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MEMÓRIAS : FAMOSOS NO CASSETA & PLANETA

Foram muitos os convidados que foram ao nosso programa. Mas é claro que alguns convidados chamaram mais atenção, ou porque eram muito famosos, ou porque era inusitado aparecerem em um programa de humor, ou porque fizeram algum quadro muito diferente. Toda vez que se sabia que algum convidado iria ao Projac gravar com agente, já havia uma mobilização de gente para ver a gravação. Apareciam pessoas de outras produções para assistir a gravação, o próprio pessoal da produção levava gente para ver e muitas vezes, nós mesmos levávamos algum conhecido que queria muito ver o famoso.
Dos convidados muito famosos, acho que o Pelé foi o que angariou mais expectadores extras. A gravação, mesmo dentro do Projac, foi complicada tal a quantidade de gente que queria ver o Rei. E o Pelé gravou super bem os quadros que escrevemos para ele, como se estivesse em casa. O Edson também se mostrou bem a vontade.
A Xuxa também causou alvoroço, estava no auge do sucesso quando foi ao programa. Uma criançada apareceu do nada para ver as gravações.
Sandy e Junior gravaram várias vezes com a gente. Sempre com muita gente presente para ver a dupla.
Os pais deles, Chitãozinho e Xororó também gravaram com a gente.
Alguns convidados foram mais de uma vez ao programa, como Romário, Ronaldo Fenômeno, Ivete Sangalo, Zezé de Camargo e Luciano, Bruno e Marrone, Regina Casé, Zeca Pagodinho, Xuxa, Luciano Huck, Angelica… A lista é grande.
Fernanda Montenegro nos deu a honra de ir ao programa e foi hilário.


Da música, recebemos do rock ao sertanejo, da MPB e do pop à música brega: Caetano, Rita Lee, Skank, Raimundos, Charlie Brown Jr, J.Quest, Lulu Santos, Reginaldo Rossi, É o Tchan, Bruno e Marrone, Zezé diCamargo e Luciano, Leonardo, Daniel…
Quando a gente entrou na TV, no TV Pirata, arrumamos uma treta com o Chico Anysio. Anos depois, Chico Anysio foi ao programa e desfizemos quaisquer rusgas que tínhamos, foi muito bom.
Outro cara que teve problemas com a gente, o Rubinho Barrichello também acabou indo ao programa e a gravação se deu num clima super tranquilo. Ele foi super simpático. Acho que depois ele esqueceu disso, porque voltou a falar mal da gente.
Praticamente todo mundo que fazia sucesso acabava batendo o ponto no programa. Alguns que apareceram por lá eu nem sei onde foram parar. Lembram de Mauricio Manieri, Karametade, Rodrigo Dourado do BBB, Pepe e Neném?
Alguns convidados foram completamente inusitados, como o economista Armínio Fraga que topou fazer um motorista de táxi.
Alguns famosos nós gostaríamos muito de ter levado ao programa, mas não conseguimos. Um deles foi o Guga, o tenista, que nunca topou ir. E o outro que sempre quisemos que fosse, mas não conseguimos levar foi o rei Roberto Carlos. Fizemos várias investidas, mas ele sempre foi arisco. Me lembro de ter ido a um show do rei com o Helio para convidar ele para o programa. Depois do show fomos ao camarim falar com o rei, que nos recebeu super bem, gostou do convite e garantiu que ia no programa. Mas não rolou. Teve um momento que achamos que ele ia, chegamos a escrever o texto para a participação dele no programa, mas ele acabou desmarcando.
As vezes a gente escrevia quadros especiais para os convidados, mas outras a gente fazia algum episódio de algum personagem com a participação do famoso. Foi assim com Acarajette Lovve, que recebeu Ivete, Claudia Leitte, Daniela Mercury e até a Joelma da Banda Calipso.
O Tabajara Futebol Clube também recebeu vários convidados, desde Romário e Ronaldinho, até Vanderley Luxemburo e Joel Santana.
Mas a maior participação por metro quadrado de famosos no programa, se deu na campanha do Pum, mais de vinte celebridades foram ao Projac para cantar com a gente o jingle da campanha, cujo refrão dizia:
Não solte pum no elevador
O ar eu eu respiro
Não pode ter nenhum fedor.
Sem falar dos convidados internacionais, mas isso é assunto para outro post.

