Não me recordo exatamente quais eram os ministérios de cada um, só lembro que o Bussunda fez questão de assumir o Ministério do Ócio e Lazer, cargo que exerceu com muita responsabilidade e competência.
Eu fiquei responsável pelo Ministério dos Livros. Sempre gostei muito de ler e de livros e pulei em cima desse cargo com a fome que um deputado do Centrão tem por um cargo no governo hoje em dia. Nem preciso dizer que não queria o Ministério dos Livros para roubar ou distribuir rachadinhas para a minha família.
Não era eu o responsável por escrever os livros do grupo, mas por produzi-los, ou seja, reunir os textos já escritos, juntar a galera para ter ideias para os livros ou para convencê-los a escrever textos para os livros. Acho que fiz direitinho o meu trabalho porque nós acabamos lançando mais de 20 livros.
Em 1994, já com o Casseta & Planeta Urgente no ar, a editora Record nos procurou. Perguntou se nunca havíamos pensado em lançar um livro. Conversamos sobre que livro poderíamos fazer e veio a ideia de um livro de frases. Como ministro da pasta, assumi o trabalho de organizar o trabalho, saí a caça de frases do grupo em todos os lugares, compilei frases da revista Casseta Popular e do Planeta Diário, nos quadros do programa. Era só algum de nós dizer algo engraçado que eu anotava. Juntei um montão de frases e pensamentos e as dividi em capítulos por assunto. Juntamos o grupo e fomos passando as frases uma a uma, melhorando algumas e descartando outras. Bolamos títulos engraçados para os capítulos e acabamos lançando o Grande livro dos pensamentos de Casseta e Planeta.
O livro foi um sucesso! Vendeu muito bem. Ficamos empolgados e eu, como editor do livro, ainda mais animado que a galera, parti de novo na pescaria por frases que escrevemos, pensamentos que esboçamos, falas de quadros de programa, tudo que pudesse ser transformado numa frase engraçada. Mais uma vez puxei a galera para bolar novas frases e, ainda em 1994, conseguimos lançar mais um livro de frases: O enorme livro dos pensamentos de Casseta e Planeta. Sucesso também.
Em 1994 ainda veio o Manual do Sexo Manual, com textos sobre sexo publicados nas revistas e alguns textos inéditos.
No ano seguinte, seguimos em nossa carreira “literária” e lançamos o Livro místico, esotérico e sobrenatural de Casseta e Planeta, com a ideia de brincar com esse tipo de assunto que andava bombando no mercado editorial na época (na verdade, até hoje esse assunto rende).
Ainda em 1995 juntamos as melhores entrevistas publicadas nas revistas Casseta Popular e Casseta & Planeta e produzimos o livro Casseta & Planeta – Entrevistas, com entrevistas com Caetano Veloso, Jaguar, Gabeira, Paralamas, entre outras.
Por conta principalmente dos livros de frases, que haviam virado best-sellers e que tiveram várias edições, a nossa carreira literária estava de vento em popa. Então, o nosso passe foi negociado com outra editora, a editora Objetiva. Nos sentimos como craques de futebol, só faltou o cachê milionário e as luvas.
(continua no próximo post)

MEMÓRIAS – O TABAJARA FUTEBOL CLUBE

Uma das séries de maior sucesso que lançamos foi o Tabajara Futebol Clube, o pior time do mundo. Talvez tenha sido a série mais longeva do programa. Criar uma série sobre futebol era quase uma obrigação para nós que sempre adoramos o esporte. E era uma maneira de falar do assunto sem necessariamente ser clubista, o que era um problema até dentro do grupo, já que havia torcedores do Flamengo (Claudio, Bussunda e Marcelo), do Botafogo (Helio e Hubert), do Fluzão (eu!) e do Piranhas Futebol Clube, que o Reinaldo, que não tinha time, dizia que era torcedor. Para o Vasco nenhum de nós torcia.
O time foi escalado completo, com onze jogadores, mas apenas três deles eram interpretados por nós, os outros eram figurantes. Os nossos três personagens eram o Marrentinho Carioca, um típico jogador mascarado que acha que é craque, feito pelo Bussunda, cujo bordão era: “Fala sério!”. Eu interpretava o Wanthuirson, um jogador veterano desses que rodaram por todos os times do país e está em final de carreira, e que tinha opinião para qualquer questão dizendo: “Ouça a voz da experiência”. O Reinaldo fazia o Penico, um jogador que o nome já dizia o que fazia em campo, e que era um eterno reserva
Os outros jogadores do elenco eram:
O goleiro Águia, que usava uns óculos com fundo de garrafa.
Samambaia, que tinha um cabelo tal qual a planta.
O enorme zagueiro Duplex.
Dois jogadores “verticalmente prejudicados” o Ruinzinho e o Ruinzinho Gaucho.
O Múmia, todo enfaixado.
O Pirata, que tinha uma perna de pau.
E o craque do time: a Vaca, interpretada por uma vaca mesmo.
Todos os jogadores eram figurantes fixos, foram sempre os mesmos durante todo o tempo que o quadro foi ao ar. Menos a Vaca, que acho que foi interpretada por várias vacas diferentes.
O presidente do clube era o Dr. Barrosinho, interpretado pelo Claudio Manoel, que era um típico cartola brasileiro, que armava mais jogadas que o meio-campo do time, mas que quase sempre davam errado.
Volta e meia Barrosinho contratava um novo craque, que nunca dava certo. Teve o Mesa, o Fenômeno, Dona Izete, Perebocic, Cristiano Depilaldo e vários outros.
Muitos jogadores de verdade foram convidados para estrelar o quadro do Tabajara FC. Me lembro de Romário e Zico, para você ver o sucesso do quadro.

