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MEMÓRIAS – A CAMPANHA DO MACACO TIÃO

Em 1988 viramos redatores da TV Pirata em tempo integral. Talvez as pessoas tenham estranhado o programa no início, ele era diferente dos programas de humor anteriores. Nunca um programa de humor havia prescindido da claque, aquelas risadas depois da piada. E não havia um astro central, mas uma trupe que se revezava nos esquetes. Por suas inovações, havia um risco de o TV Pirata não ser aceito pelo público, mas não foi o que aconteceu. Ele segurou bem o IBOPE, a medida de todas as coisas na Tv aberta.
O ano de 1988 foi, portanto, um ano em que muita coisa mudou. Além de sair da vida de engenheiro para virar redator na Tv Globo, ainda fizemos um show que foi sucesso e a revista se solidificou, vendendo bastante. E no segundo semestre, mais um evento: a campanha do Macaco Tião.
Tudo começou quando o Jardim Zoológico do Rio resolveu criar uma campanha para melhorar as finanças. Ofereceu o patrocínio dos animais às empresas. Assim a Shell logo “adotou” o tigre, que era símbolo da empresa, o Mate Leão fez o mesmo com o leão, e outras mais. Mas o animal que mais fazia sucesso no Zoo era o Macaco Tião, um chimpanzé que interagia com as pessoas, que jogava bosta nas autoridades e que diziam que era louco por mulheres louras. Nós da Casseta resolvemos fazer uma jogada de marketing e gastar uma grana adotando o Tião. Era o patrocínio mais caro do Zoo, mas nós encaramos. Assim o macaco passou a ter uma placa com o logo da revista em sua jaula.
E então vieram as eleições para a prefeitura do Rio. Os candidatos não empolgavam ninguém e nós resolvemos lançar o Macaco Tião como candidato. Começamos a campanha na revista, era uma piada, é claro. Mas quando a piada é boa , ela pega e a “candidatura” do Tião começou a ficar falada.
Fomos ao Zoológico para lançar a candidatura do Macaco. Vários jornais foram cobrir o evento, que foi um sucesso. O macaco Tião parecia saber que era candidato, posava para fotos e em um determinado instante o Bussunda foi até um canto da jaula e o Tião se aproximou dele. Os dois pareciam até que trocavam algumas ideias. Bussunda então se declarou porta-voz do candidato e falou sobre as suas ideias. Os jornalistas anotaram tudo direitinho.
A campanha do Tião atingiu o seu ápice num show que promovemos para o candidato no Circo Voador. Vários artistas foram convidados, além de nós do Casseta & Planeta, que cantaríamos alguns das músicas do nosso show. O Circo Voador lotou naquela noite. Então, no meio do show um problema: Lobão, que seria a principal atração, ligou e disse que não ia. Tensão nos bastidores. Como é que íamos dizer para a multidão que a principal atração não iria? Então, alguém da produção descobriu que o Ultraje a Rigor estava na cidade. Conseguiram ligar para eles, que toparam participar do show. O show do Ultraje fechou o showmício que foi um sucesso.

Dizem que o Macaco Tião teve 400 mil votos naquela eleição, resultado que nunca foi comprovado porque o nome dele não estava na cédula. Mas como a votação ainda era em papel, muita gente escreveu Macaco Tião no seu voto. E não só no Rio de Janeiro. Com essa votação ele teria ficado em 3o lugar naquela eleição, ou seja, era a Terceira Via muitos anos antes. Dizem também, que o Macaco Tião entrou para o Guiness como o chipanzé mais votado na História.