MEMÓRIAS: FUCKER & SUCKER, UMA DUPLA DE DOIS TIRAS

A polícia brasileira e seus métodos heterodoxos sempre foi tema para o Casseta & Planeta. Fizemos dezenas de quadros sobre esse assunto, principalmente por sermos cariocas e o Rio de Janeiro ser uma das cidades mais violentas do país, ou pelo menos, a cidade onde as tragédias policiais mais repercutem país a fora.
A ideia do quadro era confrontar dois policiais americanos, supostamente honestos e cumpridores de seus deveres, com um policial brasileiro totalmente corrupto. Os dois “tiras” vêm fazer um intercâmbio no Brasil e caem justamente numa delegacia ultra-corrupta comandada pelo personagem do delegado.
O nome completo da série era “Fucker & Sucker – uma dupla de dois tiras (A pair of two double cops)”, uma brincadeira com as antigas séries de policiais americanos. Os nomes dos atores que faziam Fucker e Sucker também eram fictícios – Johny de Bruce e Chuck Smegman. A piada começava no nome dos policiais gringos: Fucker e Sucker. A segunda piada era que eles eram dublados. Coube ao Hubert e ao Reinaldo essa moleza, um papel em que não precisavam decorar nenhuma fala. Já o papel que tinha falas para decorar era meu, o delegado corrupto, que falava bastante. Aliás, esse personagem nem nome tinha, ele era conhecido apenas como “delegado”, e eu sempre gostei muito de interpretá-lo. Na época eu inclusive sabia que o Fucker era o Hubert e o Sucker era o Reinaldo. Ou seria ao contrário?
Um dos destaques desse quadro eram as dublagens de Fucker e Sucker que eram feitas por dois craques das dublagens: o Marcio Simões, que fez o Gênio de Aladim, dublava o Fucker; e o Mauro Ramos, que fez o Pumba de Rei Leão, fazia o Sucker. Ou seria ao contrário?
As dublagens muitas vezes eram feitas na própria gravação do quadro, quando os dois geniais dubladores, ficavam do lado de fora da cena, dando as falas , enquanto o Reinaldo e o Hubert apenas mexiam a boca. Já eu tinha que decorar mesmo as falas. “Oh, fezes!” – como diria Fucker. Ou seria Sucker?
A série fez muito sucesso , foram dezenas de quadros onde quase sempre o carro de Fucker e Sucker era roubado e eles acabavam atrapalhando os “negócios” do Delegado, um precursor das milícias, muito antes do Tropa de elite 2.
Vários convidados participaram da série. Me lembro bem da Tiazinha, que enlouquecia a galera na época e enlouqueceu todo mundo na gravação. Mas os convidados mais famosos, foram os integrantes do Deep Purple. Quando Ian Gillan, o vocalista do Deep Purple ouviu o nome dos personagens da série, ele se mijou de rir. Eu, como um fã incondicional do grupo, fiquei bobo, meio estupefato vendo os meus ídolos , na minha frente, tocando “Smoke on the water”. Fiquei tão embasbacado, que quando a gravação da música acabou, o diretor me chamou para a próxima cena, mas eu permaneci ali de boca aberta. Ele então gritou:
– Beto, mexa esse traseiro gordo! – Como diria Fucker. Ou seria Sucker?

