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MEMÓRIAS – AS CAMISSETAS

Em 1987, no sexto numero da revista Casseta Popular, resolvemos lançar umas camisetas engraçadas para vender. Chamamos de camissetas, as camisetas da Casseta. A empreitada começou tímida, lançamos apenas três estampas: “Liberdade, ainda que à tardinha”, “Vá ao teatro, mas não ne chame” e “Casseta Popular, eu leio e entendo”. As duas primeiras foram ideias minhas. O anúncio das camisetas ficava no verso da contracapa e ainda era em preto & branco. Curiosidade: custavam 340 cruzados, que não tenho a menor ideia de quanto seria hoje em dia.
As camisetas fizeram um certo sucesso, o que nos animou, tanto que na revista número 8, criamos mais algumas estampas, entre elas “Liberdade é passar a mão na bunda do guarda” e , principalmente uma que tinha uma bandeira do Brasil estilizada com os dizeres: “Ê povinho bunda”. Essa foi a campeã de vendagem por todo o tempo em que vendemos camisetas, nunca deixou de vender. Venderia ainda hoje, com certeza.

A cada número da revista a gente bolava novas estampas, duas ou três, e tirava as que vendiam menos. Algumas faziam muito sucesso e permaneciam no catálogo. Além da “Ê povinho bunda”, também ficaram “Punição ao chopp de colarinho branco” ou “Eu sobrevivi a um pé na bunda”, entre outras. O anúncio das camisetas passou a ocupar a contracapa da revista e a ser em cores. Com o tempo, as camisetas eram tantas que ocupavam a contracapa e o seu verso, ambas coloridas.
Foram mais de 50 estampas. Muitos amigos e amigas posaram como modelos para as camisetas. Durante a campanha do Macaco Tião, quando lançamos uma camiseta de apoio ao candidato, conseguimos um macaco para ser modelo.

Durante um tempo nos empolgamos e lançamos também calcinhas e cuecas com estampas engraçadas. Mas não fizeram muito sucesso. Quem é que vai usar uma cueca onde está escrito “Aposentado”?
Apesar do sucesso de vendas das camisetas, nunca fomos bom administradores e elas não nos renderam muita grana, mas acabavam ajudando a bancar a revista.
Um dia, eu estava na redação escrevendo um texto, quando entrou um sujeito que eu não conhecia na minha sala. “Oi, tudo bem?”, perguntei. O cara então disse quem era. Na verdade, ele não falou, só mostrou a sua arma. A redação estava sendo assaltada. Eram três caras que trancaram todo mundo que estava na redação naquele momento numa sala e fizeram a limpa. O que eles levaram? Camisetas, que era só o que havia de valor. Ninguém se machucou, foi mais o susto e o prejú. Nos dias seguintes soubemos que os moradores de uma favela na zona sul do Rio estavam todos andando com as nossas camisetas. Tremendo sucesso!

