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MEMÓRIAS : AS ORGANIZAÇÕES TABAJARA

As Organizações Tabajara foram lançadas ainda na época do programa mensal. Surgiu como uma sátira aos infomerciais, aquelas longas propagandas de venda de produtos que lotavam as TVs nos anos oitenta. Criamos a nossa personal Empresa de Produtos inúteis, as Organizações Tabajara.
O primeiro produto Tabajara foi a Bomba Atômica Tabajara, uma bomba pessoal que qualquer pessoa podia ter. A propaganda fez sucesso e começamos a criar mais produtos desse tipo, ideias para resolver os problemas das pessoas no dia-a-dia de uma maneira inusitada. Assim começamos a bolar uma infinidade de produtos Tabajara, todos com os seus nomes em inglês, porque o povo leva mais a sério produtos que tem nome em inglês.
Os anúncios tinham um texto padrão. Uma série de perguntas eram feitas ao “consumidor”, para saber se ele tinha determinado problema no seu dia-a-dia. Depois que ele confirmava que sofria com a falta de algo que resolvesse essa necessidade, o locutor mandava:
– Pois agora seus problemas acabaram!
E o produto revolucionário era demonstrado.
Assim vieram:
– o Adesive Plus Emagreceitor Tabajara, um adesivo que tampava a boca da pessoa impedindo-a de comer.
– Alarme Anti-azarator Tabajara – um alarme que avisava ao marido quando a sua mulher estava levando uma cantada.
– Papai-Milk-System Tabajara – Um produto que permitia aos homens amamentarem os seus bebês.
– Higienic Paper Remote Control Plus Tabajara – Um carrinho acionado por controle remoto capaz de levar papel higienico ao banheiro quando ele acabasse no meio da “obra”.
– Cara Digitalizater Tabajara – Que colocava uma cara digitalizada na pessoa quando ela não quisesse ser reconhecida. E ainda acrescentava uma voz de pato.
Foram tantos produtos Tabajara que nem mesmo nós temos ideia de quantos foram, talvez centenas deles.
Em 2002 foi feita uma exposição dos produtos Tabajara. A Expo-Tabajara aconteceu no Rio e em São Paulo e foi um sucesso. O catálogo da exposição acabou nos dando a ideia de fazer um livro sobre as Organizações Tabajara e em 2004 lançamos o Seus Problemas Acabaram, um livro que trazia os melhores produtos das Organizações Tabajara.

Uma curiosidade: Depois que lançamos vários produtos Tabajara, eu fiz uma viagem de férias a Londres e descobri numa livraria um livro japonês que tinha fotos de vários produtos inúteis. O livro era o “101 unuseless japanese inventions”, de Kenzi Kawakami. Os produtos eram muito similares aos produtos Tabajara. Adaptamos alguns dos produtos japoneses para propagandas Tabajara. Quando nós fomos ao Japão para gravar um especial de final de ano, conseguimos o endereço do autor do livro que comprei em Londres e fomos falar com ele. Kenji Kawakami, além de autografar os nossos livros, nos deu autorização para usar os produtos do livro no programa.

Aos poucos a palavra Tabajara virou um sinônimo para coisas sem utilidade ou malfeitas. E o sucesso dos produtos Tabajara obrigou alguns produtos que se chamavam Tabajara a mudar de nome.
Mesmo depois de tanto tempo fora da TV, volta e meia as Organizações Tabajara são lembradas até por jornalistas, políticos ou figuras públicas. É só surgir uma proposta de lei esdrúxula ou qualquer ideia ridícula de inovações inúteis na política ou economia que já se tasca que aquilo é Tabajara. Tabajara já virou um adjetivo, e como tal é escrito com a inicial minúscula: tabajara. Tudo bem que tabajara é uma palavra meio tabajara, mas bem que podia ser dicionarizada, não é? Ou será que um dicionário que contenha a palavra tabajara é um dicionário Tabajara?