MEMÓRIAS: MEUS PERSONAGENS NO CASSETA & PLANETA

Durante os quase vinte anos do programa Casseta & Plaenta Urgente, eu fiz centenas de personagens, de todos os tipos e gêneros.
Certamente o meu personagem, ou minha personagem, que mais fez sucesso foi a Acarajette Lovve, cantora de axé baiana retada, que se achava a melhor cantora de axé do mundo. Do mundo só não! Da Bahia! (Já falei sobre Acarajette aqui, neste post EU JÁ FUI UMA DIVA DO AXÉ…)
Outro personagem que fiz e que, particularmente gosto bastante, foi o Delegado do Fucker e Sucker. O personagem era chamado assim, só de Delegado. Ele era um policial altamente corrupto e cruel, que fazia contraponto aos ingênuos policiais americanos, que eram feitos pelo Hubert e Reinaldo e dublados pelos incríveis… Foi caracterizado como Delegado que eu gravei com o Deep Purple, ídolos demais e quase não consegui segurar a onda para fazer o Delegado, sempre escroto e cruel, eu parecia uma criança diante de seus ídolos.
Um personagem que muita gente lembra até hoje é o Peludão da Sauna Gay. Ele nem era para ser um personagem. Nós escrevemos um quadro sobre um sujeito , o Wanderney, que frequentava uma sauna gay, mas não assumia a sua condição homossexual. O escalado para o papel foi o Hubert. Na hora da gravação, o diretor não achou legal que o Hubert fosse o único dos Casseta a participar do quadro ao lado de vários figurantes e pediu para um outro Casseta participasse também. Eu fui escalado. O personagem não tinha falas, nem nome. Na hora da gravação eu fiquei lá atrás do Hubert, fazendo massagem nos seus ombros, enquanto ele falava:
– Eu só tenho amigos gays, frequento a sauna gay, mas eu não sou gay!
O quadro fez muito sucesso e resolvemos escrever mais. O meu personagem virou fixo e ganhou um nome por conta do meu corpo um tanto cabeludo. Era o Peludão. Aos poucos o Peludão acabou ganhando falas também. O quadro durou muito tempo, e até convidados famosos frequentaram a Sauna Gay.
Na época que fizemos quadros para o Fantástico, cada um de nós personificou um jornalista famoso da Globo. Foi aí que surgiu a Chicória Maria, a Ótima Bernardes, e no meu caso , o Alexandre Gracinha (Alexandre Garcia) , por conta da minha barba, que na época tinha que ser pintada de branco e também a Leilane Beckenbauer (Leilane Neubarth), em que, ao contrário, a minha barba tinha que ser “escondida”.
No Tabajara Futebol Clube ( ver aqui O TABAJARA FUTEBOL CLUBE…), eu era o Wanthuirson, um veterano jogador, ao lado do maravilhoso personagem do Bussunda, o Marrentinho, e do Penico , do Reinaldo, além do Ruizinho, Ruinzinho Gaucho, Samambaia, Múmia, Pirata, do goleiro Águia e da craque do time, a Vaca.
Wanthuirson, um jogador em final de carreira há vários anos, tentava sempre dar o seu ponto de vista e dizia:
– Ouça a voz da experiência…
Mas Marrentinho fazia exatamente o contrário do que ele sugeria.
No inicio do programa, ainda no programa mensal eu fui, junto com o Helio, um dos Bananas de Cueca , uma paródia aos Bananas de Pijamas, cuja música tema era:
Bananas de Cuecas
Sujas, mal lavadas
Bananas de Cuecas
Não arrumam namoradas…
Outra paródia de programa infanti foram os Cassetubbies, uma sátira ao programa Teletubbies, que fazia sucesso com as crianças. Eu o fazia o Cassetubbie Baba.
E nas novelas que parodiamos fiz muitos personagens. Muitas vezes o personagem do Toni Ramos caia na minha mão, pelo mesmo motivo que fui o Peludão. Foram dezenas de personagens de novelas. Uma das que mais arrancou risadas certamente foi a Gema, de Passione, que na novela original era a Araci Balabarian. A nossa novela se chamou Pegassione. Toda vez que alguém falava com a personagem, terminava a frase com o nome dela: Gema.
E então eu atendia o pedido e gemia:
– Ahaaaann!
Devo estar esquecendo de alguns personagens, foram muitos. Fora os personagens fixos, foram centenas, talvez milhares de personagem que participavam de um programa e nunca mais apareciam.
Fui desde um pacato cidadão a prefeitos ou outras autoridades, desde gerentes de banco a assaltantes, desde donas de casa a executivos. Devem ter sido uns 50 policiais diferentes, uns 40 meliantes, uns 150 deputados corruptos e até um deputado honesto. Na verdade agora , pensando aqui, eu não tenho muita certeza se esse último personagem realmente existiu.