MEMÓRIAS: ESCREVENDO PARA O TV PIRATA

Começamos a escrever para o TV Pirata animados. Eu, Helio, Bussunda e Claudio formávamos um grupo de redatores. A nossa cota de textos semanais para mandar não era fixa, mas como éramos um grupo, mandávamos muitos roteiros. E um percentual bem alto do que a gente enviava para a redação final acabava entrando no programa. O Madureira escrevia com o Reinaldo e o Hubert.
Naquele tempo, idade das trevas da informática, ainda escrevíamos a mão, num bloco pautado. Então dávamos o texto pronto para uma secretária que trabalhava para a gente e ela datilografava. Tanto as máquinas de escrever como o verbo datilografar não são mais usados. Na redação final, o Claudio Paiva fazia um cut-paste mezozóico, que era cortar com tesoura o pedaço do texto a se utilizar e colar num papel, junto com as modificações que ele queria fazer no texto. O texto final normalmente era uma enorme tripa de papéis colados, que era novamente datilografado e enviado para a produção. Não lembro quando começamos a escrever em computador, imprimir os textos e mandar pela Internet.
Escrevemos vários quadros que fizeram sucesso, como TV Macho, As Presidiárias, muitas paródias de propagandas, Piada em debate (que era um quadro do nosso show que adaptamos para o programa). Me lembro que um dia, logo no início, o Claudio Paiva nos ligou e pediu para escrevermos quadros com personagens femininos, porque as atrizes estavam com menos papéis que os atores. Fomos para a nossa reunião com essa encomenda. Começamos a pensar em algum quadro, repetindo na cabeça o mantra: “precisamos de papéis femininos, precisamos de papéis femininos…”. Resultado: Saiu o quadro TV Macho, que era um quadro que sacaneava os machos, mas não tinha muitos papéis femininos. Não foi de sacanagem, mas acabou rolando. Como o quadro era bem engraçado, nós mandamos e fomos bastante sacaneados pelo Claudio Paiva. Mas pelo menos criamos um quadro que fez bastante sucesso. E para nossa defesa, havia um papel feminino que a Regina Casé fez, que ficou muito legal. Era uma torcedora do Botafogo, presidente da torcida Violência alvi-negra. Muito engraçado!
Depois nos redimimos e criamos um quadro para as atrizes: As presidiárias. Nesse quadro a Claudia Raia fazia uma presidiária lésbica, papel que ela adorou, pois só fazia mulheres lindas e maravilhosas. Ela adorou a personagem. Também fez muito sucesso. A novela “Fogo no rabo” (“Barbosaaaa”) era da galera do Planeta.
Escrevemos os primeiros textos do TV Pirata na nossa sede na Praça Onze. Agora ninguém mais vinha da praia, todo mundo chegava lá cedo para trabalhar. Tinhamos que fazer a nossa cota semanal para o TV Pirata e ainda escrever a revista Casseta Popular, que continuava sendo lançada todos os meses nas bancas de jornal.
Algum tempo depois, acho que no segundo ano de TV Pirata, alugamos uma sala na zona sul, em Botafogo, onde montamos a nossa redação. A sede da revista e das camisetas ainda continuou na Praça Onze.

MEMÓRIAS – EU VOU TIRAR VOCÊ DESSE LUGAR

Em 1987, eu, Claudio Manoel e Bussunda dividíamos um apartamento, mas nossa parceria no aluguel estava por um fio. Eu trabalhava numa empresa séria (bem séria), a Price Waterhouse. Mas Claudio e Bussunda viviam de bicos. Por conta disso, quando chegava o boleto do aluguel, eu é que pagava. Durante o mês, os dois iam me pagando a parte deles, aos poucos, a conta-gotas. Mas o conta-gotas estava ficando entupido e as gotas não estavam rolando, a situação estava ficando complicada.
O telefonema do Claudio Paiva nos chamando para escrever para o TV Pirata chegou na hora certa em todos os sentidos, inclusive nessa questão do apartamento. Com a grana da TV Globo, pudemos continuar dividindo o apê, e mais do que isso, demos um upgrade. Entramos para a Globo e saímos de frente da Globo. Nos mudamos para uma cobertura em Copacabana.
Mas 1988 reservava ainda outro convite, além do TV Pirata. Um produtor musical, Paulinho Albuquerque, estava fazendo a programação de uma casa noturna, o JazzMania, que ficava no Arpoador. Pelo nome da casa, a programação era toda voltada ao jazz, mas o Paulinho queria que as segundas-feiras fossem diferentes. Ele era fã da Casseta Popular e do Planeta Diário e chamou os dois grupos para se juntarem e fazerem um show.
– Mas a gente escreve revista, nós não somos atores, não fazemos show. – Argumentamos.
– Vocês vão conseguir bolar alguma coisa. – O Paulinho nos convenceu.
Conversamos com a galera do Planeta e resolvemos fazer um show musical. Nós da Casseta , chamamos um amigo do Claudio, o Mu Chebabi, que era músico e começamos a compor uma músicas. Morando juntos, eu Claudio e Bussunda chamávamos o Mu e ficávamos fazendo música até altas horas. As vezes o Helio vinha também. A galera do Planeta também fez umas músicas, Madureira entre eles. Ainda juntamos alguns poucos esquetes e estava pronto o show. Daí vieram grandes clássicos do cancioneiro Casseta&Planetiano, como Mãe é mãe, Reggae da Jamaica, Pastor Josué, Surfista, Tô Tristão, Com tanta gente passando fome, Meu bem e outros.
Demos o nome do show de “Eu vou tirar você desse lugar”, que era o título de uma canção do Odair José. Por quê? Não me lembro, a gente achava legal o cara, que era brega e polêmico.
O Mu Chebabi arregimentou uma banda para nos acompanhar, ensaiamos bastaste e estreamos no Jazzmania com a cara e a coragem. O show estreou praticamente junto com o TV Pirata na TV. E para surpresa de muita gente, principalmente nós mesmo, o show deu muito certo. A gente não desafinava muito e o mais importante era a reação do público: as pessoas riam muito das nossas músicas e esquetes. O showzinho de segunda-feira começou a encher, logo já tinha fila na porta. Então uns caras famosos começaram a aparecer, tudo no boca a boca, que naquela época não tinha redes sociais.
O sucesso foi tanto que acabamos fazendo uma temporada no Teatro Ipanema, sempre com casa cheia. Dali fomos para o Canecão, que era a maior e mais importante casa de shows do Rio. Foi foda, um showzinho completamente sem pretensões acabou gerando um show na maior casa de shows do Rio. E mais ainda: acabou gerando um LP pela Warner, o Preto com um buraco no meio.
Tudo isso graças ao Paulinho Albuquerque, outro cara superimportante em nossa carreira, que acreditou mais na gente do que nós mesmos.

