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MEMÓRIAS – A REVISTA

A revista Casseta Popular teve 53 números lançados, de 1986 a 1992. Passamos por várias editoras. Começamos na Núcleo-3, a mesma editora do Planeta, mas só ficamos 3 números por lá. Logo conhecemos um cara que foi muito importante para a revista, o Toninho Mendes. A sua editora, a Circo Editorial, que ficava em São Paulo, já tinha um papel de destaque na área do humor e dos quadrinhos. A Circo publicava o Laerte, o Angeli e o Glauco, com suas revistas incríveis como a Piratas de Tietê, a Chiclete com Banana e outras. O Toninho topou nos publicar e a partir do número 4, nós passamos a ser mais uma das revistas da Circo. O Toninho sabia tudo de revistas e a revista tomou ares de coisa profissional. A partir do número 6, o Roni Bala disse que queria se dedicar ao trabalho dele e saiu da revista. A redação passou a ser eu, Helio, Claudio, Bussunda e Madureira.
Nesse processo de profissionalização que aconteceu com a troca de editora, a revista agora tinha um jornalista responsável, o Emanoel Jacobina. Ele também era o nosso gerente, tomava conta da parada toda. Logo, o Emanoel passou a fazer parte da redação com o nome de Mané Jacó. Alugamos uma sede que ficava no Centro da cidade, na Cinelândia, na rua 13 de maio. Era lá que nos encontrávamos para escrever a revista. As reuniões eram quase sempre nos finais de tarde, já que alguns de trabalhavam. Normalmente nós, os que trabalhavam, éramos os primeiros a chegar, já que a galera que vinha da praia quase sempre atrasava. Sabe como é, Ipanema fica longe da Cinelândia.
Não ficamos muito tempo no Centro. Logo fomos para a praça Onze num prédio que era alugado pelo pai do Claudio Manoel. A nossa nova sede era grandinha, um andar inteiro, mas tinha pouquíssimos móveis. A sede da Praça Onze virou sinônimo da revista para mim. Ali aconteceu bastante coisa. A revista estava vendendo bem e começamos a produzir as camisetas para vender. As primeiras três foram “Vá ao teatro… mas não me chame”, “Liberdade ainda que a tardinha” e “Casseta Popular… Eu leio e entendo”. Logo bolamos outras camisetas e a campeã de vendas sempre foi a que trazia a frase “Ê povinho bunda” no lugar do Ordem e Progresso, numa bandeira brasileira estilizada.
A Circo publicou 7 números da revista, inclusive um número que teve que mudar de capa. Colocamos um Jesus Cristo gay na capa e mandamos os originais para São Paulo. O Toninho nos ligou, disse que ele tinha achado a capa do caralho, mas os jornaleiros estavam se recusando a vender a revista. Propôs que mudássemos a capa. Topamos e mandamos uma capa em que um menino passava a mão na bunda do papa. Aparentemente não há problema em passar a mão na bunda do Sumo Pontífice e a revista foi distribuída normalmente.
A nossa experiência com a Circo Editorial foi muito legal, o Toninho Mendes nos ensinou muita coisa, mas partir da revista número 11, saímos da Circo e passamos a produzir nós mesmos a revista, pela nossa editora, a Toviassu Produções Artísticas.