O uniforme do Tabajara FC , criado pela nossa incrível equipe de figurinistas, passou a fazer parte da seleção dos mantos sagrados do futebol brasileiro. Até hoje se vê na rua gente envergando a camisa do Tabajara, nas cores amarelo e lilás. O Tabarara FC teve até um fabricante de verdade. A Le Cock Sportif, uma marca francesa, chegou a lançar a camisa oficial do Tabajara, que durou pouco tempo no mercado, já que a camisa pirata, fabricada em vários pontos do país ganhou a concorrência de lavada.
Existem pelo Brasil afora inúmeros times que se chamam Tabajara FC. Todos se orgulham de envergar a famosa camisa amarelo e lilás do pior time do mundo. E assim eles já tem uma boa desculpa para as suas derrotas.
Em 2019 , o estádio do Mineirão recebeu uma camisa oficial do Tabajara FC, que agora está lá exposta lado a lado com as camisas dos principais times brasileiros.

MEMÓRIAS – MAÇARANDUBA E O DIÁRIO DE UM MACHO

Quando o Casseta & Planeta passou a ser semanal, em 1998, precisamos dar várias mexidas no jeito de fazer o programa. Enquanto ele era semanal baseávamos o programa em matérias pseudo-jornalísticas, muitas viagens, muitas visitas a eventos para entrevistar pessoas, agora com programa indo ao ar todas as semanas não teríamos tempo para sair tanto do estúdio. Se por um lado ganhávamos as atualidades como matéria prima para piadas, por outro lado não era toda semana que aconteciam coisas interessantes no país. Portanto precisávamos ter um cardápio de matérias mais extenso e que não necessitassem que saíssemos tanto do estúdio para gravar. E uma das saídas que pensamos foi criar quadros fixos com personagens, que seriam escritos e gravados com antecedência e que pudessem ir ao ar em qualquer programa.
Criar um bom personagem é um desafio complicado. Fazer o personagem pegar é ainda mais difícil. Um dos primeiros quadros fixos que criamos veio de um esquete que encenamos quando o programa ainda era mensal. Foi baseado num texto antigo publicado na edição número 3 da Casseta Popular. O texto original se chamava “Tem que malhar” e contava a história de um jiujuteiro que invadia uma festinha de quinze anos e dava porrada em todo mundo. Satirizava uma galera boçal que frequentava academias de lutas e que gostava de viver dando porrada em todo mundo. Na nossa versão para TV, criamos dois personagens que lutavam jiu-jitsu e resolviam tudo na base da porrada. Tudo era motivo para eles porrarem alguém, principalmente se duvidassem da masculinidade deles, o que os dois achavam que estava acontecendo toda hora. Os personagens eram o Carlos Maçaranduba e o Ulson Montanha e o quadro se chamou “O diário de um macho”. O nome Carlos Maçaranduba veio de um personagem do Planeta Diário, onde Carlos Maçaranduba era o Fodão do Bairro Peixoto. “O diário de um macho” começava sempre de uma maneira fofa, com a narração em off do Maçaranduba dizendo: “Querido diário”. E a partir daí ele narrava as boçalidades que ele e o seu companheiro Montanha aprontavam.
Quem foi escalado para fazer o Maçaranduba foi o Claudio Manoel e o Montanha, inicialmente, no esquete do programa mensal, foi o Madureira. Mas quando o quadro virou fixo, já no programa semanal, o Montanha coube ao Bussunda.
Maçaranduba ainda tinha um cachorro, um pitbull obviamente, que mordia todo mundo, e que se chamava Sadam.
O primeiro episódio do Diário de um macho no Casseta & Planeta semanal fez muito sucesso, principalmente quando a qualquer pretexto o Maçaranduba falava:
– Ele está obviamente duvidando da nossa masculinidade.
Então lá vinha o bordão do Maçaranduba:
– Vou dar… porrada! – Que Claudio falava com a boca torta de maneira hilária.
Um detalhe: esse bordão não estava no texto. Em um determinado momento durante a gravação viu-se a necessidade de um bordão e o Claudio lançou o “Vou dar… porrada!”
Além deste bordão, que pegou, vários detalhes ajudaram o quadro a funcionar. Além do texto, que era engraçado, o Claudio e o Bussunda foram muito felizes ao “montar” os dois personagens. E aí veio um lado lúdico do quadro, contribuição do nosso diretor José Lavigne: Na hora de dar porrada, Maçaranduba e Montanha batiam em bonecos de pano, que voavam pelo cenário. Não havia nenhum disfarce, todo mundo via que eram bonecos de pano. O cachorrinho Sadam também era um boneco de espuma, o que ainda ajudava ainda mais a dar um ar infantil ao quadro, por incrível que pareça.
O Diário de um macho com o Maçaranduba foi o primeiro quadro fixo que fez muito sucesso. Depois vieram vários outros.