MEMÓRIAS – OS DISCOS DE CASSETA & PLANETA

Quando o programa virou semanal, em 1998, paramos de fazer todas as outras coisas que fazíamos. Não fizemos mais shows e não gravamos mais discos. Foi o fim da nossa carreira musical, para comemoração de alguns , que achavam que nós éramos uns picaretas nessa área, e tristeza de outros, que acho que era a maioria, que adorava as nossas músicas.
A nossa carreira musical foi marcada pelo lançamento de três discos. Se você não sabe o que são discos, digamos que era uma espécie de spotify físico. Foram o Preto com buraco no meio, que saiu em LP e cassete, o Para comer alguém, em LP, e CD, e The bost of Casseta & Planeta, só em CD. Procurem no Google para saber o que são Lps, cassetes e Cds. Nós fomos os autores de todas as letras, sempre junto com o Mu Chebabi, que fazia as músicas.
O primeiro disco, o Preto com buraco no meio, foi o que fez mais sucesso. Veio na esteira do sucesso do nosso primeiro show. Foi lançado em 1989 pela Warner, que deu carta branca para o produtor Paulinho Albuquerque produzir o disco. O Paulinho, que foi o diretor do nosso show, era um produtor de responsa e conhecia todo mundo no mundo musical.
A gente cantava as musicas no show, mas quando pisasse num estúdio toda a nossa desafinação ficaria evidente, mesmo com todos os equipamentos afinadoraizers e enganaizers que já havia no mercado. Então o Paulinho partiu do principio de que a base musical teria que ser fodaça. Assim a banda que nos acompanhava nos shows foi substituída pelos melhores músicos que havia para fazer as bases Só tinha craque tocando. Guitarristas como Torcuato Mariano, saxofonista como Leo Gandelman, por aí. Um dia durante uma gravação o Paulinho me falou o seguinte:
– Trouxe um percussionista que é um cara novo , mas é foda. O cara trouxe três Kombis de instrumentos de percussão pra gravação. O cara novo que era foda era o Carlinhos Brown.
Acabou que a nossa cantoria não ficou tão mal assim e o disco ficou maneiro. As duas músicas que fizeram mais sucesso foram Mãe é mãe e Tô Tristão. A gente foi a vários programas de TV para divulgar o disco, onde cantava principalmente Mãe é mãe e o Tributo a Bob Marley (Reggae da Jamaica), já que o outro sucesso do disco, o Tô Tristão não dava para tocar na TV. Outras músicas do disco: Diga, Com tanta gente passando fome, Adolescente, Rap do vagabundo, Meu bem, Mobral, Mama Austria. A última música do disco era Punheta, mas que vinha com um aviso de que Punheta tinha sido proibida de tocar em todo o território nacional.
O nome do disco, Preto com buraco no meio, veio da ideia de que, quando nos entrevistassem, os jornalistas certamente fariam essa pergunta:
– Como é o Lp?
E a nossa resposta então seria:
– É preto com um buraco no meio. – Que era o formato dos LPs.
Mas quando o Lp foi lançado a capa acabou sugerindo outra interpretação , já que trazia um negro furando com uma britadeira um LP. O Tim Maia , já puto com a imitação que o Bussunda estava fazendo dele, disse que a capa era racista e assim a polêmica estava lançada. Não fugimos de discutir o assunto, fomos até a debates para garantir que não havia nenhuma conotação racista.
Só mais um detalhe: Na faixa Tributo a Bob Marley tivemos a participação especial de Djavan, justamente cantando a parte que fala dele: “Tentei ir pra Paris, Londres, Amsterdã, ganhar alguma grana imitando o Djavan”.

Em 1994 lançamos o Para comer Alguém, pela gravadora Velas. Algumas músicas: Nietzsche, Moqueca, Paulista, Mauricio, Surfista e Apogeu e Gloria ao Rock’n roll. A música Dance dance tinha a participação da Fernanda Abreu.

O terceiro disco foi uma compilação, o The bost of Casseta & Planeta, lançado pela Som Livre.
Outro dia fiz as constas e constatei que sou co-autor de 17 músicas. Achei legal, posso até botar no meu currículo que sou compositor.

