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AMIGO POLÍTICO

Eu tenho um amigo que virou político. Na verdade, não o vejo há muito tempo, desde a época da faculdade. Assim que saiu da faculdade ele se meteu na política e logo conseguiu ser deputado federal.
Outro dia eu esbarrei com o velho conhecido na rua, fazendo campanha para se reeleger. Veio pedir o meu voto.
– Desculpa, mas é que eu acompanho a sua carreira e não concordo muito com as suas propostas… – expliquei.
– Bobagem! Proposta não tem importância.
– Eu também não gosto muito do seu partido.
– Não se preocupe com isso não, que eu já mudei de partido!
– Mudou? Mas eu li no jornal você dizendo que era leal, que era um soldado do partido?
– É, eu era soldado, mas mudei de partido e virei sargento, e aí mudei de novo e passei a ser tenente!
– Mas você muda de partido como muda de cueca! – Me arrependi imediatamente de falar isso quando lembrei que o cara foi pego com grana na cueca e certamente se preocupou em trocá-la para não sujar o dinheiro.
– Que isso, amigo? Na verdade, o meu partido é sempre o mesmo, é só a sigla que muda uma letrinha.
– Pois eu não gosto muito dessa sopa de letrinhas.
– É, já entendi que você não gosta de sopa. Mas deve gostar de churrasco! Você está convidado para o churrascão que vou fazer no fim de semana, lá em Búzios!
– Você tem casa em Búzios?
– Claro! Você quer que eu pegue sol onde? Naquele gramadão em frente ao Congresso?
– Mas como você conseguiu comprar uma casa em Búzios tendo sido político a vida toda?
O cara me olhou como se eu fosse um marciano.
– Rapaz, você é meio estranho… Não acredito que ainda é aquele idealista da faculdade!
– Um pouco. Você é que mudou muito.
– Pois eu ainda tenho um ideal!
– É? Qual é o deu ideal?
– O meu ideal é conseguir o Ministério dos Transportes. Mas se rolar o da Pesca já tá legal.

CANDIDATOS

Pode pesquisar, nunca um candidato a um cargo público disse:
– Eu quero ser candidato para ter muito poder.
Não, o que eles quase sempre dizem é:
– Eu aceitei o desafio de ser candidato para contribuir com as minhas ideias.
E que ideias são essas, afinal?
Normalmente, a principal ideia que um político tem quando se candidata é… ter poder. De preferência muito poder.
Todo candidato a algum cargo importante sabe como resolver todos os problemas do país. E promete que vai resolver tudo assim que assumir, logo com uma semana de governo.
– Eu vou abaixar a inflação, distribuir comida, zerar o preço da gasolina e criar o vale-churrasco!
– E quais serão exatamente as medidas que o senhor vai tomar, candidato?
– Medidas revolucionárias que ninguém teve coragem de fazer até hoje.
Mesmo quando o sujeito é candidato a reeleição, ele diz que vai resolver a parada toda.
– Eu vou abaixar a inflação, distribuir comida, zerar o preço da gasolina e criar o vale-churrasco!
– Mas o senhor já é governo, por que não faz logo isso tudo?
– Não me deixam. Mas na próxima vão deixar.
– E quais serão exatamente as medidas que o senhor vai tomar, candidato?
– Medidas revolucionárias que ninguém teve coragem de fazer até hoje.
Assim que assumem, os candidatos levam com eles dois verbos muito importantes para o exercício do cargo: descontinuar e contingenciar.
Porque nunca nenhum político que exerce algum cargo importante diz que vai cortar verbas ou detonar projetos. O que eles dizem?
– Vamos contingenciar o orçamento.
Ou:
– Vamos descontinuar tal projeto.
E, assim que assumem, tratam logo de descontinuar as medidas revolucionárias e contingenciar as promessas de campanha.

A GRAÇA SEM GRAÇA

Bolsonaro deixou todo mundo completamente sem graça quando concedeu a graça ao deputado Daniel Silveira para livrá-lo da cadeia. Foi mais um capítulo na desgraçada briga do presidente com o STF. Mais uma gracinha que o presidente fez para elevar o estresse político. Mais um golpe de graça contra a democracia.

A graça é um indulto que o presidente pode fazer em favor de uma pessoa. Como humorista sou contra esse nome para esse ato sem graça. Como é que os humoristas vão continuar a fazer graça , sabendo que graça também é o nome dessa desgraça? Se graça nomeia esse indulto, a graça também pode ser sem graça? E quem recebe uma graça dessas , passa a ser considerado engraçado? Muito sem graça isso para os humoristas. E mais ainda para o Brasil.