MEMÓRIAS – A REVISTA

A revista Casseta Popular teve 53 números lançados, de 1986 a 1992. Passamos por várias editoras. Começamos na Núcleo-3, a mesma editora do Planeta, mas só ficamos 3 números por lá. Logo conhecemos um cara que foi muito importante para a revista, o Toninho Mendes. A sua editora, a Circo Editorial, que ficava em São Paulo, já tinha um papel de destaque na área do humor e dos quadrinhos. A Circo publicava o Laerte, o Angeli e o Glauco, com suas revistas incríveis como a Piratas de Tietê, a Chiclete com Banana e outras. O Toninho topou nos publicar e a partir do número 4, nós passamos a ser mais uma das revistas da Circo. O Toninho sabia tudo de revistas e a revista tomou ares de coisa profissional. A partir do número 6, o Roni Bala disse que queria se dedicar ao trabalho dele e saiu da revista. A redação passou a ser eu, Helio, Claudio, Bussunda e Madureira.
Nesse processo de profissionalização que aconteceu com a troca de editora, a revista agora tinha um jornalista responsável, o Emanoel Jacobina. Ele também era o nosso gerente, tomava conta da parada toda. Logo, o Emanoel passou a fazer parte da redação com o nome de Mané Jacó. Alugamos uma sede que ficava no Centro da cidade, na Cinelândia, na rua 13 de maio. Era lá que nos encontrávamos para escrever a revista. As reuniões eram quase sempre nos finais de tarde, já que alguns de trabalhavam. Normalmente nós, os que trabalhavam, éramos os primeiros a chegar, já que a galera que vinha da praia quase sempre atrasava. Sabe como é, Ipanema fica longe da Cinelândia.
Não ficamos muito tempo no Centro. Logo fomos para a praça Onze num prédio que era alugado pelo pai do Claudio Manoel. A nossa nova sede era grandinha, um andar inteiro, mas tinha pouquíssimos móveis. A sede da Praça Onze virou sinônimo da revista para mim. Ali aconteceu bastante coisa. A revista estava vendendo bem e começamos a produzir as camisetas para vender. As primeiras três foram “Vá ao teatro… mas não me chame”, “Liberdade ainda que a tardinha” e “Casseta Popular… Eu leio e entendo”. Logo bolamos outras camisetas e a campeã de vendas sempre foi a que trazia a frase “Ê povinho bunda” no lugar do Ordem e Progresso, numa bandeira brasileira estilizada.
A Circo publicou 7 números da revista, inclusive um número que teve que mudar de capa. Colocamos um Jesus Cristo gay na capa e mandamos os originais para São Paulo. O Toninho nos ligou, disse que ele tinha achado a capa do caralho, mas os jornaleiros estavam se recusando a vender a revista. Propôs que mudássemos a capa. Topamos e mandamos uma capa em que um menino passava a mão na bunda do papa. Aparentemente não há problema em passar a mão na bunda do Sumo Pontífice e a revista foi distribuída normalmente.
A nossa experiência com a Circo Editorial foi muito legal, o Toninho Mendes nos ensinou muita coisa, mas partir da revista número 11, saímos da Circo e passamos a produzir nós mesmos a revista, pela nossa editora, a Toviassu Produções Artísticas.