MEMÓRIAS – CASSETA & PLANETA VIRA SEMANAL

No final de 1997, início de 1998, a Tv Globo passou por uma mudança radical. O todo-poderoso Boni saiu da empresa e no seu lugar entrou a Marluce Dias, o que teve reflexo em muitas áreas da empresa. Para comandar a programação da emissora, A Marluce chamou o Daniel Filho. Aguardamos apreensivos o que mudaria na nossa situação, até que um dia nós fomos chamados para conversar com ele. Não sabíamos o que vinha, mas por outro lado, o programa fazia sucesso e isso nos deixava confiantes.
Me lembro que o Daniel Filho nos recebeu na hora do almoço. A reunião foi curta. Ele disse que o programa estava indo bem e que tinha uma proposta para a gente: que o programa fosse semanal com a duração de trinta minutos, as terças-feiras depois da novela. O que a gente achava? Topamos na hora. Quando saímos da sala, um olhou para o outro e todos perguntamos: Será que dá?
Uma coisa é fazer um programa mensal de 45 minutos, outra é fazer um programa semanal de 30 minutos quando as mesmas pessoas que escrevem o programa são as que atuam nele. Passamos um tempo discutindo qual era a melhor maneira de fazer caber tudo o que precisávamos fazer em uma semana. Como escrever e gravar um programa de segunda a sexta? A primeira resolução foi parar de fazer tudo que tínhamos além do programa. Dedicaríamos todo o nosso tempo ao Casseta & Planeta Urgente. Não teríamos mais o Plantão do Fantástico, nem shows, nem revistas. Só o programa.
Chamamos mais redatores para ajudar a escrever o programa. Continuamos escrevendo, mas recebíamos também colaborações para conseguir colocar 30 minutos de piada-piada-piada, sem muita pausa para respirar, que era o objetivo do programa. Formamos uma ótima equipe de redatores, que ficaram com a gente por muito tempo. Alguns desses redatores estão na Globo até hoje, escrevendo até novela.
Então ficou combinado que a gente gravaria as segunda e terças e a redação seria as quartas, quintas e sextas. Na segunda-feira eram gravadas as atualidades, que iriam ao ar no dia seguinte, o que fazia com que o programa ficasse atualíssimo. Como éramos os redatores do programa, havia a possibilidade de mudar o texto até o último segundo antes da gravação. E até de incluir textos sobre assuntos do fim de semana. Na terça eram gravados os quadros mais “frios”, que poderiam entrar no ar qualquer dia. Esse esquema durou todos os 13 anos em que o programa ficou semanalmente na grade.
E resolvemos também que era preciso criar quadros fixos no programa, não dava para fazer do mesmo jeito que era o mensal, com matérias jornalísticas. Foi assim que começaram a surgir os personagens que marcaram tanto o programa. E também a paródia da novela, aproveitando que o programa começava assim que a novela encerrava.
O Casseta & Planeta Urgente estreou em abril de 1998 e… funcionou! Ficamos no ar todas as terças-feiras depois da novela até 2010.

MEMÓRIAS – É PRO FANTÁSTICO?