MEMÓRIAS – ENTRE A ATLÉTICA E O CENTRO ACADÊMICO

Eu estudei na UFRJ, na ilha do Fundão, que era longe pra cacete. E era difícil de chegar, não tinha ônibus. Na verdade, até tinha, mas eram poucos os que entravam na Ilha do Fundão e que portanto estavam sempre lotados. O jeito era saltar na avenida Brasil e pegar uma carona, o que era comum. Ou então ir de carro. Eu tinha um fusca e logo conheci alguns outros alunos que moravam perto de mim. A gente revezava a carona, cada dia ia no carro de um. Mas esses caras eram meus amigos de carona. Os caras que eu conversava mesmo, que encontrava entre as aulas, que almoçava junto, e que logo comecei a encontrar fora da faculdade foram outros: o Hélio e o Marcelo. O Hélio era da minha sala , a turma C, o único negro da turma. Não me lembro quando nós começamos a conversar, mas foi logo no início. O Marcelo passou para o turno da tarde, eram 3 turmas de manhã e 3 a tarde. Não sei que artimanhas o Marcelo armou, mas acabou indo para a turma C.
Fora das salas de aula havia uma divisão clara na Engenharia entre a Atlética e o Centro Acadêmico. A Atlética era onde se jogava totó e sinuca, modalidades nem um pouco atléticas, mas que faziam bem mais sucesso do que as aulas de cálculo diferencial e integral. A galera vivia ali, muita gente virou craque em totó, alguns nem saiam dali. Mas eu, Hélio e Marcelo não éramos frequentadores da Atlética, a nossa parada era o movimento estudantil.
Naquele ano 1978, o movimento estudantil estava retornando a ativa. Ainda estávamos no governo Figueiredo, mas o general não queria mais porra nenhuma, só queria tratar de seus cavalos. O Centro Acadêmico de Engenharia foi reaberto no ano anterior e estava a pleno vapor. É claro que a galera do CA veio receber os calouros, e tratar de chamar quem quisesse participar do movimento estudantil para o seu lado. E nós 3 queríamos! Ingênuo, eu não sabia muito bem o que estava por trás daquela turma gente boa do centro acadêmico, não sabia que a Engenharia estava dividida entre o Partidão e o MR-8, que eram essas duas facções que militavam por ali e que estavam brigando entre si pela gente. A galera do Partidão estava a frente do CA, era mais gente boa e acabou nos ganhando. Eu, Hélio e Marcelo logo passamos a fazer parte dessa turma.
O Marcelo já tinha feito movimento estudantil no Aplicação e conhecia um pouco desse ambiente. Acho que o Helio andou vendo alguma coisa com amigos do São Bento, mas eu era um neófito completo, não sabia de nada e estava achando muito legal participar daquele movimento, escutar aquelas discussões. Logo passamos a entender tudo sobre política, a apoiar a frente democrática do partidão contra a frente popular do MR-8, éramos parte do que o pessoal do partido chamava de círculo. E 1978 prometia: era o momento de reabrir o DCE e a política estudantil assim saia do âmbito da Escola de Engenharia para a universidade inteira. Acompanhamos os nossos companheiros do CA em várias outras faculdades, na Praia Vermelha onde ficava a Economia e a Comunicação, no IFCS onde ficava a turma de humanas, na Medicina onde conhecemos os caras que são nossos médicos até hoje, e na Arquitetura, onde ficava o sonho da namorada linda própria.
Não sei em que momento, entre as aulas de cálculo e física, o centro acadêmico e a campanha pelo DCE que nós 3 encontramos tempo para decidir escrever um jornalzinho. A ideia era fazer um jornal de humor que brincasse com tudo aquilo que estávamos presenciando na universidade: o movimento estudantil, a vida de calouro, as aulas de engenharia, por aí. O humor foi uma coisa que nos uniu desde as primeiras conversas. Nós três éramos fãs do Monty Phyton, leitores do Pasquim, gostávamos de tudo de humor, desde Woody Allen até Costinha. A ideia de fazer um jornalzinho veio daí. Escrevemos o primeiro exemplar que tinha um mote político: Por mais mulheres na engenharia! O jornal foi feito da maneira mais tosca possível, rodado num mimeografo a álcool que a mãe do Helio, que era professora, tinha em casa para rodar provas. Se você não sabe o que é um mimeografo a álcool, procura no Google. O que eu posso dizer é que a impressão sai na cor roxa. E borrada. O resultado é bem tosco. Então juntamos uns 100 exemplares, nem sei se foi tudo isso, daqueles jornais que eram umas 4 folhas grampeadas , impressas em tinta roxa e borrada e saímos vendendo de mão em mão. O nome do jornal , depois de muita discussão acabou sendo Casseta Popular, uma brincadeira com Gazeta, nome de muitos jornais. Não me lembro de quem foi a ideia, mas acho que foi do Marcelo. O jornalzinho, mesmo tosco, foi um sucesso. Se é que vender 50 a 60 exemplares pode ser considerado sucesso.