MEMÓRIAS – CASSETA & PLANETA TAMBÉM É LITERATURA

Em um determinado momento, lá no início de nossa carreira de grupo de humor, nós resolvemos dar uma organizada interna para conseguir produzir tudo que queríamos. Criamos o que denominados de ministérios. Cada um de nós era responsável por um “ministério”, ou seja, por uma área, DVDS, músicas, livros, etc… O Claudio e o Reinaldo, não entraram nessa divisão, pois já integravam um ministério importante: a redação final do programa, que exigia muito tempo de trabalho. Não me recordo exatamente quais eram os ministérios de cada um, só lembro que o Bussunda fez questão de assumir o Ministério do Ócio e Lazer, cargo que exerceu com muita responsabilidade e competência.
Eu fiquei responsável pelo Ministério dos Livros. Sempre gostei muito de ler e de livros e pulei em cima desse cargo com a fome que um deputado do Centrão tem por um cargo no governo hoje em dia. Nem preciso dizer que não queria o Ministério dos Livros para roubar ou distribuir rachadinhas para a minha família.
Não era eu o responsável por escrever os livros do grupo, mas por produzi-los, ou seja, reunir os textos já escritos, juntar a galera para ter ideias para os livros ou para convencê-los a escrever textos para os livros. Acho que fiz direitinho o meu trabalho porque nós acabamos lançando mais de 20 livros.
Em 1994, já com o Casseta & Planeta Urgente no ar, a editora Record nos procurou. Perguntou se nunca havíamos pensado em lançar um livro. Conversamos sobre que livro poderíamos fazer e veio a ideia de um livro de frases. Como ministro da pasta, assumi o trabalho de organizar o trabalho, saí a caça de frases do grupo em todos os lugares, compilei frases da revista Casseta Popular e do Planeta Diário, nos quadros do programa. Era só algum de nós dizer algo engraçado que eu anotava. Juntei um montão de frases e pensamentos e as dividi em capítulos por assunto. Juntamos o grupo e fomos passando as frases uma a uma, melhorando algumas e descartando outras. Bolamos títulos engraçados para os capítulos e acabamos lançando o Grande livro dos pensamentos de Casseta e Planeta.
O livro foi um sucesso! Vendeu muito bem. Ficamos empolgados e eu, como editor do livro, ainda mais animado que a galera, parti de novo na pescaria por frases que escrevemos, pensamentos que esboçamos, falas de quadros de programa, tudo que pudesse ser transformado numa frase engraçada. Mais uma vez puxei a galera para bolar novas frases e, ainda em 1994, conseguimos lançar mais um livro de frases: O enorme livro dos pensamentos de Casseta e Planeta. Sucesso também.
Em 1994 ainda veio o Manual do Sexo Manual, com textos sobre sexo publicados nas revistas e alguns textos inéditos.
No ano seguinte, seguimos em nossa carreira “literária” e lançamos o Livro místico, esotérico e sobrenatural de Casseta e Planeta, com a ideia de brincar com esse tipo de assunto que andava bombando no mercado editorial na época (na verdade, até hoje esse assunto rende).
Ainda em 1995 juntamos as melhores entrevistas publicadas nas revistas Casseta Popular e Casseta & Planeta e produzimos o livro Casseta & Planeta – Entrevistas, com entrevistas com Caetano Veloso, Jaguar, Gabeira, Paralamas, entre outras.
Por conta principalmente dos livros de frases, que haviam virado best-sellers e que tiveram várias edições, a nossa carreira literária estava de vento em popa. Então, o nosso passe foi negociado com outra editora, a editora Objetiva. Nos sentimos como craques de futebol, só faltou o cachê milionário e as luvas.
(continua no próximo post)

MEMÓRIAS – MAÇARANDUBA E O DIÁRIO DE UM MACHO

Quando o Casseta & Planeta passou a ser semanal, em 1998, precisamos dar várias mexidas no jeito de fazer o programa. Enquanto ele era semanal baseávamos o programa em matérias pseudo-jornalísticas, muitas viagens, muitas visitas a eventos para entrevistar pessoas, agora com programa indo ao ar todas as semanas não teríamos tempo para sair tanto do estúdio. Se por um lado ganhávamos as atualidades como matéria prima para piadas, por outro lado não era toda semana que aconteciam coisas interessantes no país. Portanto precisávamos ter um cardápio de matérias mais extenso e que não necessitassem que saíssemos tanto do estúdio para gravar. E uma das saídas que pensamos foi criar quadros fixos com personagens, que seriam escritos e gravados com antecedência e que pudessem ir ao ar em qualquer programa.
Criar um bom personagem é um desafio complicado. Fazer o personagem pegar é ainda mais difícil. Um dos primeiros quadros fixos que criamos veio de um esquete que encenamos quando o programa ainda era mensal. Foi baseado num texto antigo publicado na edição número 3 da Casseta Popular. O texto original se chamava “Tem que malhar” e contava a história de um jiujuteiro que invadia uma festinha de quinze anos e dava porrada em todo mundo. Satirizava uma galera boçal que frequentava academias de lutas e que gostava de viver dando porrada em todo mundo. Na nossa versão para TV, criamos dois personagens que lutavam jiu-jitsu e resolviam tudo na base da porrada. Tudo era motivo para eles porrarem alguém, principalmente se duvidassem da masculinidade deles, o que os dois achavam que estava acontecendo toda hora. Os personagens eram o Carlos Maçaranduba e o Ulson Montanha e o quadro se chamou “O diário de um macho”. O nome Carlos Maçaranduba veio de um personagem do Planeta Diário, onde Carlos Maçaranduba era o Fodão do Bairro Peixoto. “O diário de um macho” começava sempre de uma maneira fofa, com a narração em off do Maçaranduba dizendo: “Querido diário”. E a partir daí ele narrava as boçalidades que ele e o seu companheiro Montanha aprontavam.
Quem foi escalado para fazer o Maçaranduba foi o Claudio Manoel e o Montanha, inicialmente, no esquete do programa mensal, foi o Madureira. Mas quando o quadro virou fixo, já no programa semanal, o Montanha coube ao Bussunda.
Maçaranduba ainda tinha um cachorro, um pitbull obviamente, que mordia todo mundo, e que se chamava Sadam.
O primeiro episódio do Diário de um macho no Casseta & Planeta semanal fez muito sucesso, principalmente quando a qualquer pretexto o Maçaranduba falava:
– Ele está obviamente duvidando da nossa masculinidade.
Então lá vinha o bordão do Maçaranduba:
– Vou dar… porrada! – Que Claudio falava com a boca torta de maneira hilária.
Um detalhe: esse bordão não estava no texto. Em um determinado momento durante a gravação viu-se a necessidade de um bordão e o Claudio lançou o “Vou dar… porrada!”
Além deste bordão, que pegou, vários detalhes ajudaram o quadro a funcionar. Além do texto, que era engraçado, o Claudio e o Bussunda foram muito felizes ao “montar” os dois personagens. E aí veio um lado lúdico do quadro, contribuição do nosso diretor José Lavigne: Na hora de dar porrada, Maçaranduba e Montanha batiam em bonecos de pano, que voavam pelo cenário. Não havia nenhum disfarce, todo mundo via que eram bonecos de pano. O cachorrinho Sadam também era um boneco de espuma, o que ainda ajudava ainda mais a dar um ar infantil ao quadro, por incrível que pareça.
O Diário de um macho com o Maçaranduba foi o primeiro quadro fixo que fez muito sucesso. Depois vieram vários outros.