QUESTIONÁRIO DA SEMANA

Responda as questões abaixo:

Qual dessas expressões conhecidas define melhor o tapa de Will Smith no Chris Rock
a- Entre tapas e beijos
b- Um tapinha não dói
c- Dar a cara a tapa
d- Um tapa na cara da sociedade
e- O tapa saiu pela culatra

Em qual dessas expressões conhecidas a performance da terceira via nas pesquisas eleitorais melhor se encaixaria:
a- A vaca foi pra terceira via
b- Nem fode nem sai da terceira via
c- Vai de terceira via a pior
d- Desceu ao fundo da terceira via
e- Devagar, quase terceira via

A grande novidade na Tv é o remake de Pantanal. Qual é a expressão que melhor define isso:
a- Chovendo no malhado
b- Panela velha é que faz novela boa
c- Aonde a vaca vai, o boi vai atrás
d- Colocando a novela na frente dos bois
e- Cutucando a onça com a Maria Marruá

NEUTRALIDADE

Ser neutro em certas situações é como dizer foda-se! Tanto faz! Quem ganhar tá bom! Não estou nem aí!
Seria o meu caso quando, por exemplo, eu assisto a um jogo Flamengo x Corinthians. Pra mim, tanto faz, inclusive se fosse possível os dois perderem, eu torceria para isso. Mas até nessa situação, a minha neutralidade pode ficar de lado, se algum resultado puder favorecer o meu time, o Fluminense.
Algumas vezes se é neutro por ignorância.
Aconteceu comigo assistindo a um jogo de curling entre Suécia e Suíça nessa última Olimpíada de Inverno. Não entendo muito desse excitante esporte, no entanto pensei em torcer para Suíça, depois para o Suécia, mas ficou difícil escolher porque confundia o nome dos países e nunca lembrava pra quem mesmo se eu estava torcendo, se pra Suécia ou Suíça. Fiquei neutro.
Em outras situações ser neutro é na verdade torcer para um dos lados.
Imagina que um sujeito é convidado pra um churrasco na casa de um tio, que ele acha uma mala. Então pra não ser uma roubada completa, o cara leva com ele um amigo. O problema é que o amigo bebe todas, fica doidão e começa a encher o saco do tio do cara. O amigo e o tio acabam saindo no tapa e o sujeito fica numa situação complicada. E agora, ficar do lado de quem? Ele está obviamente torcendo pro amigo dar um socão no tio, mas não dá pra ficar do lado do amigo, senão ele vai ficar mal com a família, que está toda do lado do tio. Então o cara encontra uma solução: diz que está neutro.
É um caso parecido com do Bolsonauro, que demorou uma semana para falar alguma coisa sobre a invasão da Ucrânia pela Russia. Só então resolveu colocar a sua posição:
– Eu sou neutro, tá ok?
Ele sabe que não dá pra dizer explicitamente que está do lado do seu novo amiguinho Putin. Então ele achou essa saída: a neutralidade.
Eu não conhecia esse lado Bolsoneutro. Ninguém conhecia, nem ele mesmo.
E ninguém acredita nessa neutralidade. Nem ele mesmo.