MEMÓRIAS – O ASCENSORISTA DA PUC

1977 foi o ano do meu vestibular. Naquela época era assim que se chamava o ENEM. No vestibular a gente tinha que escolher as opções de faculdade antes de fazer a prova. Eu passei o ano todo na dúvida, entre economia e engenharia, na verdade eu dizia que estava na dúvida, mas a pressão lá em casa para fazer engenharia era enorme, sabe como é, naquele tempo essa ideia de que economista ficava rico ainda não existia, aliás, acho que nem o mercado financeiro existia ainda. Então, me inscrevi para engenharia.

Então veio a outra questão: As duas melhores faculdades de engenharia eram a UFRJ e a PUC. A UFRJ participava do Cesgranrio, o vestibular unificado e a PUC havia saído do Cesgranrio naquele ano e a prova seria separada. Fiz as duas provas e, bom aluno que era, passei nas duas. Então tinha que decidir: PUC ou UFRJ.
Para impressionar os calouros e conseguir os melhores alunos, a PUC realizou uma visita as suas instalações. Mostravam como a universidade era organizada, com instalações maneiras e principalmente, como era bem equipada. O ponto alto da visita era o acelerador de partículas. Nem eu, nem os outros calouros, sabíamos para que servia um acelerador de partículas, mas que era um troço que impressionava, era. Principalmente para um bando de nerds como os que me acompanhavam naquela visita. Vimos o tal acelerador de partículas que ajudou bastante a acelerar a minha decisão de ir para a PUC, então nos disseram que o próximo passo era visitar as salas de aula. E foi aí que os professores da PUC erraram. Se a visita tivesse terminado no maravilhoso acelerador de partículas, talvez eu tivesse optado pela PUC (o acelerador de partículas nem era um equipamento tão impressionante assim, mas aquele nome pomposo era um marketing avassalador)
Então fomos pegar o elevador para visitar as salas e foi aí que um personagem fundamental apareceu: o ascensorista. Para quem não sabe, ascensorista era uma espécie de piloto de elevador, profissão que acho que nem existe mais.
Éramos uns 4 ou 5 nerds aguardando o elevador. Então a porta abriu, nós entramos e o ascensorista falou:
– Ih, lá vem o pessoal dos 4 mil por mês!
A frase do ascensorista me calou fundo. Não seria eu que pagaria 4 mil cruzeiros (a moeda da época) por mês, seria o meu pai. E se eu já estava chateado por depender do meu pai para tudo, então não era uma boa continuar dependendo do velho para pagar a minha faculdade. E a UFRJ era gratuita. Então a visita que era para me convencer a estudar na PUC, me convenceu a ir para a UFRJ.
Naquela mesmo dia, comentei com um amigo sobre o assunto e ele deu a cartada final:
– Acho que a UFRJ também tem um acelerador de partículas.
Decidi me matricular na UFRJ.
Não fosse o ascensorista e eu talvez tivesse estudado na PUC. Assim, não conheceria o Helio e o Marcelo, nunca teria feito uma revista chamada Casseta Popular e o Casseta & Planeta talvez não existisse.