MEMÓRIAS : AS ORGANIZAÇÕES TABAJARA

As Organizações Tabajara foram lançadas ainda na época do programa mensal. Surgiu como uma sátira aos infomerciais, aquelas longas propagandas de venda de produtos que lotavam as TVs nos anos oitenta. Criamos a nossa personal Empresa de Produtos inúteis, as Organizações Tabajara.
O primeiro produto Tabajara foi a Bomba Atômica Tabajara, uma bomba pessoal que qualquer pessoa podia ter. A propaganda fez sucesso e começamos a criar mais produtos desse tipo, ideias para resolver os problemas das pessoas no dia-a-dia de uma maneira inusitada. Assim começamos a bolar uma infinidade de produtos Tabajara, todos com os seus nomes em inglês, porque o povo leva mais a sério produtos que tem nome em inglês.
Os anúncios tinham um texto padrão. Uma série de perguntas eram feitas ao “consumidor”, para saber se ele tinha determinado problema no seu dia-a-dia. Depois que ele confirmava que sofria com a falta de algo que resolvesse essa necessidade, o locutor mandava:
– Pois agora seus problemas acabaram!
E o produto revolucionário era demonstrado.
Assim vieram:
– o Adesive Plus Emagreceitor Tabajara, um adesivo que tampava a boca da pessoa impedindo-a de comer.
– Alarme Anti-azarator Tabajara – um alarme que avisava ao marido quando a sua mulher estava levando uma cantada.
– Papai-Milk-System Tabajara – Um produto que permitia aos homens amamentarem os seus bebês.
– Higienic Paper Remote Control Plus Tabajara – Um carrinho acionado por controle remoto capaz de levar papel higienico ao banheiro quando ele acabasse no meio da “obra”.
– Cara Digitalizater Tabajara – Que colocava uma cara digitalizada na pessoa quando ela não quisesse ser reconhecida. E ainda acrescentava uma voz de pato.
Foram tantos produtos Tabajara que nem mesmo nós temos ideia de quantos foram, talvez centenas deles.
Em 2002 foi feita uma exposição dos produtos Tabajara. A Expo-Tabajara aconteceu no Rio e em São Paulo e foi um sucesso. O catálogo da exposição acabou nos dando a ideia de fazer um livro sobre as Organizações Tabajara e em 2004 lançamos o Seus Problemas Acabaram, um livro que trazia os melhores produtos das Organizações Tabajara.

Uma curiosidade: Depois que lançamos vários produtos Tabajara, eu fiz uma viagem de férias a Londres e descobri numa livraria um livro japonês que tinha fotos de vários produtos inúteis. O livro era o “101 unuseless japanese inventions”, de Kenzi Kawakami. Os produtos eram muito similares aos produtos Tabajara. Adaptamos alguns dos produtos japoneses para propagandas Tabajara. Quando nós fomos ao Japão para gravar um especial de final de ano, conseguimos o endereço do autor do livro que comprei em Londres e fomos falar com ele. Kenji Kawakami, além de autografar os nossos livros, nos deu autorização para usar os produtos do livro no programa.

