NO DESFILE DE 7 DE SETEMBRO

Aos 18 anos entrei para a universidade. Adorei aquele ambiente acadêmico e naquele tempo, 1978, em plena ditadura militar, tive contato com o movimento estudantil. Comecei a frequentar o Centro Acadêmico e a participar da luta contra a ditadura, mas no final do ano fui obrigado a me alistar no exército. Não queria servir de jeito nenhum, afinal eu era contra o governo militar, não podia entrar justamente para o exército. Mas sabe quando você vai dando todos os passos errados? Podia ter arrumado um atestado médico falso, muita gente tentava isso. “Se eles desconfiarem que é falso pode ser pior”, me disseram. Passei no exame médico. Podia ter me alistado normalmente, mas seguindo conselhos vindos nem sei de onde, me alistei no CPOR. “Lá é mais fácil de sair”, disseram. Mas justamente naquele ano os caras resolveram “aumentar o nível da tropa” no CPOR e pegar gente que estava na faculdade. E ali estava eu, o público alvo ideal. Fui passando por todas as fases sem conseguir me livrar, até que eu finalmente consegui um pistolão. Era um capitão do CPOR. Então, na última etapa da seleção, quando eu já estava esperando há horas para saber se ia ou não servir o exército, o meu pistolão, o tal capitão, mandou me chamar. Eu fui lá , crente que o cara ia me liberar mas ele falou:
– Olha, eu tenho duas pessoas pra tirar daqui. Você e mais um. Mas eu só vou conseguir livrar um. O problema é que o outro é meu sobrinho.
E assim eu dancei.
De repente , eu, o jovem que havia entrado na universidade, se encantado com o movimento estudantil, vestiu um uniforme verde-oliva e foi aprender a ser soldado em plena ditadura militar. Ralei bastante no início, e aguentei calado vários oficiais fazendo discursos contra os subversivos que atacavam o governo da Revolução de 64, achando sempre que eles estavam falando comigo. De vez em quando, eu tomava coragem e, diante de um discurso direitista qualquer, sussurrava para algum recruta amigo que estivesse ao meu lado “Abaixo a ditadura!”. Nunca ninguém falou nada, provavelmente porque eu falava tão baixinho que ninguém nem escutava.
Até que chegou o sete de setembro. E eu descobri que íamos desfilar na Avenida presidente Vargas. Justo eu, que lutava contra a ditadura, desfilando para enaltecer o governo militar? Fiquei mal, morri de vergonha. Não contei para nenhum amigo, principalmente a galera do movimento estudantil. Mas para os meus pais eu não tive como esconder. Minha mãe se animou e foi assistir ao desfile.
Depois, já em casa, eu perguntei para ela:
– Você me viu?
– Era todo mundo igualzinho, mas eu consegui te ver.
– E aí , o que achou?
– Você estava lindo, meu filho. E era o único que estava marchando no passo certo!

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