MEMÓRIAS – O ALMANAQUE DA CASSETA POPULAR

O jornalzinho que chamamos de Casseta Popular e que lançamos na Faculdade de Engenharia era bem tosco, mas vendeu direitinho. Assim, eu, Helio e Marcelo resolvemos que valia a pena dar uma melhorada na qualidade do produto. O segundo número não foi rodado no mimeógrafo a álcool da mãe do Helio, mas num mimeógrafo mais parrudo. Eram quatro ou cinco folhas impressas e grampeadas. Ainda bem vagabundo, mas um pouco melhor. A gente vendia de mão em mão e aproveitava a desculpa de estar vendendo um jornalzinho de humor para ir até a Faculdade de Arquitetura , onde o público feminino era maior. Não me lembro se vendemos muitos exemplares para as arquitetas, acho que não, mas a ida até lá era uma aventura interessante. O segundo número vendeu bem também, o jornal era diferente, brincava com as questões da universidade, do movimento estudantil que voltava com muito intensidade naquele momento em que a ditadura estava em seus estertores.

Ainda fizemos mais dois números mimeografados e então partimos para o formato tabloide. Agora a Casseta Popular já podia ser chamada de jornal de verdade. Continuamos vendendo mambembamente, de mão em mão e usando o jornal como ingresso para lugares maneiros ou convites para conversar com pessoas legais. E para fazer o tabloide, que exigia mais material, concluímos que precisávamos chamar mais gente. E chamamos o Claudio Manoel, o Bussunda e o Roni Bala para escrever com a gente.
O Claudio e o Bussunda tinham estudado com o Marcelo no Aplicação. Claudio era da mesma sala do Marcelo, o Bussunda era mais novo, mas já era uma figura. Os dois e mais o Roni tinham frequentado junto com o Marcelo a mesma colônia de férias, a Kinderland. O Marcelo nos apresentou aos três. Logo eu e Helio ficamos amigos deles. Quando pensamos em chamar mais gente, a escolha foi muito fácil, Bussunda, Claudio e Roni já eram nossos amigos, já éramos uma turma. Eles entraram para a redação como se fossem antigos, ficaram a vontade e a redação naturalmente passou a ser nós seis.
Lançamos três números no formato tabloide e chegamos a conclusão que tínhamos que fazer uma revista. Por quê? Não lembro bem, mas talvez o fato de o Planeta Diário já existir e ser no formato tabloide, nos fez pensar em fazer algo diferente. Nós colaborávamos com Planeta Diário desde o primeiro número e batemos um papo com eles, que nos apresentaram para o Jardel, dono da editora Núcleo-3 , que editava o jornal. O Jardel foi muito gente boa, ou muito maluco, e topou publicar a revista.
O primeiro número da revista Almanaque da Casseta popular saiu em 1986, custava 12 cruzados (acho que era essa a moeda) e tinha quarenta e oito páginas. Na capa a foto de um peru (animal) de gravata borboleta. Era apresentada pelo Planeta Diário e trazia a frase: A imprensa marrom agora em quatro cores.
Algumas das chamadas de capa:
Medicina: a cura da psicanálise.
Impotência: como entrar dobrado.
Sexo e asa delta: Pepê pousa no Pepino.
Nenhuma dessas matérias existia no corpo da revista.
A partir daí, a revista deveria ser mensal, mas a gente sempre atrasava, então dizia que a periodicidade não era mensal, mas menstrual, porque as vezes não vinha.
Esse foi o início de verdade da Casseta Popular.