Aos poucos a palavra Tabajara virou um sinônimo para coisas sem utilidade ou malfeitas. E o sucesso dos produtos Tabajara obrigou alguns produtos que se chamavam Tabajara a mudar de nome.
Mesmo depois de tanto tempo fora da TV, volta e meia as Organizações Tabajara são lembradas até por jornalistas, políticos ou figuras públicas. É só surgir uma proposta de lei esdrúxula ou qualquer ideia ridícula de inovações inúteis na política ou economia que já se tasca que aquilo é Tabajara. Tabajara já virou um adjetivo, e como tal é escrito com a inicial minúscula: tabajara. Tudo bem que tabajara é uma palavra meio tabajara, mas bem que podia ser dicionarizada, não é? Ou será que um dicionário que contenha a palavra tabajara é um dicionário Tabajara?

MEMÓRIAS – CASSETA & PLANETA VIRA SEMANAL

No final de 1997, início de 1998, a Tv Globo passou por uma mudança radical. O todo-poderoso Boni saiu da empresa e no seu lugar entrou a Marluce Dias, o que teve reflexo em muitas áreas da empresa. Para comandar a programação da emissora, A Marluce chamou o Daniel Filho. Aguardamos apreensivos o que mudaria na nossa situação, até que um dia nós fomos chamados para conversar com ele. Não sabíamos o que vinha, mas por outro lado, o programa fazia sucesso e isso nos deixava confiantes.
Me lembro que o Daniel Filho nos recebeu na hora do almoço. A reunião foi curta. Ele disse que o programa estava indo bem e que tinha uma proposta para a gente: que o programa fosse semanal com a duração de trinta minutos, as terças-feiras depois da novela. O que a gente achava? Topamos na hora. Quando saímos da sala, um olhou para o outro e todos perguntamos: Será que dá?
Uma coisa é fazer um programa mensal de 45 minutos, outra é fazer um programa semanal de 30 minutos quando as mesmas pessoas que escrevem o programa são as que atuam nele. Passamos um tempo discutindo qual era a melhor maneira de fazer caber tudo o que precisávamos fazer em uma semana. Como escrever e gravar um programa de segunda a sexta? A primeira resolução foi parar de fazer tudo que tínhamos além do programa. Dedicaríamos todo o nosso tempo ao Casseta & Planeta Urgente. Não teríamos mais o Plantão do Fantástico, nem shows, nem revistas. Só o programa.
Chamamos mais redatores para ajudar a escrever o programa. Continuamos escrevendo, mas recebíamos também colaborações para conseguir colocar 30 minutos de piada-piada-piada, sem muita pausa para respirar, que era o objetivo do programa. Formamos uma ótima equipe de redatores, que ficaram com a gente por muito tempo. Alguns desses redatores estão na Globo até hoje, escrevendo até novela.
Então ficou combinado que a gente gravaria as segunda e terças e a redação seria as quartas, quintas e sextas. Na segunda-feira eram gravadas as atualidades, que iriam ao ar no dia seguinte, o que fazia com que o programa ficasse atualíssimo. Como éramos os redatores do programa, havia a possibilidade de mudar o texto até o último segundo antes da gravação. E até de incluir textos sobre assuntos do fim de semana. Na terça eram gravados os quadros mais “frios”, que poderiam entrar no ar qualquer dia. Esse esquema durou todos os 13 anos em que o programa ficou semanalmente na grade.
E resolvemos também que era preciso criar quadros fixos no programa, não dava para fazer do mesmo jeito que era o mensal, com matérias jornalísticas. Foi assim que começaram a surgir os personagens que marcaram tanto o programa. E também a paródia da novela, aproveitando que o programa começava assim que a novela encerrava.
O Casseta & Planeta Urgente estreou em abril de 1998 e… funcionou! Ficamos no ar todas as terças-feiras depois da novela até 2010.

MEMÓRIAS – É PRO FANTÁSTICO?