O primeiro ano do Casseta & Planeta Urgente mensal fez sucesso. Aos poucos o povo foi se acostumando com a nossa maneira de fazer jornalismo mentira, humorismo verdade. Passamos no teste. Seguimos pelo segundo ano fazendo parte da Terça Nobre. E depois pelo terceiro. E ainda por mais três. O programa mensal foi até 1997.
Nos primeiros anos do Casseta & Planeta Urgente no ar, o presidente do Brasil era o Itamar Franco, que no programa virou o Devagar Franco, sempre acompanhado de sua arisca tartaruga de estimação, a Flexa. O Reinaldo personificava o Devagar e sempre que fazíamos uma entrevista com o nosso presidente , ele perguntava:
– É pro Fantástico?
– Não, é pro Casseta & Planeta. – Respondia um dos nossos repórteres.
Pois em 1995, dois anos depois de estar no ar, fomos chamados para participar do Fantástico. Mas não pudemos mais responder positivamente para o Devagar, porque o presidente aquela altura era o Fernando Henrique Cardoso.
O nosso quadro no Fantástico era o Plantão Casseta & Planeta, duas ou três quadros curtos que entravam durante o programa dominical. Agora a gente apareceria todas as semanas para o público e ficaríamos mais conhecidos. Para diferenciar do programa que ia ao ar mensalmente, resolvemos parodiar o Fantástico, usando os repórteres do programa. Assim surgiram vários personagens como Chicória Maria (Helio), Leilane Beckenbauer (eu), Mauricio Kibrusco (Claudio Manoel), Pedro Miau (Madureira), Jeca Camargo (Bussunda), Ótima Bernardes (Reinaldo), Alexandre Gracinha (eu), Celso Fritas (Hubert), Cassandra Iceberg (Claudio Manoel), Corisco José (Hubert) e outros. Acho que todos os repórteres da Globo na época foram homenageados com um personagem nosso. Não sei se todos os jornalistas gostaram das nossas brincadeiras, mas nunca soubemos de nenhuma reclamação, pelo contrário, muitos diziam que gostavam.
O diretor do Casseta & Planeta Urgente, José Lavigne, também dirigia o Plantão. A gente gravava os quadros do Fantástico junto com os quadros do programa.
O Plantão Casseta & Planeta foi a nossa oportunidade de brincar com os fatos da semana, fazendo piadas com tudo que acontecia, brincando com as atualidades em cima do laço, o que era mais difícil num programa mensal. E se a gente já havia começado a fazer alguns personagens, o Plantão do Fantástico nos animou a entrar de vez no mundo dos personagens, reais e fictícios, o que foi uma viagem sem volta.
O Plantão Casseta & Planeta ficou no ar até 1997, quando a gente passou para semanal. Agora a gente ia aparecer todas as semanas na programação da Globo num programa só nosso. O Casseta & Planeta tomou conta das terças-feiras da TV Globo.

MEMÓRIAS – A ESTREIA DO CASSETA & PLANETA URGENTE

Em 1992 foi ao ar o primeiro Casseta & Planeta Urgente. O programa era mensal, fazia parte da Terça Nobre. Depois de um ano de experiência no Dóris para Maiores, agora tínhamos a responsabilidade de colocar um programa inteiro no ar. Eram 45 minutos de conteúdo. Uma puta responsa que encaramos numa boa. Não me lembro de ter ficado nervoso na estreia, mas deve ter rolado um friozinho na espinha.
Nessa fase de programa mensal nós levamos a fundo o lema “Jornalismo mentira, humorismo verdade”. Esse falso jornalismo que resolvemos fazer era uma maneira também de nos proteger, afinal era mais fácil fazer o papel de repórter, já que nós não éramos atores. O problema era que o repórter muitas vezes tinha que entrevistar um personagem que tinha que ser feito por um de nós, portanto não deu para fugir de virarmos atores. E fomos pegando esse traquejo.

Gravávamos bastante em externa, fazendo reportagens, buscando um lado mais maluco de vários temas. Também apostamos bastante em conversar com as pessoas na rua, no que chamávamos de “povo fala”. Tínhamos um jeito de abordar as pessoas, que nos permitia perguntar os maiores absurdos de uma maneira engraçada. Depois que ficamos mais conhecidos ficou ainda mais fácil abordar as pessoas na rua. Era só chegar perto que o pessoal já ria. Também apostamos em paródias da TV e paródias de musicas, que sempre gostamos de fazer. Nessa fase mensal ainda não brincávamos com as novelas da Globo, nem havia personagens fixos.
Nos dois primeiros anos o programa era ancorado pelo Katia Maranhão, que apresentava as matérias que a gente fazia na rua. A partir de 1994, a Maria Paula assumiu esse posto e acabou fazendo várias matérias junto com a gente. Era a oitava Casseta.
Como o povo começou a nos ver mais na TV, passamos a ser mais reconhecidos na rua. Mas naqueles tempos, a galera não sabia muito bem os nomes da gente. O único nome que as pessoas pegaram foi o do Bussunda, ou algo bem próximo, quase sempre chamavam de Buzunga, Burunga, Bussunga, Bundunga ou algo por aí. Os outros de nós ou eram chamados por essas variações de Bussunda ou então de Seu Casseta. Acabamos assumindo o Seu Casseta e passamos a nos chamar no programa desse jeito: Seu Casseta. Até hoje eu muitas vezes sou chamado de Seu Casseta.
Se fosse lançado nos dias de hoje o programa provavelmente não teria esse nome, dificilmente a palavra Casseta seria aceita. Mas eram outros tempos e foi bastante natural que o programa se chamasse Casseta & Planeta Urgente, afinal esse era o nome do grupo. Se quisermos fazer uma defesa bem tosca do nome, podemos dizer que o “casseta” do nosso nome é grafado com dois esses, ao contrário da caceta com significado mais chulo, que é com cê. Mas eu disse que a defesa era tosca. Mesmo assim, não me lembro de reclamações. E Casseta & Planeta passou a fazer parte da vida dos brasileiros, virou algo bastante natural, falado por todo mundo sem nenhuma objeção, qualquer avozinha conservadora falava Casseta sem enrubescer.
O Casseta & Planeta em sua fase mensal durou 6 anos, de 1992 a 1997. Até que recebemos uma proposta da Globo de virar semanal.