PALAVRAS FORA DE MODA

A minha geração, pessoas que nasceram no final dos anos 50, início de 60, conviveu com algumas palavras que a galerinha hoje em dia praticamente não conhece. Eu , por exemplo, durante toda a infância e adolescência tive que ouvir que era um IMPRESTÁVEL. Era só não fazer alguma tarefa em casa , o que , confesso que acontecia bastante e lá vinha um “que menino IMPRESTÁVEL!”
Outra palavra que me acompanhou pela infância foi ESGANADO. Eu era muito ESGANADO. Era só a travessa de bife ser posta na mesa , que eu atacava e lá vinha: “Deixa de ser ESGANADO!”
Outra palavrinha muito usada naquela época era ATENTADO. Mas não no sentido atual, ligada a bombas e terrorismo, que naquela época isso não era muito comum. ATENTADO era o menino que era muito levado. “Que menino ATENTADO!” , era a frase que os jovens que aprontavam mais escutavam. Bom, eu não fui um menino ATENTADO, mas ESGANADO E IMPRESTÁVEL eu fui.
E hoje em dia um presidente IMPRESTÁVEL, muito ATENTADO e ESGANADO por se reeleger provoca um ATENTADO contra a saúde pública.

JÁ VAI TARDE, TRUMP!

Eu nem me lembrei que cerimônia de posse é um troço chato para cacete, eu adorei a posse do Biden. Na verdade do que gostei mesmo foi da cerimônia do “Já vai tarde!” para o Trump. Lady Gaga cantando o hino? Maneiro. Bruce Springsteen? Legal. Discurso civilizado do Biden? OK. Kamala Harris? Muito bom. Trump fora da Casa Branca? Sensacional! Incrível! PQP! Uhhhhhuuuuuuuuuuuuuuuuu!
E aí vi comentários na internet dizendo que o Biden vai assumir a Casa Branca e usar a mesma privada que o Trump usava. Não vejo problema, porque certamente as cagadas que Trump fez ali eram menos fedorentas do que as que fez com a sua caneta.
Aliás, assim que assumiu, o primeiro ato do Biden foi puxar a descarga. Não a descarga da privada da Casa Branca, mas a descarga para limpar as diversas bostas que o Trump fez. Biden fez questão de voltar para a OMS e para o acordo de Paris, entre outras merdas deixadas pelo Laranjão.
Espero não ouvir tão cedo o nome de Trump. Vou evitar falar até palavras que lembrem dessa figura nefasta. Nem trampolim, que lembra um pouco Trump, eu vou falar mais. Tromba lembra Trump? Acho que não, mas só por precaução também não vou mais falar. Também não vou nunca mais cantar a música “The lady is a tramp”, mesmo sabendo que não tem nada a ver com o cara, mas a palavra tramp lembra Trump. Tudo bem que eu nunca cantei essa música na minha vida, mas não vai ser agora que vou começar. Aliás, para garantir não quero escutar nem o nome Donald. Vou evitar até o Pato Donald e o Mc Donald!
Dia 20 de janeiro de 2021 foi um dia histórico. Dia em que o mundo se livrou de Donald Trump. E nós, brasileiros, esperamos um outro dia histórico o mais breve possível.

AUIKA!

Cientistas acham que pode haver vida em Vênus. Eles chegaram a essa conclusão depois de analisar um gás lá no planeta. Bacana, parece até que os caras são fodões, mas na verdade esses caras estão muito atrasados. Eu já sabia disso desde criança e não precisei analisar gás nenhum. Aliás, eu não só sei que existe vida em Vênus, como sei quem mora lá: são os Incas Venusianos. Os cientistas não assistiam National Kid, meu programa favorito quando devia ter uns quatro anos de idade.

Aliás, eu nunca entendi a obsessão do cinema americano por Marte. Os alienígenas em Hollywood são sempre marcianos, nunca são de Vênus. Mas os japoneses já sabiam que se existe vida fora da terra, ela está em Vênus, não em Marte. E sabem também que esses moradores de Vênus, os Incas Venusianos, são muito perigosos. Até o National Kid penou para derrotá-los.

Falando de National Kid, muita gente lembra da frase “Celacanto provoca maremoto”, que ficou famosa quando foi pichada em vários muros do Rio de janeiro há um tempo atrás.