MEMÓRIAS: ESCREVENDO PARA O TV PIRATA

Começamos a escrever para o TV Pirata animados. Eu, Helio, Bussunda e Claudio formávamos um grupo de redatores. A nossa cota de textos semanais para mandar não era fixa, mas como éramos um grupo, mandávamos muitos roteiros. E um percentual bem alto do que a gente enviava para a redação final acabava entrando no programa. O Madureira escrevia com o Reinaldo e o Hubert.
Naquele tempo, idade das trevas da informática, ainda escrevíamos a mão, num bloco pautado. Então dávamos o texto pronto para uma secretária que trabalhava para a gente e ela datilografava. Tanto as máquinas de escrever como o verbo datilografar não são mais usados. Na redação final, o Claudio Paiva fazia um cut-paste mezozóico, que era cortar com tesoura o pedaço do texto a se utilizar e colar num papel, junto com as modificações que ele queria fazer no texto. O texto final normalmente era uma enorme tripa de papéis colados, que era novamente datilografado e enviado para a produção. Não lembro quando começamos a escrever em computador, imprimir os textos e mandar pela Internet.
Escrevemos vários quadros que fizeram sucesso, como TV Macho, As Presidiárias, muitas paródias de propagandas, Piada em debate (que era um quadro do nosso show que adaptamos para o programa). Me lembro que um dia, logo no início, o Claudio Paiva nos ligou e pediu para escrevermos quadros com personagens femininos, porque as atrizes estavam com menos papéis que os atores. Fomos para a nossa reunião com essa encomenda. Começamos a pensar em algum quadro, repetindo na cabeça o mantra: “precisamos de papéis femininos, precisamos de papéis femininos…”. Resultado: Saiu o quadro TV Macho, que era um quadro que sacaneava os machos, mas não tinha muitos papéis femininos. Não foi de sacanagem, mas acabou rolando. Como o quadro era bem engraçado, nós mandamos e fomos bastante sacaneados pelo Claudio Paiva. Mas pelo menos criamos um quadro que fez bastante sucesso. E para nossa defesa, havia um papel feminino que a Regina Casé fez, que ficou muito legal. Era uma torcedora do Botafogo, presidente da torcida Violência alvi-negra. Muito engraçado!
Depois nos redimimos e criamos um quadro para as atrizes: As presidiárias. Nesse quadro a Claudia Raia fazia uma presidiária lésbica, papel que ela adorou, pois só fazia mulheres lindas e maravilhosas. Ela adorou a personagem. Também fez muito sucesso. A novela “Fogo no rabo” (“Barbosaaaa”) era da galera do Planeta.
Escrevemos os primeiros textos do TV Pirata na nossa sede na Praça Onze. Agora ninguém mais vinha da praia, todo mundo chegava lá cedo para trabalhar. Tinhamos que fazer a nossa cota semanal para o TV Pirata e ainda escrever a revista Casseta Popular, que continuava sendo lançada todos os meses nas bancas de jornal.
Algum tempo depois, acho que no segundo ano de TV Pirata, alugamos uma sala na zona sul, em Botafogo, onde montamos a nossa redação. A sede da revista e das camisetas ainda continuou na Praça Onze.

MEMÓRIAS – O INÍCIO DA TV PIRATA

Em 1987, eu , Bussunda e Claudio Manoel fomos morar juntos. Nosso apartamento era na rua Von Martius, em frente a sede da TV Globo, mas isso era só um acaso, nem cogitávamos em trabalhar lá. No entanto, em dezembro daquele ano, numa quarta-feira, eu estava em casa me preparando para ir jogar a nossa sagrada pelada, quando o telefone tocou. Era o Claudio Paiva, do Planeta Diário. Ele estava trabalhando na Globo e nos chamou para sermos redatores de um novo programa de humor que assumiria a vaga do programa do Jô Soares, que tinha ido para o SBT. Seria um programa de esquetes todo escrito por uma galera nova. Os atores e atrizes seriam também uma turma nova, que não tinha muita experiência de TV. O programa ia se chamar Tv Pirata.
Animado, parti para a pelada para falar com Claudio, Helio e Bussunda, sabia que eles já estariam lá. Assim que cheguei, contei a novidade. Não me lembro da comemoração, nem pelo convite nem pelos gols que fiz naquele dia.
O Marcelo também foi chamado, mas ele escreveria com o pessoal do Planeta Diário, Hubert e Reinaldo, que também foram convidados para a redação do TV Pirata. Além de nós, do “jornalismo alternativo”, também estavam na redação uma galera que andava bombando no teatro: Pedro Cardoso, Mauro Rasi, Vicente Pereira, Falabela, Patrícia Travassos e outros. Uma redação da pesada.
Eu e Helio trabalhávamos como engenheiros e eu me lembro de falar para Claudio e Bussunda que o salário da Globo deveria compensar a minha saída da Price Waterhouse, senão ia ficar complicado para mim. Claudio e Bussunda foram lá na Globo negociar o contrato. Sentaram em frente ao produtor, que foi logo dizendo que não tinha muita conversa, que o salário era X e que ele não ia negociar. O X já era o valor que eu tinha dito que seria ok para mim, os dois já iam topar, mas demoraram um pouco para responder e o produtor falou: Tá bom, então Y e não se fala mais nisso. Claudio e Bussunda ainda fingiram que não estavam satisfeitos, mas acabaram topando. Na saída da Globo os dois comemoraram muito, o salário era muito mais do que eles imaginaram que seria.
O Helio saiu imediatamente da empresa em que trabalhava. Eu ainda demorei uns dois meses, queria ter certeza de que o meu novo trabalho ia dar certo. Na estreia da TV Pirata eu ainda trabalhava na Price.
Entre vários quadros nossos que entraram no primeiro episódio do TV Pirata, me lembro de uma ideia minha, que me deixou bem orgulhoso. Era um quadro curtinho, algo mais ou menos assim:
Imagens de filme de terror.
Locução – Depois de sexta-feira 13, vem aí…
Imagem de pessoas na praia num dia de sol.
Locução- Sábado, 14. Muito sol, praias e alegria.
Poucos colegas da Price sabiam que eu era redator daquele novo programa, só os mais chegados. Mas o segredo não durou nem uma semana. Logo todo mundo na empresa já sabia daquela minha “vida dupla”. Quando eu falei para o meu patrão que sairia da empresa para ser redator de humor na TV Globo, ele não entendeu nada, ficou perplexo.
Minha nova vida como redator de TV em tempo integral começava ali.