MEMÓRIAS – DÓRIS PARA MAIORES

O terceiro ano do TV Pirata começou animado, o programa estava indo bem, o Ibope correspondia e havia muita gente curtindo. Mas um pouco depois da estreia, surgiu uma novidade no horizonte da televisão. A TV Manchete lançou uma novela chamada Pantanal, que começou a fazer sucesso, muito sucesso. E numa jogada inteligente, o Pantanal começava assim que a novela das nove da Globo acabava, ou seja, exatamente na hora que começava o TV Pirata. E assim, o público que adorava o programa de humor inovador que a gente fazia, começou a adorar também a novela inovadora que a Manchete transmitia. E o Ibope da TV Pirata caiu, assim como o de toda a programação que vinha depois da novela. Nervosismo na Globo, que estava ficando em segundo lugar no Ibope. E a atitude tomada pela diretoria foi desesperada: cancelar toda a programação depois da novela. O que eles colocaram no lugar, eu não lembro, provavelmente filmes.
Assim o TV Pirata acabou. Mas graças a Deus não fomos demitidos. A ordem que nós, os redatores recebemos foi: bolem novos programas. E assim todo mundo da redação da TV Pirata começou a bolar novos programas. Me lembro vagamente de que nós do Casseta nos juntamos com o Pedro Cardoso e Patricia Travassos e bolamos um sitcom que tinha algo a ver com travestis. Mas acho que isso não foi para frente. O nosso principal projeto foi o que fizemos junto com a galera do Planeta: um programa de humor com a gente na frente das câmeras, uma espécie de jornalismo de humor, o embrião do que seria o Casseta & Planeta Urgente. Algumas pessoas da redação não acreditavam no nosso projeto, mas quando os projetos foram apresentados para a diretoria da Globo, o nosso projeto foi um dos únicos aprovados. Acho que a nossa performance nos shows e no carnaval daquele ano foram importantes para que a diretoria da Globo percebesse que havia algo interessante naquele grupo. E assim gravamos um piloto.
No início do ano de 1991, o furacão Pantanal já havia acabado. A novela seguinte da Manchete não fez tanto sucesso e a Globo decidiu apostar no que foi chamado de Terça-feira Nobre, que teria um programa diferente a cada semana. E um dos programas aprovados para fazer parte da Terça nobre era um misto do nosso projeto de jornalismo de humor com matérias jornalísticas, que seriam capitaneadas pelo Geneton Moraes Neto, uma fera do jornalismo. O programa seria apresentado pela Doris Giesse, que havia sido recentemente contratada pela Globo. Era o Dóris para Maiores.
O Doris para maiores foi a nossa estreia na frente da TV. Ali já estavam as nossas reportagens de jornalismo mentira, humorismo verdade. Já ensaiamos os povos fala, quando íamos as ruas “conversar” com o povo. Foi uma boa maneira de iniciarmos na TV, sem a responsabilidade de um programa só nosso e podendo soltar a nossa imaginação e testar a nossa “habilidade” de enfrentar as câmeras. O Doris para Maiores durou apenas um ano. Em 1992 estrearia o Casseta & Planeta Urgente.