Mas pouca gente recorda que é do National Kid o momento mais triste da dramaturgia mundial, a cena que mais me fez chorar na vida em qualquer filme ou seriado. Foi quando, no último episódio, o National Kid se despede de seus amiguinhos terráqueos e volta para o seu planeta. Eu, criança, me debulhei em lágrimas, chorei rios, como nunca mais fiz em minha vida diante de uma tela de TV ou cinema. Mais um ponto para os japoneses!

NO DESFILE DE 7 DE SETEMBRO

Aos 18 anos entrei para a universidade. Adorei aquele ambiente acadêmico e naquele tempo, 1978, em plena ditadura militar, tive contato com o movimento estudantil. Comecei a frequentar o Centro Acadêmico e a participar da luta contra a ditadura, mas no final do ano fui obrigado a me alistar no exército. Não queria servir de jeito nenhum, afinal eu era contra o governo militar, não podia entrar justamente para o exército. Mas sabe quando você vai dando todos os passos errados? Podia ter arrumado um atestado médico falso, muita gente tentava isso. “Se eles desconfiarem que é falso pode ser pior”, me disseram. Passei no exame médico. Podia ter me alistado normalmente, mas seguindo conselhos vindos nem sei de onde, me alistei no CPOR. “Lá é mais fácil de sair”, disseram. Mas justamente naquele ano os caras resolveram “aumentar o nível da tropa” no CPOR e pegar gente que estava na faculdade. E ali estava eu, o público alvo ideal. Fui passando por todas as fases sem conseguir me livrar, até que eu finalmente consegui um pistolão. Era um capitão do CPOR. Então, na última etapa da seleção, quando eu já estava esperando há horas para saber se ia ou não servir o exército, o meu pistolão, o tal capitão, mandou me chamar. Eu fui lá , crente que o cara ia me liberar mas ele falou:
– Olha, eu tenho duas pessoas pra tirar daqui. Você e mais um. Mas eu só vou conseguir livrar um. O problema é que o outro é meu sobrinho.
E assim eu dancei.
De repente , eu, o jovem que havia entrado na universidade, se encantado com o movimento estudantil, vestiu um uniforme verde-oliva e foi aprender a ser soldado em plena ditadura militar. Ralei bastante no início, e aguentei calado vários oficiais fazendo discursos contra os subversivos que atacavam o governo da Revolução de 64, achando sempre que eles estavam falando comigo. De vez em quando, eu tomava coragem e, diante de um discurso direitista qualquer, sussurrava para algum recruta amigo que estivesse ao meu lado “Abaixo a ditadura!”. Nunca ninguém falou nada, provavelmente porque eu falava tão baixinho que ninguém nem escutava.
Até que chegou o sete de setembro. E eu descobri que íamos desfilar na Avenida presidente Vargas. Justo eu, que lutava contra a ditadura, desfilando para enaltecer o governo militar? Fiquei mal, morri de vergonha. Não contei para nenhum amigo, principalmente a galera do movimento estudantil. Mas para os meus pais eu não tive como esconder. Minha mãe se animou e foi assistir ao desfile.
Depois, já em casa, eu perguntei para ela:
– Você me viu?
– Era todo mundo igualzinho, mas eu consegui te ver.
– E aí , o que achou?
– Você estava lindo, meu filho. E era o único que estava marchando no passo certo!