MEMÓRIAS – O ALMANAQUE DA CASSETA POPULAR

O jornalzinho que chamamos de Casseta Popular e que lançamos na Faculdade de Engenharia era bem tosco, mas vendeu direitinho. Assim, eu, Helio e Marcelo resolvemos que valia a pena dar uma melhorada na qualidade do produto. O segundo número não foi rodado no mimeógrafo a álcool da mãe do Helio, mas num mimeógrafo mais parrudo. Eram quatro ou cinco folhas impressas e grampeadas. Ainda bem vagabundo, mas um pouco melhor. A gente vendia de mão em mão e aproveitava a desculpa de estar vendendo um jornalzinho de humor para ir até a Faculdade de Arquitetura , onde o público feminino era maior. Não me lembro se vendemos muitos exemplares para as arquitetas, acho que não, mas a ida até lá era uma aventura interessante. O segundo número vendeu bem também, o jornal era diferente, brincava com as questões da universidade, do movimento estudantil que voltava com muito intensidade naquele momento em que a ditadura estava em seus estertores.

Ainda fizemos mais dois números mimeografados e então partimos para o formato tabloide. Agora a Casseta Popular já podia ser chamada de jornal de verdade. Continuamos vendendo mambembamente, de mão em mão e usando o jornal como ingresso para lugares maneiros ou convites para conversar com pessoas legais. E para fazer o tabloide, que exigia mais material, concluímos que precisávamos chamar mais gente. E chamamos o Claudio Manoel, o Bussunda e o Roni Bala para escrever com a gente.
O Claudio e o Bussunda tinham estudado com o Marcelo no Aplicação. Claudio era da mesma sala do Marcelo, o Bussunda era mais novo, mas já era uma figura. Os dois e mais o Roni tinham frequentado junto com o Marcelo a mesma colônia de férias, a Kinderland. O Marcelo nos apresentou aos três. Logo eu e Helio ficamos amigos deles. Quando pensamos em chamar mais gente, a escolha foi muito fácil, Bussunda, Claudio e Roni já eram nossos amigos, já éramos uma turma. Eles entraram para a redação como se fossem antigos, ficaram a vontade e a redação naturalmente passou a ser nós seis.
Lançamos três números no formato tabloide e chegamos a conclusão que tínhamos que fazer uma revista. Por quê? Não lembro bem, mas talvez o fato de o Planeta Diário já existir e ser no formato tabloide, nos fez pensar em fazer algo diferente. Nós colaborávamos com Planeta Diário desde o primeiro número e batemos um papo com eles, que nos apresentaram para o Jardel, dono da editora Núcleo-3 , que editava o jornal. O Jardel foi muito gente boa, ou muito maluco, e topou publicar a revista.
O primeiro número da revista Almanaque da Casseta popular saiu em 1986, custava 12 cruzados (acho que era essa a moeda) e tinha quarenta e oito páginas. Na capa a foto de um peru (animal) de gravata borboleta. Era apresentada pelo Planeta Diário e trazia a frase: A imprensa marrom agora em quatro cores.
Algumas das chamadas de capa:
Medicina: a cura da psicanálise.
Impotência: como entrar dobrado.
Sexo e asa delta: Pepê pousa no Pepino.
Nenhuma dessas matérias existia no corpo da revista.
A partir daí, a revista deveria ser mensal, mas a gente sempre atrasava, então dizia que a periodicidade não era mensal, mas menstrual, porque as vezes não vinha.
Esse foi o início de verdade da Casseta Popular.