MEMÓRIAS – CASSETA & PLANETA NO CARNAVAL DE 1990

Depois de dois anos escrevendo para o TV Pirata, fomos convidados pelo Boni para uma empreitada diferente. Ele chamou Casseta & Palenta para a cobertura do carnaval no Sambódromo. Teríamos um camarote na Sapucaí, de onde mandaríamos as nossas piadas nos intervalos dos desfiles das escolas.
Assim foi montado o Camarote do Casseta & Planeta. Foi a primeira vez que aparecemos na telinha, até ali só escrevemos. Acho que foi a primeira vez também que muita gente ouviu falar de um grupo de humor com esse estranho nome. E talvez a primeira vez que Casseta tenha sido tão falada na telinha.
Preparamos um monte de piadas e intervenções, bolamos inúmeras perguntas para fazer para os famosos e partimos com a cara e a coragem. Muita coragem, porque não tínhamos muita ideia do tamanho que era a audiência, de que seríamos vistos por milhões de pessoas, ou talvez não tenhamos pensado nisso. Não sei quem foi mais doido: o Boni por nos chamar, ou a gente por aceitar.
E assim foi. Durante o desfile , a produção pegava os famosos e levava pro nosso camarote, onde alguns não tinham ideia de quem éramos nós. E a gente entrevistava todo mundo com perguntas bem diferentes das tradicionais. Entrevistamos um monte de gente: Caetano Veloso, Neguinho da Beija-flor, Paquitas, Gal Costa, bicheiros, passistas, carnavalescos… Luma de Oliveira, deslumbrante, apareceu no camarote com a sua fantasia que era só uma tanguinha e lantejoulas, A Globeleza só de lantejoulas. Eram outros tempos, a nudez era permitida, só falar bunda é que não podia.

Se o nosso nome, Casseta, podia ser falado, a palavra bunda foi proibida. O Boni não deixou falar bunda, logo a parte mais exibida naquele carnaval. O concurso que criamos, que elegeria a Melhor bunda do carnaval passou a ser o Melhor lombo do Carnaval.
Lá pelas duas da manhã, o Bussunda mandou:
– Estamos escolhendo o melhor lombo do carnaval, porque não pode falar bunda.
Um tempinho depois, o telefone toca, era o Boni. Gelamos. “O Boni liberou a bunda!”, foi a mensagem que chegou e respiramos aliviados. E assim, pudemos eleger a melhor bunda do carnaval. O vencedor foi o Jorge Lafond, um drag-queen que fez sucesso como Vera Verão. Mas como ele já devia ter ido para casa, não apareceu para pegar o troféu. Acabamos transferindo a eleição para o ano seguinte.
Foram dois dias muito loucos e tensos, mas acabamos mandando bem. Foi um sucesso. E acho que foi decisivo para algum tempo depois passarmos para a frente das câmeras para fazer o nosso programa.