MEMÓRIAS – ENTRE A ATLÉTICA E O CENTRO ACADÊMICO

Eu estudei na UFRJ, na ilha do Fundão, que era longe pra cacete. E era difícil de chegar, não tinha ônibus. Na verdade, até tinha, mas eram poucos os que entravam na Ilha do Fundão e que portanto estavam sempre lotados. O jeito era saltar na avenida Brasil e pegar uma carona, o que era comum. Ou então ir de carro. Eu tinha um fusca e logo conheci alguns outros alunos que moravam perto de mim. A gente revezava a carona, cada dia ia no carro de um. Mas esses caras eram meus amigos de carona. Os caras que eu conversava mesmo, que encontrava entre as aulas, que almoçava junto, e que logo comecei a encontrar fora da faculdade foram outros: o Hélio e o Marcelo. O Hélio era da minha sala , a turma C, o único negro da turma. Não me lembro quando nós começamos a conversar, mas foi logo no início. O Marcelo passou para o turno da tarde, eram 3 turmas de manhã e 3 a tarde. Não sei que artimanhas o Marcelo armou, mas acabou indo para a turma C.
Fora das salas de aula havia uma divisão clara na Engenharia entre a Atlética e o Centro Acadêmico. A Atlética era onde se jogava totó e sinuca, modalidades nem um pouco atléticas, mas que faziam bem mais sucesso do que as aulas de cálculo diferencial e integral. A galera vivia ali, muita gente virou craque em totó, alguns nem saiam dali. Mas eu, Hélio e Marcelo não éramos frequentadores da Atlética, a nossa parada era o movimento estudantil.
Naquele ano 1978, o movimento estudantil estava retornando a ativa. Ainda estávamos no governo Figueiredo, mas o general não queria mais porra nenhuma, só queria tratar de seus cavalos. O Centro Acadêmico de Engenharia foi reaberto no ano anterior e estava a pleno vapor. É claro que a galera do CA veio receber os calouros, e tratar de chamar quem quisesse participar do movimento estudantil para o seu lado. E nós 3 queríamos! Ingênuo, eu não sabia muito bem o que estava por trás daquela turma gente boa do centro acadêmico, não sabia que a Engenharia estava dividida entre o Partidão e o MR-8, que eram essas duas facções que militavam por ali e que estavam brigando entre si pela gente. A galera do Partidão estava a frente do CA, era mais gente boa e acabou nos ganhando. Eu, Hélio e Marcelo logo passamos a fazer parte dessa turma.
O Marcelo já tinha feito movimento estudantil no Aplicação e conhecia um pouco desse ambiente. Acho que o Helio andou vendo alguma coisa com amigos do São Bento, mas eu era um neófito completo, não sabia de nada e estava achando muito legal participar daquele movimento, escutar aquelas discussões. Logo passamos a entender tudo sobre política, a apoiar a frente democrática do partidão contra a frente popular do MR-8, éramos parte do que o pessoal do partido chamava de círculo. E 1978 prometia: era o momento de reabrir o DCE e a política estudantil assim saia do âmbito da Escola de Engenharia para a universidade inteira. Acompanhamos os nossos companheiros do CA em várias outras faculdades, na Praia Vermelha onde ficava a Economia e a Comunicação, no IFCS onde ficava a turma de humanas, na Medicina onde conhecemos os caras que são nossos médicos até hoje, e na Arquitetura, onde ficava o sonho da namorada linda própria.
Não sei em que momento, entre as aulas de cálculo e física, o centro acadêmico e a campanha pelo DCE que nós 3 encontramos tempo para decidir escrever um jornalzinho. A ideia era fazer um jornal de humor que brincasse com tudo aquilo que estávamos presenciando na universidade: o movimento estudantil, a vida de calouro, as aulas de engenharia, por aí. O humor foi uma coisa que nos uniu desde as primeiras conversas. Nós três éramos fãs do Monty Phyton, leitores do Pasquim, gostávamos de tudo de humor, desde Woody Allen até Costinha. A ideia de fazer um jornalzinho veio daí. Escrevemos o primeiro exemplar que tinha um mote político: Por mais mulheres na engenharia! O jornal foi feito da maneira mais tosca possível, rodado num mimeografo a álcool que a mãe do Helio, que era professora, tinha em casa para rodar provas. Se você não sabe o que é um mimeografo a álcool, procura no Google. O que eu posso dizer é que a impressão sai na cor roxa. E borrada. O resultado é bem tosco. Então juntamos uns 100 exemplares, nem sei se foi tudo isso, daqueles jornais que eram umas 4 folhas grampeadas , impressas em tinta roxa e borrada e saímos vendendo de mão em mão. O nome do jornal , depois de muita discussão acabou sendo Casseta Popular, uma brincadeira com Gazeta, nome de muitos jornais. Não me lembro de quem foi a ideia, mas acho que foi do Marcelo. O jornalzinho, mesmo tosco, foi um sucesso. Se é que vender 50 a 60 exemplares pode ser considerado sucesso.