QUANDO O MUNDO PAROU

Dois caras estavam conversando quando, de repente, ficaram congelados, sem conseguir se mexer. Só conseguiam mexer a boca, bem pouquinho, o suficiente para conseguirem falar.
– O que está acontecendo? – O primeiro perguntou.
– Não sei. Parece que o mundo parou. – O outro respondeu.
– É isso mesmo, o mundo parou. – Explicou um sujeito barbudo que surgiu do nada.
– Quem é você?
– Deus. Fui eu que parei o mundo. Não está dando pra continuar, eu preciso repensar essa coisa toda.
– Que coisa toda?
– O século XXI. Não tá legal. Acho que vou recomeçar tudo de novo.
– Como assim? Voltar ao século XX?
– Não! Tá maluco? Estou pensando em começar de novo, lá do Adão e daquela menina, a Eva. Já passei por isso antes, no século XVII. O mundo estava indo num caminho ruim, pensei em começar de novo, mas aí apareceu o iluminismo, que era bem legal e eu mudei de ideia.
– E agora?
– Agora tá difícil. No século passado também foi complicado, começou mal, primeira guerra mundial, nazismo, segunda guerra, fiquei deprimidão, eu ia parar o século, mas aí deu preguiça, acabei deixando rolar. Então a coisa melhorou um pouco, e teve o jazz, o rock, o cinema, a televisão, o futebol, aquela agitação legal dos hippies, Woodstock e principalmente aconteceram as Copas do Mundo, né? Eu adoro Copa do Mundo!
– Mas esse início de século está tão ruim assim?
– Tá ruim, né? O século já começou com atentado. Terrorismo à beça, King Jon Un, Maduro, Trump, esse capitão lá no Brasil… Cinema é só super-herói, música é eletrônica, televisão repetitiva, e pior: que ideia é essa de fazer Copa do Mundo em Dubai? Tá ruim, tem que começar de novo.
– Que isso Deus? Não faz isso não. E as redes sociais, não são legais? São desse século.
– Legal nada! Um inferno! Todo mundo olhando para o aparelhinho o tempo todo!
– Mas, Deus, olha só, tem coisa boa no século XXI. Tem os… tem as… Ah, lembrei! Tem o streaming, as séries, Game of Thones…
– Game of Thrones eu parei de ver. O arcanjo Gabriel me dava spoiler e eu cansei.
– Mas, Deus, tem mais coisa legal, tem a Champions League…
– É, da Champions eu até gosto. A sorte de vocês é que eu estou sem ideias e estou sem saco para aturar o Adão de novo, o cara era muito chato. Eu vou fazer o seguinte: vou lançar um negocinho aí que vai fazer vocês pararem uns dois anos para repensar tudo. Daqui a dois anos eu penso no que fazer. E vou logo avisando: Vocês têm que resolver esse negócio de VAR, esse troço não funciona.
Então o barbudo sumiu e chegou o coronavirus.

EU FUI DA INTENDÊNCIA

O ministro interino da saúde é um general do serviço de Intendência. Para quem não sabe os oficiais do exército podem ser da artilharia, da cavalaria, da infantaria, da engenharia e da intendência, que é a responsável pelos suprimentos. Por que eu sei disso? Porque quando eu tinha 18 anos, eu dancei, como se dizia na época, e servi o exército. Servi no quartel do CPOR, em São Cristovão. No CPOR você não é soldado, é chamado de aluno e quando sai está apto a ser um oficial da reserva. E depois de uns 3 meses lá, aprendendo a atirar, marchar e essas coisas que se faz na tropa, a gente tinha que optar por uma das armas ou serviços. Eu optei pela Intendência. E agora que vi que o general interino é de Intendência, me vieram algumas lembranças, entre elas um pedacinho do Hino da Intendência, que começava assim:

Eu sou a intendência
Cuja nobre missão
É suprir, transportar,
Dar à tropa assistência.

Relembrando esses versos me vêm 3 questões:
1- Pela letra do hino, podemos ver que tratar assuntos de saúde não é uma das nobres missões da Intendência. A única palavra mais ou menos ligada a área da saúde é assistência, que era como a minha avó chamava as ambulâncias.
2- O Brasil não entrou em muitas guerras em sua história, mas em qual delas as tropas foram comandadas por um interino?
3- Que neurônio é esse, que podendo guardar tanta coisa, lembrou dessa letra?

Obs – Na imagem lá em cima , vocês podem me ver marchando numa parada em 1979. Segundo a minha mãe, que assistiu, eu era o único que estava marchando no passo certo.