MEMÓRIAS – A CAMPANHA DO MACACO TIÃO

Em 1988 viramos redatores da TV Pirata em tempo integral. Talvez as pessoas tenham estranhado o programa no início, ele era diferente dos programas de humor anteriores. Nunca um programa de humor havia prescindido da claque, aquelas risadas depois da piada. E não havia um astro central, mas uma trupe que se revezava nos esquetes. Por suas inovações, havia um risco de o TV Pirata não ser aceito pelo público, mas não foi o que aconteceu. Ele segurou bem o IBOPE, a medida de todas as coisas na Tv aberta.
O ano de 1988 foi, portanto, um ano em que muita coisa mudou. Além de sair da vida de engenheiro para virar redator na Tv Globo, ainda fizemos um show que foi sucesso e a revista se solidificou, vendendo bastante. E no segundo semestre, mais um evento: a campanha do Macaco Tião.
Tudo começou quando o Jardim Zoológico do Rio resolveu criar uma campanha para melhorar as finanças. Ofereceu o patrocínio dos animais às empresas. Assim a Shell logo “adotou” o tigre, que era símbolo da empresa, o Mate Leão fez o mesmo com o leão, e outras mais. Mas o animal que mais fazia sucesso no Zoo era o Macaco Tião, um chimpanzé que interagia com as pessoas, que jogava bosta nas autoridades e que diziam que era louco por mulheres louras. Nós da Casseta resolvemos fazer uma jogada de marketing e gastar uma grana adotando o Tião. Era o patrocínio mais caro do Zoo, mas nós encaramos. Assim o macaco passou a ter uma placa com o logo da revista em sua jaula.
E então vieram as eleições para a prefeitura do Rio. Os candidatos não empolgavam ninguém e nós resolvemos lançar o Macaco Tião como candidato. Começamos a campanha na revista, era uma piada, é claro. Mas quando a piada é boa , ela pega e a “candidatura” do Tião começou a ficar falada.
Fomos ao Zoológico para lançar a candidatura do Macaco. Vários jornais foram cobrir o evento, que foi um sucesso. O macaco Tião parecia saber que era candidato, posava para fotos e em um determinado instante o Bussunda foi até um canto da jaula e o Tião se aproximou dele. Os dois pareciam até que trocavam algumas ideias. Bussunda então se declarou porta-voz do candidato e falou sobre as suas ideias. Os jornalistas anotaram tudo direitinho.
A campanha do Tião atingiu o seu ápice num show que promovemos para o candidato no Circo Voador. Vários artistas foram convidados, além de nós do Casseta & Planeta, que cantaríamos alguns das músicas do nosso show. O Circo Voador lotou naquela noite. Então, no meio do show um problema: Lobão, que seria a principal atração, ligou e disse que não ia. Tensão nos bastidores. Como é que íamos dizer para a multidão que a principal atração não iria? Então, alguém da produção descobriu que o Ultraje a Rigor estava na cidade. Conseguiram ligar para eles, que toparam participar do show. O show do Ultraje fechou o showmício que foi um sucesso.

Dizem que o Macaco Tião teve 400 mil votos naquela eleição, resultado que nunca foi comprovado porque o nome dele não estava na cédula. Mas como a votação ainda era em papel, muita gente escreveu Macaco Tião no seu voto. E não só no Rio de Janeiro. Com essa votação ele teria ficado em 3o lugar naquela eleição, ou seja, era a Terceira Via muitos anos antes. Dizem também, que o Macaco Tião entrou para o Guiness como o chipanzé mais votado na História.

MEMÓRIAS – AS CAMISSETAS

Em 1987, no sexto numero da revista Casseta Popular, resolvemos lançar umas camisetas engraçadas para vender. Chamamos de camissetas, as camisetas da Casseta. A empreitada começou tímida, lançamos apenas três estampas: “Liberdade, ainda que à tardinha”, “Vá ao teatro, mas não ne chame” e “Casseta Popular, eu leio e entendo”. As duas primeiras foram ideias minhas. O anúncio das camisetas ficava no verso da contracapa e ainda era em preto & branco. Curiosidade: custavam 340 cruzados, que não tenho a menor ideia de quanto seria hoje em dia.
As camisetas fizeram um certo sucesso, o que nos animou, tanto que na revista número 8, criamos mais algumas estampas, entre elas “Liberdade é passar a mão na bunda do guarda” e , principalmente uma que tinha uma bandeira do Brasil estilizada com os dizeres: “Ê povinho bunda”. Essa foi a campeã de vendagem por todo o tempo em que vendemos camisetas, nunca deixou de vender. Venderia ainda hoje, com certeza.

A cada número da revista a gente bolava novas estampas, duas ou três, e tirava as que vendiam menos. Algumas faziam muito sucesso e permaneciam no catálogo. Além da “Ê povinho bunda”, também ficaram “Punição ao chopp de colarinho branco” ou “Eu sobrevivi a um pé na bunda”, entre outras. O anúncio das camisetas passou a ocupar a contracapa da revista e a ser em cores. Com o tempo, as camisetas eram tantas que ocupavam a contracapa e o seu verso, ambas coloridas.
Foram mais de 50 estampas. Muitos amigos e amigas posaram como modelos para as camisetas. Durante a campanha do Macaco Tião, quando lançamos uma camiseta de apoio ao candidato, conseguimos um macaco para ser modelo.