MEMÓRIAS – O ASCENSORISTA DA PUC

1977 foi o ano do meu vestibular. Naquela época era assim que se chamava o ENEM. No vestibular a gente tinha que escolher as opções de faculdade antes de fazer a prova. Eu passei o ano todo na dúvida, entre economia e engenharia, na verdade eu dizia que estava na dúvida, mas a pressão lá em casa para fazer engenharia era enorme, sabe como é, naquele tempo essa ideia de que economista ficava rico ainda não existia, aliás, acho que nem o mercado financeiro existia ainda. Então, me inscrevi para engenharia.

Então veio a outra questão: As duas melhores faculdades de engenharia eram a UFRJ e a PUC. A UFRJ participava do Cesgranrio, o vestibular unificado e a PUC havia saído do Cesgranrio naquele ano e a prova seria separada. Fiz as duas provas e, bom aluno que era, passei nas duas. Então tinha que decidir: PUC ou UFRJ.
Para impressionar os calouros e conseguir os melhores alunos, a PUC realizou uma visita as suas instalações. Mostravam como a universidade era organizada, com instalações maneiras e principalmente, como era bem equipada. O ponto alto da visita era o acelerador de partículas. Nem eu, nem os outros calouros, sabíamos para que servia um acelerador de partículas, mas que era um troço que impressionava, era. Principalmente para um bando de nerds como os que me acompanhavam naquela visita. Vimos o tal acelerador de partículas que ajudou bastante a acelerar a minha decisão de ir para a PUC, então nos disseram que o próximo passo era visitar as salas de aula. E foi aí que os professores da PUC erraram. Se a visita tivesse terminado no maravilhoso acelerador de partículas, talvez eu tivesse optado pela PUC (o acelerador de partículas nem era um equipamento tão impressionante assim, mas aquele nome pomposo era um marketing avassalador)
Então fomos pegar o elevador para visitar as salas e foi aí que um personagem fundamental apareceu: o ascensorista. Para quem não sabe, ascensorista era uma espécie de piloto de elevador, profissão que acho que nem existe mais.
Éramos uns 4 ou 5 nerds aguardando o elevador. Então a porta abriu, nós entramos e o ascensorista falou:
– Ih, lá vem o pessoal dos 4 mil por mês!
A frase do ascensorista me calou fundo. Não seria eu que pagaria 4 mil cruzeiros (a moeda da época) por mês, seria o meu pai. E se eu já estava chateado por depender do meu pai para tudo, então não era uma boa continuar dependendo do velho para pagar a minha faculdade. E a UFRJ era gratuita. Então a visita que era para me convencer a estudar na PUC, me convenceu a ir para a UFRJ.
Naquela mesmo dia, comentei com um amigo sobre o assunto e ele deu a cartada final:
– Acho que a UFRJ também tem um acelerador de partículas.
Decidi me matricular na UFRJ.
Não fosse o ascensorista e eu talvez tivesse estudado na PUC. Assim, não conheceria o Helio e o Marcelo, nunca teria feito uma revista chamada Casseta Popular e o Casseta & Planeta talvez não existisse.

MEUS PERSONAGENS

Adoro essa foto. Achei que tinha perdido, mas a encontrei outro dia no meu computador.
Durante os mais de 20 anos que fizemos o Casseta & Planeta, eu fiquei uma boa parte do tempo sentado numa cadeira de maquiagem. E todas as vezes que as nossas maravilhosas maquiadoras acabavam uma caracterização, elas tiravam uma foto. Um dia, a Nelma, nossa maquiadora chefe por vários anos, me deu de presente essa montagem de fotos com vários personagens que fiz. Eu fiquei surpreso, não esperava que fossem tantos. E sei que ainda faltam muitos. Lá no meio dá para ver Acarajette Lovve, o Peludão da sauna gay, a rainha Elizabeth e Deus. A maior parte eu não lembro e não tenho a menor ideia de quem são.