MEMÓRIAS – ENTRE A ATLÉTICA E O CENTRO ACADÊMICO

Eu estudei na UFRJ, na ilha do Fundão, que era longe pra cacete. E era difícil de chegar, não tinha ônibus. Na verdade, até tinha, mas eram poucos os que entravam na Ilha do Fundão e que portanto estavam sempre lotados. O jeito era saltar na avenida Brasil e pegar uma carona, o que era comum. Ou então ir de carro. Eu tinha um fusca e logo conheci alguns outros alunos que moravam perto de mim. A gente revezava a carona, cada dia ia no carro de um. Mas esses caras eram meus amigos de carona. Os caras que eu conversava mesmo, que encontrava entre as aulas, que almoçava junto, e que logo comecei a encontrar fora da faculdade foram outros: o Hélio e o Marcelo. O Hélio era da minha sala , a turma C, o único negro da turma. Não me lembro quando nós começamos a conversar, mas foi logo no início. O Marcelo passou para o turno da tarde, eram 3 turmas de manhã e 3 a tarde. Não sei que artimanhas o Marcelo armou, mas acabou indo para a turma C.
Fora das salas de aula havia uma divisão clara na Engenharia entre a Atlética e o Centro Acadêmico. A Atlética era onde se jogava totó e sinuca, modalidades nem um pouco atléticas, mas que faziam bem mais sucesso do que as aulas de cálculo diferencial e integral. A galera vivia ali, muita gente virou craque em totó, alguns nem saiam dali. Mas eu, Hélio e Marcelo não éramos frequentadores da Atlética, a nossa parada era o movimento estudantil.
Naquele ano 1978, o movimento estudantil estava retornando a ativa. Ainda estávamos no governo Figueiredo, mas o general não queria mais porra nenhuma, só queria tratar de seus cavalos. O Centro Acadêmico de Engenharia foi reaberto no ano anterior e estava a pleno vapor. É claro que a galera do CA veio receber os calouros, e tratar de chamar quem quisesse participar do movimento estudantil para o seu lado. E nós 3 queríamos! Ingênuo, eu não sabia muito bem o que estava por trás daquela turma gente boa do centro acadêmico, não sabia que a Engenharia estava dividida entre o Partidão e o MR-8, que eram essas duas facções que militavam por ali e que estavam brigando entre si pela gente. A galera do Partidão estava a frente do CA, era mais gente boa e acabou nos ganhando. Eu, Hélio e Marcelo logo passamos a fazer parte dessa turma.
O Marcelo já tinha feito movimento estudantil no Aplicação e conhecia um pouco desse ambiente. Acho que o Helio andou vendo alguma coisa com amigos do São Bento, mas eu era um neófito completo, não sabia de nada e estava achando muito legal participar daquele movimento, escutar aquelas discussões. Logo passamos a entender tudo sobre política, a apoiar a frente democrática do partidão contra a frente popular do MR-8, éramos parte do que o pessoal do partido chamava de círculo. E 1978 prometia: era o momento de reabrir o DCE e a política estudantil assim saia do âmbito da Escola de Engenharia para a universidade inteira. Acompanhamos os nossos companheiros do CA em várias outras faculdades, na Praia Vermelha onde ficava a Economia e a Comunicação, no IFCS onde ficava a turma de humanas, na Medicina onde conhecemos os caras que são nossos médicos até hoje, e na Arquitetura, onde ficava o sonho da namorada linda própria.
Não sei em que momento, entre as aulas de cálculo e física, o centro acadêmico e a campanha pelo DCE que nós 3 encontramos tempo para decidir escrever um jornalzinho. A ideia era fazer um jornal de humor que brincasse com tudo aquilo que estávamos presenciando na universidade: o movimento estudantil, a vida de calouro, as aulas de engenharia, por aí. O humor foi uma coisa que nos uniu desde as primeiras conversas. Nós três éramos fãs do Monty Phyton, leitores do Pasquim, gostávamos de tudo de humor, desde Woody Allen até Costinha. A ideia de fazer um jornalzinho veio daí. Escrevemos o primeiro exemplar que tinha um mote político: Por mais mulheres na engenharia! O jornal foi feito da maneira mais tosca possível, rodado num mimeografo a álcool que a mãe do Helio, que era professora, tinha em casa para rodar provas. Se você não sabe o que é um mimeografo a álcool, procura no Google. O que eu posso dizer é que a impressão sai na cor roxa. E borrada. O resultado é bem tosco. Então juntamos uns 100 exemplares, nem sei se foi tudo isso, daqueles jornais que eram umas 4 folhas grampeadas , impressas em tinta roxa e borrada e saímos vendendo de mão em mão. O nome do jornal , depois de muita discussão acabou sendo Casseta Popular, uma brincadeira com Gazeta, nome de muitos jornais. Não me lembro de quem foi a ideia, mas acho que foi do Marcelo. O jornalzinho, mesmo tosco, foi um sucesso. Se é que vender 50 a 60 exemplares pode ser considerado sucesso.