O primeiro ano do Casseta & Planeta Urgente mensal fez sucesso. Aos poucos o povo foi se acostumando com a nossa maneira de fazer jornalismo mentira, humorismo verdade. Passamos no teste. Seguimos pelo segundo ano fazendo parte da Terça Nobre. E depois pelo terceiro. E ainda por mais três. O programa mensal foi até 1997.
Nos primeiros anos do Casseta & Planeta Urgente no ar, o presidente do Brasil era o Itamar Franco, que no programa virou o Devagar Franco, sempre acompanhado de sua arisca tartaruga de estimação, a Flexa. O Reinaldo personificava o Devagar e sempre que fazíamos uma entrevista com o nosso presidente , ele perguntava:
– É pro Fantástico?
– Não, é pro Casseta & Planeta. – Respondia um dos nossos repórteres.
Pois em 1995, dois anos depois de estar no ar, fomos chamados para participar do Fantástico. Mas não pudemos mais responder positivamente para o Devagar, porque o presidente aquela altura era o Fernando Henrique Cardoso.
O nosso quadro no Fantástico era o Plantão Casseta & Planeta, duas ou três quadros curtos que entravam durante o programa dominical. Agora a gente apareceria todas as semanas para o público e ficaríamos mais conhecidos. Para diferenciar do programa que ia ao ar mensalmente, resolvemos parodiar o Fantástico, usando os repórteres do programa. Assim surgiram vários personagens como Chicória Maria (Helio), Leilane Beckenbauer (eu), Mauricio Kibrusco (Claudio Manoel), Pedro Miau (Madureira), Jeca Camargo (Bussunda), Ótima Bernardes (Reinaldo), Alexandre Gracinha (eu), Celso Fritas (Hubert), Cassandra Iceberg (Claudio Manoel), Corisco José (Hubert) e outros. Acho que todos os repórteres da Globo na época foram homenageados com um personagem nosso. Não sei se todos os jornalistas gostaram das nossas brincadeiras, mas nunca soubemos de nenhuma reclamação, pelo contrário, muitos diziam que gostavam.
O diretor do Casseta & Planeta Urgente, José Lavigne, também dirigia o Plantão. A gente gravava os quadros do Fantástico junto com os quadros do programa.
O Plantão Casseta & Planeta foi a nossa oportunidade de brincar com os fatos da semana, fazendo piadas com tudo que acontecia, brincando com as atualidades em cima do laço, o que era mais difícil num programa mensal. E se a gente já havia começado a fazer alguns personagens, o Plantão do Fantástico nos animou a entrar de vez no mundo dos personagens, reais e fictícios, o que foi uma viagem sem volta.
O Plantão Casseta & Planeta ficou no ar até 1997, quando a gente passou para semanal. Agora a gente ia aparecer todas as semanas na programação da Globo num programa só nosso. O Casseta & Planeta tomou conta das terças-feiras da TV Globo.

MEMÓRIAS – A ESTREIA DO CASSETA & PLANETA URGENTE

Em 1992 foi ao ar o primeiro Casseta & Planeta Urgente. O programa era mensal, fazia parte da Terça Nobre. Depois de um ano de experiência no Dóris para Maiores, agora tínhamos a responsabilidade de colocar um programa inteiro no ar. Eram 45 minutos de conteúdo. Uma puta responsa que encaramos numa boa. Não me lembro de ter ficado nervoso na estreia, mas deve ter rolado um friozinho na espinha.
Nessa fase de programa mensal nós levamos a fundo o lema “Jornalismo mentira, humorismo verdade”. Esse falso jornalismo que resolvemos fazer era uma maneira também de nos proteger, afinal era mais fácil fazer o papel de repórter, já que nós não éramos atores. O problema era que o repórter muitas vezes tinha que entrevistar um personagem que tinha que ser feito por um de nós, portanto não deu para fugir de virarmos atores. E fomos pegando esse traquejo.