Durante um tempo nos empolgamos e lançamos também calcinhas e cuecas com estampas engraçadas. Mas não fizeram muito sucesso. Quem é que vai usar uma cueca onde está escrito “Aposentado”?
Apesar do sucesso de vendas das camisetas, nunca fomos bom administradores e elas não nos renderam muita grana, mas acabavam ajudando a bancar a revista.
Um dia, eu estava na redação escrevendo um texto, quando entrou um sujeito que eu não conhecia na minha sala. “Oi, tudo bem?”, perguntei. O cara então disse quem era. Na verdade, ele não falou, só mostrou a sua arma. A redação estava sendo assaltada. Eram três caras que trancaram todo mundo que estava na redação naquele momento numa sala e fizeram a limpa. O que eles levaram? Camisetas, que era só o que havia de valor. Ninguém se machucou, foi mais o susto e o prejú. Nos dias seguintes soubemos que os moradores de uma favela na zona sul do Rio estavam todos andando com as nossas camisetas. Tremendo sucesso!

MEMÓRIAS: ESCREVENDO PARA O TV PIRATA

Começamos a escrever para o TV Pirata animados. Eu, Helio, Bussunda e Claudio formávamos um grupo de redatores. A nossa cota de textos semanais para mandar não era fixa, mas como éramos um grupo, mandávamos muitos roteiros. E um percentual bem alto do que a gente enviava para a redação final acabava entrando no programa. O Madureira escrevia com o Reinaldo e o Hubert.
Naquele tempo, idade das trevas da informática, ainda escrevíamos a mão, num bloco pautado. Então dávamos o texto pronto para uma secretária que trabalhava para a gente e ela datilografava. Tanto as máquinas de escrever como o verbo datilografar não são mais usados. Na redação final, o Claudio Paiva fazia um cut-paste mezozóico, que era cortar com tesoura o pedaço do texto a se utilizar e colar num papel, junto com as modificações que ele queria fazer no texto. O texto final normalmente era uma enorme tripa de papéis colados, que era novamente datilografado e enviado para a produção. Não lembro quando começamos a escrever em computador, imprimir os textos e mandar pela Internet.
Escrevemos vários quadros que fizeram sucesso, como TV Macho, As Presidiárias, muitas paródias de propagandas, Piada em debate (que era um quadro do nosso show que adaptamos para o programa). Me lembro que um dia, logo no início, o Claudio Paiva nos ligou e pediu para escrevermos quadros com personagens femininos, porque as atrizes estavam com menos papéis que os atores. Fomos para a nossa reunião com essa encomenda. Começamos a pensar em algum quadro, repetindo na cabeça o mantra: “precisamos de papéis femininos, precisamos de papéis femininos…”. Resultado: Saiu o quadro TV Macho, que era um quadro que sacaneava os machos, mas não tinha muitos papéis femininos. Não foi de sacanagem, mas acabou rolando. Como o quadro era bem engraçado, nós mandamos e fomos bastante sacaneados pelo Claudio Paiva. Mas pelo menos criamos um quadro que fez bastante sucesso. E para nossa defesa, havia um papel feminino que a Regina Casé fez, que ficou muito legal. Era uma torcedora do Botafogo, presidente da torcida Violência alvi-negra. Muito engraçado!
Depois nos redimimos e criamos um quadro para as atrizes: As presidiárias. Nesse quadro a Claudia Raia fazia uma presidiária lésbica, papel que ela adorou, pois só fazia mulheres lindas e maravilhosas. Ela adorou a personagem. Também fez muito sucesso. A novela “Fogo no rabo” (“Barbosaaaa”) era da galera do Planeta.
Escrevemos os primeiros textos do TV Pirata na nossa sede na Praça Onze. Agora ninguém mais vinha da praia, todo mundo chegava lá cedo para trabalhar. Tinhamos que fazer a nossa cota semanal para o TV Pirata e ainda escrever a revista Casseta Popular, que continuava sendo lançada todos os meses nas bancas de jornal.
Algum tempo depois, acho que no segundo ano de TV Pirata, alugamos uma sala na zona sul, em Botafogo, onde montamos a nossa redação. A sede da revista e das camisetas ainda continuou na Praça Onze.