MEMÓRIAS – O ASCENSORISTA DA PUC

1977 foi o ano do meu vestibular. Naquela época era assim que se chamava o ENEM. No vestibular a gente tinha que escolher as opções de faculdade antes de fazer a prova. Eu passei o ano todo na dúvida, entre economia e engenharia, na verdade eu dizia que estava na dúvida, mas a pressão lá em casa para fazer engenharia era enorme, sabe como é, naquele tempo essa ideia de que economista ficava rico ainda não existia, aliás, acho que nem o mercado financeiro existia ainda. Então, me inscrevi para engenharia.

Então veio a outra questão: As duas melhores faculdades de engenharia eram a UFRJ e a PUC. A UFRJ participava do Cesgranrio, o vestibular unificado e a PUC havia saído do Cesgranrio naquele ano e a prova seria separada. Fiz as duas provas e, bom aluno que era, passei nas duas. Então tinha que decidir: PUC ou UFRJ.
Para impressionar os calouros e conseguir os melhores alunos, a PUC realizou uma visita as suas instalações. Mostravam como a universidade era organizada, com instalações maneiras e principalmente, como era bem equipada. O ponto alto da visita era o acelerador de partículas. Nem eu, nem os outros calouros, sabíamos para que servia um acelerador de partículas, mas que era um troço que impressionava, era. Principalmente para um bando de nerds como os que me acompanhavam naquela visita. Vimos o tal acelerador de partículas que ajudou bastante a acelerar a minha decisão de ir para a PUC, então nos disseram que o próximo passo era visitar as salas de aula. E foi aí que os professores da PUC erraram. Se a visita tivesse terminado no maravilhoso acelerador de partículas, talvez eu tivesse optado pela PUC (o acelerador de partículas nem era um equipamento tão impressionante assim, mas aquele nome pomposo era um marketing avassalador)
Então fomos pegar o elevador para visitar as salas e foi aí que um personagem fundamental apareceu: o ascensorista. Para quem não sabe, ascensorista era uma espécie de piloto de elevador, profissão que acho que nem existe mais.
Éramos uns 4 ou 5 nerds aguardando o elevador. Então a porta abriu, nós entramos e o ascensorista falou:
– Ih, lá vem o pessoal dos 4 mil por mês!
A frase do ascensorista me calou fundo. Não seria eu que pagaria 4 mil cruzeiros (a moeda da época) por mês, seria o meu pai. E se eu já estava chateado por depender do meu pai para tudo, então não era uma boa continuar dependendo do velho para pagar a minha faculdade. E a UFRJ era gratuita. Então a visita que era para me convencer a estudar na PUC, me convenceu a ir para a UFRJ.
Naquela mesmo dia, comentei com um amigo sobre o assunto e ele deu a cartada final:
– Acho que a UFRJ também tem um acelerador de partículas.
Decidi me matricular na UFRJ.
Não fosse o ascensorista e eu talvez tivesse estudado na PUC. Assim, não conheceria o Helio e o Marcelo, nunca teria feito uma revista chamada Casseta Popular e o Casseta & Planeta talvez não existisse.