Gravávamos bastante em externa, fazendo reportagens, buscando um lado mais maluco de vários temas. Também apostamos bastante em conversar com as pessoas na rua, no que chamávamos de “povo fala”. Tínhamos um jeito de abordar as pessoas, que nos permitia perguntar os maiores absurdos de uma maneira engraçada. Depois que ficamos mais conhecidos ficou ainda mais fácil abordar as pessoas na rua. Era só chegar perto que o pessoal já ria. Também apostamos em paródias da TV e paródias de musicas, que sempre gostamos de fazer. Nessa fase mensal ainda não brincávamos com as novelas da Globo, nem havia personagens fixos.
Nos dois primeiros anos o programa era ancorado pelo Katia Maranhão, que apresentava as matérias que a gente fazia na rua. A partir de 1994, a Maria Paula assumiu esse posto e acabou fazendo várias matérias junto com a gente. Era a oitava Casseta.
Como o povo começou a nos ver mais na TV, passamos a ser mais reconhecidos na rua. Mas naqueles tempos, a galera não sabia muito bem os nomes da gente. O único nome que as pessoas pegaram foi o do Bussunda, ou algo bem próximo, quase sempre chamavam de Buzunga, Burunga, Bussunga, Bundunga ou algo por aí. Os outros de nós ou eram chamados por essas variações de Bussunda ou então de Seu Casseta. Acabamos assumindo o Seu Casseta e passamos a nos chamar no programa desse jeito: Seu Casseta. Até hoje eu muitas vezes sou chamado de Seu Casseta.
Se fosse lançado nos dias de hoje o programa provavelmente não teria esse nome, dificilmente a palavra Casseta seria aceita. Mas eram outros tempos e foi bastante natural que o programa se chamasse Casseta & Planeta Urgente, afinal esse era o nome do grupo. Se quisermos fazer uma defesa bem tosca do nome, podemos dizer que o “casseta” do nosso nome é grafado com dois esses, ao contrário da caceta com significado mais chulo, que é com cê. Mas eu disse que a defesa era tosca. Mesmo assim, não me lembro de reclamações. E Casseta & Planeta passou a fazer parte da vida dos brasileiros, virou algo bastante natural, falado por todo mundo sem nenhuma objeção, qualquer avozinha conservadora falava Casseta sem enrubescer.
O Casseta & Planeta em sua fase mensal durou 6 anos, de 1992 a 1997. Até que recebemos uma proposta da Globo de virar semanal.

MEMÓRIAS – DÓRIS PARA MAIORES

O terceiro ano do TV Pirata começou animado, o programa estava indo bem, o Ibope correspondia e havia muita gente curtindo. Mas um pouco depois da estreia, surgiu uma novidade no horizonte da televisão. A TV Manchete lançou uma novela chamada Pantanal, que começou a fazer sucesso, muito sucesso. E numa jogada inteligente, o Pantanal começava assim que a novela das nove da Globo acabava, ou seja, exatamente na hora que começava o TV Pirata. E assim, o público que adorava o programa de humor inovador que a gente fazia, começou a adorar também a novela inovadora que a Manchete transmitia. E o Ibope da TV Pirata caiu, assim como o de toda a programação que vinha depois da novela. Nervosismo na Globo, que estava ficando em segundo lugar no Ibope. E a atitude tomada pela diretoria foi desesperada: cancelar toda a programação depois da novela. O que eles colocaram no lugar, eu não lembro, provavelmente filmes.
Assim o TV Pirata acabou. Mas graças a Deus não fomos demitidos. A ordem que nós, os redatores recebemos foi: bolem novos programas. E assim todo mundo da redação da TV Pirata começou a bolar novos programas. Me lembro vagamente de que nós do Casseta nos juntamos com o Pedro Cardoso e Patricia Travassos e bolamos um sitcom que tinha algo a ver com travestis. Mas acho que isso não foi para frente. O nosso principal projeto foi o que fizemos junto com a galera do Planeta: um programa de humor com a gente na frente das câmeras, uma espécie de jornalismo de humor, o embrião do que seria o Casseta & Planeta Urgente. Algumas pessoas da redação não acreditavam no nosso projeto, mas quando os projetos foram apresentados para a diretoria da Globo, o nosso projeto foi um dos únicos aprovados. Acho que a nossa performance nos shows e no carnaval daquele ano foram importantes para que a diretoria da Globo percebesse que havia algo interessante naquele grupo. E assim gravamos um piloto.
No início do ano de 1991, o furacão Pantanal já havia acabado. A novela seguinte da Manchete não fez tanto sucesso e a Globo decidiu apostar no que foi chamado de Terça-feira Nobre, que teria um programa diferente a cada semana. E um dos programas aprovados para fazer parte da Terça nobre era um misto do nosso projeto de jornalismo de humor com matérias jornalísticas, que seriam capitaneadas pelo Geneton Moraes Neto, uma fera do jornalismo. O programa seria apresentado pela Doris Giesse, que havia sido recentemente contratada pela Globo. Era o Dóris para Maiores.
O Doris para maiores foi a nossa estreia na frente da TV. Ali já estavam as nossas reportagens de jornalismo mentira, humorismo verdade. Já ensaiamos os povos fala, quando íamos as ruas “conversar” com o povo. Foi uma boa maneira de iniciarmos na TV, sem a responsabilidade de um programa só nosso e podendo soltar a nossa imaginação e testar a nossa “habilidade” de enfrentar as câmeras. O Doris para Maiores durou apenas um ano. Em 1992 estrearia o Casseta & Planeta Urgente.