GRANDES CACIQUES DO BRASIL

Alguns até acham que nosso país não é mais uma aldeia indígena, mas como ainda temos caciques! Eu estou falando dos caciques políticos, que mandam no país.
Hoje em dia esses caciques são menos conhecidos, só os comentaristas políticos da Globonews, CNN e tais sabem o nome dos donos dos partidos do Centrão. Mas nós, que não temos saco para acompanhar o dia-a-dia da política, não conseguimos decorar o nome desses caras.
Mas, num passado nem tão distante, todo mundo sabia direitinho quem eram os caras que mandavam na política brasileira.
Uma vez, há bastante tempo, fui apresentado a um dos mais poderosos caciques da país: o poderoso Antônio Carlos Magalhães, o ACM, que foi “dono” da Bahia.
Meu encontro com ACM aconteceu em um hotel na Praia do Forte, na Bahia, onde estava hospedado com a minha família. ACM também estava hospedado nesse resort. Eu estava tomando um banho de mar com a minha filha. Quando saímos do mar, fomos nos lavar num chuveirinho que havia na beira da praia. Foi dali que eu avistei o homem, a uns dez metros. ACM estava ao lado de um assessor que já havia conversado comigo, e que me chamou. Mandei a minha filha para a barraca onde estavam meus pais e, meio sem jeito, me aproximei. O assessor me apresentou ao homem:
 – Esse é o Beto Silva do Casseta & Planeta.
ACM não falou nada, só ficou olhando para a minha cara. Sem saber o que fazer ou dizer, desandei a falar um monte de bobagens, falei do tempo, falei do hotel, disse que o meu pai era baiano, que o meu avô também… O homem só olhava para a minha cara e respondia com monossílabos. Ao final me despedi e fui  para a barraca onde estava com a minha família.
 – Você viu? – perguntei para a minha mãe.
 – Vi. Você falou com o ACM.
 Então minha mãe apontou para o meu nariz.
 – Que foi? – perguntei sem entender.
 – O nariz – minha mãe falou.
 – O que que tem o nariz? – perguntei.
 – Tem uma meleca descendo. – minha mãe explicou.
 Sabe aquelas cobrinhas de catarro que descem do nariz quando a gente entra na água? Pois é, uma dessas melecas estava lá descendo desde a minha narina esquerda até quase a boca. Eu só consegui olhar em direção a barraca do ACM e pensar: Será que foi por conta do meu catarrão que o homem me olhava tanto?
Pois é, foi assim o meu encontro com o poderoso ACM.
Algumas pessoas acharam essa história nojenta, mas outras consideraram um ato político!

BOZONARO NA ONU

Uma das expressões que eu mais escutava quando era jovem dizia que um adulto podia fazer o que quisesse, afinal era “maior e vacinado”.
O presidente do Brasil é maior, mas se recusa a vacinar. No entanto continua fazendo o que quer, mesmo que seja contra a lei do país que ele governa.
Essa semana mesmo, foi para Nova Iorque e não pôde entrar em restaurante para jantar porque não tem certificado de vacinação. Comeu pizza na rua.
Eu fico pensando nos membros da comitiva do presidente (ou seria comipizza?) devem ter esboçado colocar ketchup e mostarda na pizza. Mas não se atreveram, afinal, ketchup é vermelho, comunista! E mostarda é amarelo, coisa de chinês!

A foto do Bozonaro comendo pizza na rua em Nova Iorque é um retrato de um Brasil dividido:
A maioria dos brasileiros queria mesmo que Bozonaro fosse pra rua!
Mas uma minoria barulhenta quer mais é que isso acabe em pizza.

No mesmo dia que o Bozonaro disse que ia falar umas verdades em seu discurso na ONU, lançou um projeto de lei para liberar as Fake News nas redes sociais. Ou seja, é grande a probabilidade das “verdades” do Bozonaro, assim como o seu jantar, acabarem em pizza.

EMPESSEGAMENTO

Impeachment é mais uma daquelas palavras que a gente fala direto em inglês, sem traduzir. Acho que essa ela apareceu para as pessoas comuns na época do Collor, quando até se deve ter pensado em traduzir, mas não dava para perder tempo com isso, então ficou impeachment mesmo.
Provavelmente alguém pensou em dar uma aportuguesada na palavra, escrevendo empichamento, mas talvez tenham concluído que assim ficaria muito perto do verbo pichar, o que pegava mal. Apesar de que o impeachment normalmente acontece quando o nível de pichação ou empichamento cresce a um nível tal que não dá mais para segurar e só o impeachment resolve.
Uma tradução para Impeachment seria Impedimento. O impedimento na política, assim como no futebol, é sempre polêmico. No caso do futebol, há um bandeirinha, que está lá só para assinalar o impedimento. Além do VAR, com suas linhas azuis e vermelhas. Mas a decisão final é sempre do juiz.
Na política brasileira, quem está nesse papel de dizer se vai ou não ter um processo de impeachment é o presidente do Congresso, que torce para o time do presidente e não marca impedimento nunca. Não adianta o bandeirinha levantar a bandeira, nem o VAR avisar, que o juiz não liga, ele não está nem aí.
Impeachment também poderia ser traduzido como empessegamento, já que peach é pêssego em inglês. O presidente do Congresso está sentado em cima de 120 pedidos de empessegamento. Todos esses pêssegos já devem estar podres e, portanto, já sujaram bastante os fundos das calças do presidente do Congresso, mas ele não faz nenhuma menção de que vai se levantar para trocar as calças.
Enquanto isso, o presidente vai cada vez mais virando um pêssego, ou seja, já não tem mais capacidade de governar. Apesar de que, em alguns casos, um pêssego seria melhor na presidência do que essa figura que ocupa o cargo. O pêssego pelo menos não afronta os outros poderes.