MEMÓRIAS – O ASCENSORISTA DA PUC

1977 foi o ano do meu vestibular. Naquela época era assim que se chamava o ENEM. No vestibular a gente tinha que escolher as opções de faculdade antes de fazer a prova. Eu passei o ano todo na dúvida, entre economia e engenharia, na verdade eu dizia que estava na dúvida, mas a pressão lá em casa para fazer engenharia era enorme, sabe como é, naquele tempo essa ideia de que economista ficava rico ainda não existia, aliás, acho que nem o mercado financeiro existia ainda. Então, me inscrevi para engenharia.

Então veio a outra questão: As duas melhores faculdades de engenharia eram a UFRJ e a PUC. A UFRJ participava do Cesgranrio, o vestibular unificado e a PUC havia saído do Cesgranrio naquele ano e a prova seria separada. Fiz as duas provas e, bom aluno que era, passei nas duas. Então tinha que decidir: PUC ou UFRJ.
Para impressionar os calouros e conseguir os melhores alunos, a PUC realizou uma visita as suas instalações. Mostravam como a universidade era organizada, com instalações maneiras e principalmente, como era bem equipada. O ponto alto da visita era o acelerador de partículas. Nem eu, nem os outros calouros, sabíamos para que servia um acelerador de partículas, mas que era um troço que impressionava, era. Principalmente para um bando de nerds como os que me acompanhavam naquela visita. Vimos o tal acelerador de partículas que ajudou bastante a acelerar a minha decisão de ir para a PUC, então nos disseram que o próximo passo era visitar as salas de aula. E foi aí que os professores da PUC erraram. Se a visita tivesse terminado no maravilhoso acelerador de partículas, talvez eu tivesse optado pela PUC (o acelerador de partículas nem era um equipamento tão impressionante assim, mas aquele nome pomposo era um marketing avassalador)
Então fomos pegar o elevador para visitar as salas e foi aí que um personagem fundamental apareceu: o ascensorista. Para quem não sabe, ascensorista era uma espécie de piloto de elevador, profissão que acho que nem existe mais.
Éramos uns 4 ou 5 nerds aguardando o elevador. Então a porta abriu, nós entramos e o ascensorista falou:
– Ih, lá vem o pessoal dos 4 mil por mês!
A frase do ascensorista me calou fundo. Não seria eu que pagaria 4 mil cruzeiros (a moeda da época) por mês, seria o meu pai. E se eu já estava chateado por depender do meu pai para tudo, então não era uma boa continuar dependendo do velho para pagar a minha faculdade. E a UFRJ era gratuita. Então a visita que era para me convencer a estudar na PUC, me convenceu a ir para a UFRJ.
Naquela mesmo dia, comentei com um amigo sobre o assunto e ele deu a cartada final:
– Acho que a UFRJ também tem um acelerador de partículas.
Decidi me matricular na UFRJ.
Não fosse o ascensorista e eu talvez tivesse estudado na PUC. Assim, não conheceria o Helio e o Marcelo, nunca teria feito uma revista chamada Casseta Popular e o Casseta & Planeta talvez não existisse.

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1 Comment

  1. Rodrigo Rossi julho 4, 2021 at 6:35 pm

    Obrigado, Ascensorista!

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