MEMÓRIAS : AS ORGANIZAÇÕES TABAJARA

As Organizações Tabajara foram lançadas ainda na época do programa mensal. Surgiu como uma sátira aos infomerciais, aquelas longas propagandas de venda de produtos que lotavam as TVs nos anos oitenta. Criamos a nossa personal Empresa de Produtos inúteis, as Organizações Tabajara.
O primeiro produto Tabajara foi a Bomba Atômica Tabajara, uma bomba pessoal que qualquer pessoa podia ter. A propaganda fez sucesso e começamos a criar mais produtos desse tipo, ideias para resolver os problemas das pessoas no dia-a-dia de uma maneira inusitada. Assim começamos a bolar uma infinidade de produtos Tabajara, todos com os seus nomes em inglês, porque o povo leva mais a sério produtos que tem nome em inglês.
Os anúncios tinham um texto padrão. Uma série de perguntas eram feitas ao “consumidor”, para saber se ele tinha determinado problema no seu dia-a-dia. Depois que ele confirmava que sofria com a falta de algo que resolvesse essa necessidade, o locutor mandava:
– Pois agora seus problemas acabaram!
E o produto revolucionário era demonstrado.
Assim vieram:
– o Adesive Plus Emagreceitor Tabajara, um adesivo que tampava a boca da pessoa impedindo-a de comer.
– Alarme Anti-azarator Tabajara – um alarme que avisava ao marido quando a sua mulher estava levando uma cantada.
– Papai-Milk-System Tabajara – Um produto que permitia aos homens amamentarem os seus bebês.
– Higienic Paper Remote Control Plus Tabajara – Um carrinho acionado por controle remoto capaz de levar papel higienico ao banheiro quando ele acabasse no meio da “obra”.
– Cara Digitalizater Tabajara – Que colocava uma cara digitalizada na pessoa quando ela não quisesse ser reconhecida. E ainda acrescentava uma voz de pato.
Foram tantos produtos Tabajara que nem mesmo nós temos ideia de quantos foram, talvez centenas deles.
Em 2002 foi feita uma exposição dos produtos Tabajara. A Expo-Tabajara aconteceu no Rio e em São Paulo e foi um sucesso. O catálogo da exposição acabou nos dando a ideia de fazer um livro sobre as Organizações Tabajara e em 2004 lançamos o Seus Problemas Acabaram, um livro que trazia os melhores produtos das Organizações Tabajara.

Uma curiosidade: Depois que lançamos vários produtos Tabajara, eu fiz uma viagem de férias a Londres e descobri numa livraria um livro japonês que tinha fotos de vários produtos inúteis. O livro era o “101 unuseless japanese inventions”, de Kenzi Kawakami. Os produtos eram muito similares aos produtos Tabajara. Adaptamos alguns dos produtos japoneses para propagandas Tabajara. Quando nós fomos ao Japão para gravar um especial de final de ano, conseguimos o endereço do autor do livro que comprei em Londres e fomos falar com ele. Kenji Kawakami, além de autografar os nossos livros, nos deu autorização para usar os produtos do livro no programa.

Aos poucos a palavra Tabajara virou um sinônimo para coisas sem utilidade ou malfeitas. E o sucesso dos produtos Tabajara obrigou alguns produtos que se chamavam Tabajara a mudar de nome.
Mesmo depois de tanto tempo fora da TV, volta e meia as Organizações Tabajara são lembradas até por jornalistas, políticos ou figuras públicas. É só surgir uma proposta de lei esdrúxula ou qualquer ideia ridícula de inovações inúteis na política ou economia que já se tasca que aquilo é Tabajara. Tabajara já virou um adjetivo, e como tal é escrito com a inicial minúscula: tabajara. Tudo bem que tabajara é uma palavra meio tabajara, mas bem que podia ser dicionarizada, não é? Ou será que um dicionário que contenha a palavra tabajara é um dicionário Tabajara?